Um dos grandes problemas da Câmara de Curitiba sempre foi o imenso corporativismo que liga seus integrantes. Os vereadores quase todos fazem parte da base do prefeito (qualquer prefeito). E internamente são ainda mais unidos: João Cláudio Derosso era uma espécie de líder inconteste e se reelegia presidente sem nem mesmo enfrentar chapa de oposição.
As denúncias que surgiram nos últimos dias já tiveram um efeito positivo: abalar essa estrutura monolítica da Câmara. O que era um imenso grupo unido agora parece ter virado um festival de denúncias mútuas. O grupo de oposição ganhou adesões e ficou mais forte. O grupo de Derosso, por outro lado, parece empenhado em denunciar os que atacam seu líder.
Quem ganha com isso é a cidade. Ao invés de protegerem as irregularidades uns dos outros, os vereadores passaram a servir de fiscais dos seus vizinhos. Renata Bueno e Professora Josete denunciaram Derosso. O PSDB denunciou as duas, e ainda sobrou para o vereador Zé Maria.
As denúncias são sérias? Ainda não há como saber. Mas que sejam investigadas até o fim, assim como se espera que sejam apuradas devidamente as denúncias contra o próprio Derosso. Enquanto eles estiverem vigiando uns aos outros, terão mais medo de fazer algo indevido. Pois se para a população é difícil saber o que se passa lá dentro, para eles é muito mais fácil.
O único risco, porém, é que os vereadores já saibam tanto uns dos outros que decidam que o melhor é encerrar o festival de acusações antes que a barra pese para mais alguém. O risco é que os que não tomaram lado ainda decidam ficar quietinhos e passar debaixo do radar para não ser atacados também.
Afinal, Derosso, com 14 anos de presidente da Câmara, deve saber muita coisa. Será que isso intimida alguém?
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