Sejamos claros: o mundo civilizado funciona de uma certa maneira. Se um policial pega alguém cometendo um crime, por exemplo, a lei exige que leve o cidadão até uma delegacia para que ele responda por isso. O policial simplesmente não tem o direito de quebrar o sujeito a pauladas, muito menos de atirar nele, a não ser em raras exceções. Há décadas os defensores dos direitos humanos vêm se esforçando para que isso se torne realidade. Por um motivo simples: permitir que os policiais batam, torturem e matem é permitir a barbárie.
Eis por que é repulsivo ver um grupo de valentões pegar um policial e bater nele até lhe triturar os ossos. Sob o pretexto de estarem enfrentando a autoridade violenta, estão aderindo à mesma pancadaria que deveria ser combatida. Não contrariam apenas a lei. A lei às vezes está errada e pode ser justo contestá-la. Contrariam princípios básicos de civilização e de humanidade. Em última instância, legitimam a ação da polícia. Estabelecem, junto com os membros mais truculentos da PM, que a conversa é impossível, que o respeito é inviável. Resta a possibilidade de quebrar o outro antes que ele quebre você.
Há uma legião de coniventes com a estupidez do Black Bloc. Indignados com as injustiças do país – e Deus sabe o quanto há de injustiças por essas bandas – passam a aceitar qualquer coisa que pareça contrariar a lógica vigente. Questionados sobre a violência, apelam para argumentos exóticos, como aquele de que se trata meramente de violência simbólica. De que se trata apenas de quebradeira de patrimônio, e que não é o patrimônio que vai nos salvar. O coronel paulista sente até agora, em cada osso, a violência simbólica contra o patrimônio.
A PM é uma instituição violenta e, dizem muitas das autoridades no assunto, desnecessária. Ranço do autoritarismo da ditadura última que vivemos. É claro que é inaceitável ver policiais atirando com balas de borracha em cidadãos que apenas protestam pacificamente. Igualmente indignante é ver pobres nas periferias apanhando e desaparecendo todos os dias. Os crimes são investigados pelos próprios policiais, que vão absolvendo uns aos outros. Enquanto isso, secretários de segurança e governadores, com medo da própria tropa e interessados em parecer duros com a bandidagem, deixam centenas de inocentes padecerem sem que nada seja feito.
A solução para tudo isso, porém, não pode ser a quebradeira generalizada. Estamos em um país democrático, onde é possível eleger representantes, propor leis, discutir todo e qualquer assunto (com a possível exceção da perna de Roberto Carlos). Nada justifica a volta à barbárie como forma de protesto. Continue-se incentivando os que quebram vidros e eles triturarão mais ossos; depois disso, sabe-se lá o que virá. E enquanto isso, pacificamente de seus escritórios haverá intelectuais em cadeiras giratórias, muitas vezes direto de seus gabinetes em universidades públicas, torturando o teclado de seus computadores até que saia de lá alguma argumento em defesa da imbecilidade.
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