O segundo reajuste da energia elétrica no Paraná neste ano faz com que a conta do consumidor residencial tenha subido 51% em um ano. Se você pensar em termos exclusivamente matemáticos ou técnicos, pode fazer todo o sentido. A empresa teve custos aumentados e, se não cobrar mais, terá de operar no prejuízo. Se você lembrar que a Copel tem acionistas, faz mais sentido ainda: dar prejuízo seria um problema para quem investiu na companhia.
Mas a Copel não é uma mera empresa – é uma estatal. E nesse papel deve atuar pensando não apenas no bem da própria companhia e de seus acionistas, mas da população que, em última instância, é sua proprietária. As estatais podem ser, se bem usadas, um poderoso instrumento de política pública. E uma estatal do tamanho da Copel tem capacidade de influenciar significativamente a economia do estado.
Quando se decide que a empresa vai repor os índices de inflação, não é uma decisão simplesmente econômica, é uma decisão política. Mesmo na parte econômica, muitos especialistas divergiriam de que essa é a melhor solução a ser tomada em uma época de crise. Ao cobrar mais, você está tirando dinheiro da economia e fazendo com que os investimentos (que criam empregos, por exemplo) fiquem mais caros. Isso só prolonga o problema econômico.
Mas, além disso, há um problema de “momento” político na decisão da Copel. A empresa pertence, majoritariamente, ao governo do Paraná. O mesmo governo que afirma, neste momento, não ter como conceder 8,17% de reajuste para o funcionalismo paranaense de uma vez só. Chiou, esperneou e provavelmente vai conseguir parcelar o reajuste em suaves prestações – a primeira a ser paga somente em outubro.
O cidadão paranaense não vai ter como fazer a mesma argumentação com o governo. Não vai poder pedir para pagar a conta de luz de julho somente em outubro. Nem vai conseguir zerar a inflação só em janeiro de 2016, como o governo pretende fazer com o funcionalismo. Não vai adiantar alegar que a economia vai mal, que as contas não fecham, que você precisa de compreensão neste momento. É pagar, ou ver a luz cortada.
A decisão é política. E indica que o governo, no ímpeto de ver fechar as suas contas, prefere penalizar o cidadão. É preciso lembrar aqui que o principal beneficiário do lucro da Copel é o próprio governo do estado. Portador de 58% das ações, o Palácio Iguaçu aprovou, no mandato de Beto Richa (PSDB), uma mudança nas regras de distribuição do resultado da empresa. Antes, 25% do lucro iam para os acionistas. Agora, são 50%.
É claro que o governo do estado não tem controle total sobre a economia. Decisões do governo federal pesam. Por exemplo, as decisões que dificultam a transferência de lucro da subsidiária de geração para a subsidiária de distribuição (o que poderia aliviar a conta do consumidor final). Assim como pesa o represamento dos reajustes praticado pelo governo anterior (curiosamente numa época de bonança econômica).
Mas a Copel continua dando lucro e, se quisesse, poderia ter uma política menos agressiva de cobrança do consumidor, em nome de uma melhoria das finanças individuais e das empresas, o que poderia resultar em um melhor desempenho econômico no médio prazo.
No fundo, com esse aumento, você está ajudando o governo a pagar as contas dele. Resta saber quem vai ajudar você a pagar as suas.
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