Oi comadre!
Ando preocupada, amiga Sandra, com uma estranha relação que percebi haver entre os supermercados, os tapetes e o futuro dos nossos pulmões.
Senão, vejamos: algumas empresas, pressionadas pelo governo do estado do Paraná e pelo Ministério Público, anunciaram a troca das tradicionais sacolinhas de plástico por outras, também de plástico, mas proclamadas “biodegradáveis”.
Biodegradável, a gente sabe desde pequenas, é aquilo que se destrói de forma orgânica e se incorpora à natureza sem prejuízo do ecossistema. Ai, comadre, que definição linda essa, da minha própria lavra!
De onde se depreende, então, que as novas sacolinhas não são biodegradáveis coisa nenhuma. Elas não se incorporam ao ambiente natural como matéria orgânica – assim como restos de comida e de plantas, ou carcaças de animais, por exemplo.
O que acontece com elas é que se desmancham em pedacinhos muito pequenos, microscópicos, impossíveis de ver, mas… sob medida para serem aspirados. E é aí que entram os nossos pulmões.
Parece óbvio que não dá para aspirar uma sacola grande de plástico, que a gente acaba usando como saco de lixo ou separa para o lixo que não é lixo. Mas micropartículas de plástico, tenha dó.
Sabe qual é a minha impressão, comadre? As autoridades e algumas empresas desavisadas estão apenas empurrando a sujeira para baixo do tapete – antiquíssima prática destinada a simular limpeza com pouco trabalho.
Consta que grandes redes nacionais recusaram a engazopação do “oxibiodegradável” e buscam outras soluções para reduzir o imenso passivo que, de fato, geram com as sacolinhas plásticas em que embalam as compras dos clientes.
De nossa parte, comadre, podemos iniciar mais uma de nossas campanhas-cidadãs, em prol da volta da sacola de pano, do saco de papel e do carrinho de feira. Rumo às compras ecologicamente corretas!
Bom fim de semana, comadre.
Marisa
Comadre Marisa:
Estou me sentindo a própria velhinha de Taubaté. Sabe quando disseram lá no supermercado que as sacolinhas eram biodegradáveis? Eu… acreditei.
E pelo visto não fui a única, pois elas foram lançadas com pompa e celebradas pelo promotor de Meio Ambiente do Paraná, Saint-Clair Honorato Santos.
As sacolinhas de plástico — e agora, sei, mesmo as tais oxibiodegradáveis — demoram décadas para se decompor na natureza
(alguns tipos de plástico levam até 500 anos para isso). Deixá-las em partículas não resolve o problema. É, como você diz, empurrar a sujeira para debaixo do tapete. Como se não bastasse, elas também não cumprem bem sua função: suportam bem as mercadorias mais leves, mas rasgam com facilidade quando o conteúdo ultrapassa os 2 quilos.
Pesa também contras as sacolas plásticas um argumento estético: elas não têm o apelo dos antigos sacos de papel. Já reparou, comadre, como eles emprestam charme aos consumidores que vemos nos filmes? É que as embalagens de papel pardo são predominantes nos supermercados dos Estados Unidos Unidos e da Europa, as matrizes de nossa indústria
cultural.
Ok, não se pode levar para casa a mesma quantidade de compras. Mas me parece que esse é outro ponto a favor dos charmosos pacotes. O tempo da inflação galopante já passou e há pontos de venda em cada bairro. Para que, então, abarrotar a despensa com artigos que nem sempre serão usados porque acabam perdendo a validade? Não parece mais lógico comprar aos poucos e ter sempre produtos frescos à mão?
Se surgirem argumentos econômicos capazes de afastar a possibilidade de uso dos sacos de papel, que têm a minha preferência, voto com a relatora, ou seja, com a comadre Marisa. Pelo fim das odiáveis sacolinhas plásticas, prometo reabilitar minha sacola de lona e sou capaz até de comprar um carrinho de feira!
Quem mais se habilita?
Beijo para você, comadre Marisa, e capricha na feijoada de amanhã!
Sandra