Comadre Marisa,
Você tem toda a razão quando diz temer o uso político da praça. Como em muitas outras ocasiões, isso já está acontecendo. Feita a observação, acho que ainda assim a discussão vale a pena, especialmente se for estendida a outras questões essenciais, notadamente educação e saúde públicas, tão negligenciadas, e segurança.
Você mencionou a bala perdida que feriu um menino de 10 anos na quarta-feira. Há que se notar que ele não estava perambulando pelas ruas em horários que nós, amortecidos pela violência, costumamos chamar de impróprios. Ele voltava da escola para casa, em Pinhais, sob a luz do sol.
O menino de Pinhais, felizmente, foi socorrido e passa bem. A mesma sorte não tiveram outras jovens vítimas de bala perdida que viviam bem pertinho de nós, como Davi Leal, também de 10 anos, morto em São José dos Pinhais no dia 1.º de maio e, Elvis Iriguti, 12 anos, morto no Parolin no dia 13 de maio.
Diante disso, temos de nos tornar capazes de reagir com a mesma indignação que tomou conta do país por ocasião da morte de João Hélio, em fevereiro.
Só para citar outro exemplo de descaso com os acontecimentos coletivos, lembro que foram bem raras as manifestações dos cidadãos paranaenses quanto à greve do Hospital de Clínicas da UFPR, embora o prejuízo seja contado em vidas.
Acho, enfim, que as evidências mostram claramente que não dá mais para cada cidadão “cuidar da sua vida” e fechar os olhos para o que acontece além do portão.
Vou encerrando por aqui porque já botei a água no fogo para o café. Depois pretendo dar uma lida nos comentários dos leitores que estão nos prestigiando – aliás, comadre, você viu que agora já não são só os de casa? Coisa boa.
Abração para você
Sandra
***
Sandra, minha amiga,
Parece que “nunca na história desse país”, como diria o Lula (prometo melhorar minhas citações no futuro), estivemos tão anestesiados, tão desinteressados…
Não há desgraça natural, não há crime nem brutalidade, não há escândalo político, enfim, não há mais nada que nos tire desse casulo da individualidade.
Depois da destruição do tsunami e do furacão Katrina, dessa seqüência infindável de assassinatos e outras formas de violência, da corrupção pública e privada que mina a consciência coletiva e corrói a credibilidade das instituições…
Depois disso tudo, o que mais teremos que ver para sair da inércia e deixar aflorar a indignação?
Ainda bem que nos resta a pracinha do Batel, né?
Ponha mais uma caneca na mesa, comadre, que estou passando para o cafezinho.
Podemos aproveitar essa tarde de domingo para decidir se somos contra ou a favor da nova praça e fazer uns cartazes pela nossa causa.
Marisa
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