Olá comadre Marisa!
O escritor Mário de Andrade defende em sua obra mais conhecida, Macunaíma, o exercício da preguiça, traço brasileiro por excelência.
Se é que pode haver excelência nisso que é – modernismo à parte — uma falta de virtude. O próprio Mário reconhece: Macunaíma, o anti-herói preguiçoso, é uma criança feia.
O pior é que há muitas formas de preguiça.
A primeira e mais democraticamente distribuída é aquela baiana: se a cobra vem vindo, melhor é saber se tem soro em casa do que deixar o conforto da rede para evitar o bote.
Tem também a preguiça disfarçada de eficiência. Essa pode ser reconhecida em gente que diz que “não tem tempo para mais nada”.
O tipo mais sofisticado é aquele em que o dono da preguiça se ocupa do inútil para não ter de fazer o que é útil e, muitas vezes, mais difícil.
Pois bem! Digo isso, comadre, porque acho que só mesmo a preguiça, esse viciozinho tão nosso, pode impedir que a gente comece a tornar práticas nossas belas teorias sobre o que é ambientalmente correto. O uso das sacolas de pano, uma unanimidade entre a nossa legião de leitores, é uma contribuição mínima, mas acessível a todos.
Que a gente não deixe o Macunaíma que há em cada um de nós impedir essa e outras ações acertadas.
Beijo
Sandra
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Querida Sandra,
Por pura preguiça, nem ia responder imediatamente a sua inspirada elocubração.
Mas lembrei do que meu finado pai dizia e resolvi dividir com os leitores, só a título de curiosidade:
“O verdadeiro preguiçoso é aquele que levanta mais cedo para ficar mais tempo sem fazer nada.”
E não é?
Um beijão, comadre.