Comadre querida,
Farei pequena pausa nas suas elevadas, e justificadas, preocupações com os descaminhos da República, para me indignar com coisa mais prosaica – embora não menos irritante.
Acabo de receber um e-mail de conhecida editora internacional, que há muitos anos distribui no Brasil uma “seleção” de caderninhos informativos (?).
O texto é de uma desfaçatez que me pergunto se o autor não se envergonha do que escreveu. E também me pergunto se alguém dá crédito para um bobagéu (sic) desses.
Pois diz o malfadado textinho que eu fui “escolhida” para ganhar um “valioso presente inteiramente GRÁTIS”. Bom, se é “ganhar” e se é “presente”, só poderia ser “grátis”.
Mas vamos em frente. Diz ainda: “Eu realmente invejo a sua sorte, pois esse é um presente que eu gostaria muito de receber…”
E manda que eu clique no botão vermelho ao lado para garantir meu “presente grátis agora mesmo”.
Normalmente não dou bola para essas mensagens, mas desta vez resolvi testar o limite da cara-de-pau. E a coisa vai piorando. Na tela seguinte, eu posso ganhar R$ 330 mil, veja só. E, com mais um clique, descubro que já está registrado em meu nome um rádio FM com LANTERNA!
Prá que diabos, comadre, alguém precisaria de um rádio com lanterna? E nestes tempos de MP3, MP4…
Já estou clicando no quinto botão vermelho, vencendo os engulhos que me sacodem o estômago, quando chego a uma roleta. Ao fim do giro o ás de ouro confirma que concorro ao prêmio máximo de R$ 330 mil. E, de lambuja, posso ganhar “um carro 0 Km, um moderno computador e mais três lindos presentes Grátis se decidir assinar a Revista xxx com 15% de desconto…”
Meus sais, comadre. Alguém que tem todo esse dinheiro fácil precisa de desconto numa assinatura de revista?
E não acabou. Mais um clique e tenho direito a escolher uma entre três chaves para concorrer a um de três carros. Naturalmente, como estou com sorte, qualquer chave que eu escolha me leva ao carro mais caro, cujos faróis começam a piscar alucinadamente.
Penso que deve ser uma técnica de hipnose para me levar diretamente ao próximo clique e a uma tela em que devo fornecer dados pessoais.
Nela também devo escolher entre sete parcelas de R$ 9,99 ou três de R$ 23,30, para garantir a assinatura de uma revista que eu não quero.
Estou pasma, comadre. Alguém naquela empresa pensa que uma baboseira desse tamanho funcione?
Pois olhe, que temo a resposta. Se o negócio prospera é porque alguém o sustenta, possivelmente entusiasmado com tantas possibilidades de “ganhar coisas grátis”, assim, do nada.
Um beijão, minha compreensiva amiga,
Marisa
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Querida comadre Marisa:
Realmente um primor de técnica de marketing. Você vai ter de me contar o nome da tal revista.
Diante disso, só resta dizer uma coisa: da próxima vez que estiver com tanta “sorte”, me chama para a gente fazer outro joguinho na Megasena. Da última vez não marcamos um mísero pontinho…
Beijão,
Sandra