Cara Marisa,
Muito boas notícias! Já podemos dizer que temos dezenas de leitores. Duas dezenas, mais exatamente.
O melhor é que 90%, segundo cálculos que estão muito distantes da precisão do matemático Oswald de Souza, não caiu nessa balela de eleição das sete maravilhas.
Então, proponho um brinde aos leitores que têm senso crítico apurado! Aposto que eles também vão achar ridícula a eleição das sete belezas naturais do planeta, a nova idéia caça-níquel do suíço Bernard Weber, ainda não satisfeito com o que faturou na eleição das sete maravilhas.
Até o jornal espanhol El País anda tendo dificuldades na sua missão de descobrir quanto Weber embolsou com a campanha.
Aposto ainda que nossos leitores também não estão nada satisfeitos em saber que as obras do Pan, pagas com nosso suado dinheirinho dos impostos, custaram pelo menos cinco vezes mais do que se esperava.
Com tanta deficiência na saúde, na educação e na segurança, o Brasil bem poderia passar sem essa gastança, que só interessa às empreiteiras e aos políticos ligados a elas por relações mais que perigosas.
Não sou contra os jogos, nem contra o esporte. Sou contra a falta de lógica nas prioridades de investimento com o dinheiro público. Se tivéssemos patrocinadores bancando 100% a construção das sedes, garanto que o custo das obras seria bem menor.
E se, afinal, os jogos fossem no México, no Chile, no Canadá, nos EUA ou em qualquer país disposto a bancar os gastos envolvidos, nenhum problema. Nossas chances de medalha seriam as mesmas.
A quem interessa a realização dos jogos num lugar em que os cidadãos são cada vez mais reféns da violência?
De minha parte, comadre, vou torcer pelo Brasil no campo esportivo. No plano político, saímos em desvantagem, com um déficit de mais de US$ 4 bilhões na conta.
Abraço para você e para os fiéis leitores.
Sandra
***
Comadre Sandra,
Em que sinuca você nos meteu.
Meu coração vagabundo está dividido. Ele se debate entre a justeza de sua indignação com o fabuloso orçamento do Pan, que cresceu mais que chuchu na cerca, e com um inexplicável orgulho por sediarmos os jogos.
Não sei, mas me bateu no peito um sentimento, uma alegria de criança, quando vi o Guia Pan 2007, feito pelos nossos colegas da Gazeta. Ficou lindo, do começo ao fim. E teve o dom de me jogar sem preconceitos dentro da superfaturada arena dos jogos.
Nem tô ligando para as ameaças de CPI e de investigação pelo TCU.
Sei que a comadre vai queimar o meu filme, me chamando de romântica, e coisa e tal.
Fazer o quê? Deixa eu apostar um pouquinho que durante duas semanas tudo vai ser diferente. O Rio ficará mais seguro e garantiremos nosso terceiro lugar no quadro geral de medalhas.
Só não vou tolerar uma coisa, comadre. Que venham me falar em Copa do Mundo no Brasil em 2014. Que aí já é demais.
Só porque temos know how em receber o Papa e por causa dessa experiência com o Pan não quer dizer que temos cacife para bancar um evento do tamanho da Copa.
Do jeito que foram as coisas até aqui, teríamos que entregar o Cristo Redentor em seu Corcovado, mais as Cataratas do Iguaçu, e ainda ficaríamos devendo a Amazônia, de tanta que seria a gastança.
Vou lhe contar um segredo, comadre. No ano passado, durante a melancólica final da Copa, em plena Alemanha, vi com meus próprios olhos as reações de incredulidade em relação à candidatura brasileira, de alguns alemães que participaram diretamente da organização da disputa.
Muito educados, eles disfarçavam como podiam o constrangimento ao serem consultados por representantes do governo brasileiro sobre a possibilidade de ajudar o Brasil a fazer seu projeto.
Acho que se a turma do governo pudesse entender os cochichos em alemão teria desistido na hora dessa insanidade.
Bueno, agora que arrumei confusão para levarmos tiro, vou me recolhendo para ver as notícias sobre o Pan.
Não sem antes dar o crédito para os autores do Guia Pan 2007 da Gazeta do Povo: Eduardo Aguiar, Leonardo Mendes Júnior, André Pugliesi, Carlos Eduardo Vicelli, Marcio Reinecken, Lyn Januzzi, Gilberto Yamamoto, Ricardo Humberto e Dino Pezzole.
Parabéns, meninos, que vararam madrugadas num esforço que valeu a pena!
Beijo,
Marisa
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