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Carlos Alberto Di Franco

Carlos Alberto Di Franco

Democracia

Diálogo ou a sombra da ruptura

Lula e Barroso
Lula e o presidente do STF, Luís Roberto Barroso. (Foto: Marcelo Camargo/Agência Brasil)

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Sou otimista. Acredito no Brasil. Aposto na democracia. Considero que o diálogo honesto é sempre o melhor caminho para solucionar conflitos. Só ele é capaz de acomodar as abóboras em meio aos solavancos da carroça política.

Mas não posso deixar de reconhecer uma preocupação com o futuro do nosso país. Em nome da defesa do Estado Democrático de Direito, importante e necessária, foi-se fechando o cerco à liberdade de expressão e à legítima manifestação de amplos setores da sociedade.

Uma parcela significativa, talvez mais da metade da população brasileira, está crescentemente sem voz. Os quase 60 milhões de brasileiros que não votaram no atual governo sentem-se cada vez mais acuados e mais preocupados não apenas com a economia, mas com o futuro das liberdades individuais e a solidez das nossas instituições democráticas.

O fenômeno do conservadorismo é maior, ultrapassa e independerá de Jair Bolsonaro

A renovação da consciência e da própria identificação com uma visão mais conservadora é um fato inequívoco: são vozes no Congresso, entre intelectuais, alguns jornais, blogs e revistas, formadores de opinião, jornalistas e até mesmo algumas iniciativas relevantes na produção de conteúdo, sem falarmos do aumento da participação da população em um forte despertar espiritual. A tradução e publicação numerosas de autores conservadores nos mostram a força e evolução sem precedentes quando consideramos que as últimas décadas foram marcadas por um domínio pleno das visões mais à esquerda na academia, na política, na mídia e nas artes. A chegada das redes sociais permitiu que filtros enviesados perdessem seu efeito, possibilitando a recuperação de espaços nas discussões mais afinados com sentimentos e valores de grande parte dos brasileiros.

Na tentativa de desqualificar os anseios e aspirações conservadoras e liberais, vozes de esquerda rotulam de “bolsonaristas” a todos que não se alinhem com seu campo, tentando reduzir a ascensão dos conservadores a um personagem controverso e conflitivo. O fenômeno do conservadorismo é maior, ultrapassa e independerá de Jair Bolsonaro.

Além disso, a esquerda também se esforça para que o conservadorismo não seja devidamente difundido e conhecido em suas propostas basilares, pois percebe que a ocupação do espaço político por uma cultura conservadora é o maior e mais poderoso obstáculo às suas pretensões hegemônicas. O conservadorismo não apenas tem direito de existir como tem se mostrado muito representativo de boa parcela – talvez a maior parcela – da população brasileira.

Apoio popular, está claro, nem o presidente nem os ministros do Supremo possuem. Nenhum deles poderia, nos dias de hoje, colocar os pés na rua sem escolta armada, sob o risco de serem apupados ou veementemente admoestados pelo cidadão comum

O mundo experimenta esta tendência. Até pouco tempo atrás, a leitura e a repercussão dos acontecimentos estavam sempre ou quase sempre moduladas e filtradas por um olhar iluminista e marxista. As pessoas, mesmo na contramão de um sistema de poder coletivista e fechado, descobriram a força e o brilho da liberdade.

Alheios a esse movimento, o presidente Lula e ministros do STF fazem uma dobradinha para diminuir e enfraquecer o papel do Congresso Nacional. Um persegue a sua agenda de domínio, aumento do alcance e do tamanho do Estado e fortalecimento de alianças com governos socialistas e autocráticos ao redor do mundo. Os outros avançam incessantemente com suas pautas identitárias e decisões tomadas à margem de preceitos constitucionais, num ativismo judicial sem precedentes na história do país. Ao agirem dessa forma ensimesmada, apartada dos anseios de boa parte da população, ignorando essa crescente onda conservadora, Lula e o STF não parecem realizar o quanto estão testando os limites da obediência e do respeito às autoridades instituídas que é muito comum e arraigado na população brasileira. Parecem não perceber que suas decisões e atos são cada vez menos vistos como justos e legítimos.

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Apoio popular, está claro, nem o presidente nem os ministros do Supremo possuem. Nenhum deles poderia, nos dias de hoje, colocar os pés na rua sem escolta armada, sob o risco de serem apupados ou veementemente admoestados pelo cidadão comum. Se é assim, de onde vem o poder que lhes permite agir contrariamente à vontade de um contingente tão gigantesco de brasileiros? Por que o Congresso não lhes impõe os devidos contrapesos? Certamente, tem papel relevante o apoio obtido à custa das barganhas, das liberações de verbas, da concessão de favores e privilégios e a subserviência e vassalagem de incontáveis entidades de classe. Embora relevantes, esses apoios não são suficientes para se afrontar cotidianamente a maior parte do país.

A tendência de intensificação dessas duas ondas antagônicas pode provocar um desfecho desastroso: uma atitude crescente de enfrentamento e de desrespeito à lei e à ordem, a ruptura do “law abiding”. Se o cidadão sente que o Estado não lhe representa, que afronta a Constituição em benefício de um grupo que o domina, e que crescentemente lhe oprime, pode cair na tentação da desobediência civil, ou pior, da transgressão. E isso é muito preocupante.

Parece que definitivamente estamos nas mãos da capacidade de julgamento e do bom senso dos ministros do STF, do realismo político do presidente da República e da coragem moral do Congresso Nacional. Que Deus proteja o Brasil!

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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