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Jornalismo é a busca do essencial, sem adereços, adjetivos ou adornos. O jornalismo transformador é substantivo. Sua força não está na militância, mas no vigor persuasivo da verdade factual e na integridade e no equilíbrio da sua opinião. A credibilidade não é fruto de um momento. É o somatório de uma longa e transparente coerência. É um ativo difícil de ganhar e fácil de perder.
A sociedade está cansada, exausta, do clima de radicalização que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma overdose de colunismo militante. Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: a politização.
A forte presença popular – não de baderneiros, mas de brasileiros comuns com suas famílias – nas manifestações do Sete de Setembro pediria uma leitura correta e manchetes adequadas aos fatos. Não foi o que aconteceu. Dois equívocos afloraram nas chamadas de alguns veículos. O primeiro deles foi simplesmente desqualificar os participantes de um evento pacífico como radicais e desconsiderar o que ocorreu.
Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: a politização
Como salientou editorial da Gazeta do Povo, também “não há como ignorar que, além dos que foram às ruas, houve muitos outros que compartilharam de uma mesma insatisfação quanto ao futuro das liberdades democráticas no Brasil e quanto aos excessos recentes cometidos pelo Supremo Tribunal Federal – excessos que, surpreendentemente, continuam ignorados ou são até aplaudidos por setores da imprensa e da sociedade, incapazes de compreender o apagão da liberdade de expressão em curso no Brasil. Os abusos dessa liberdade existem, mas precisam ser identificados corretamente e coibidos nas instâncias adequadas; o que está havendo, no entanto, é uma repressão generalizada, dirigida indiscriminadamente contra um único lado do espectro ideológico, em que uma corte acumula funções de vítima, investigador e julgador, além de implantar um ‘crime de opinião’ no país”.
Protestar contra os excessos do STF não configura ação antidemocrática. Trata-se, ao contrário, de manifestação explícita de defesa da democracia. O discurso destemperado e fora de tom do presidente da República não poderia servir de pretexto para construir uma narrativa de costas para a realidade. Bolsonaro, ele mesmo, se deu conta do tamanho do estrago e recuou.
A radicalização é tóxica. Faz mal às relações familiares e pessoais, empurra políticos e autoridades para uma guerra que destrói pontes e compromete consensos mínimos para o funcionamento dos poderes. E também faz grandes estragos na credibilidade dos meios de comunicação.
Em tempos de ansiedade digital, a reinvenção do jornalismo reclama revisitar alguns valores essenciais: amor pela verdade, paixão pela liberdade e uma imensa capacidade de sonhar e de inovar. Eles resumem boa parte da nossa missão e do fascínio do nosso ofício. Hoje, mais que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, precisam ser resgatados e promovidos.
A democracia reclama um jornalismo vigoroso e independente. Comprometido com a verdade possível. O jornalismo de qualidade exige cobrir os fatos. Não as nossas percepções subjetivas. Analisar e explicar a realidade. Não as nossas preferências, as simpatias que absolvem ou as antipatias que condenam. Isso faz toda a diferença e é serviço à sociedade.
O grande equívoco da imprensa é deixar de lado a informação e assumir, mesmo com a melhor das intenções, certa politização das coberturas. Os desvios não se combatem com o enviesamento informativo, mas com a força objetiva dos fatos e de uma apuração bem conduzida.
O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.
O jornalismo de qualidade exige cobrir os fatos. Não as nossas percepções subjetivas. Analisar e explicar a realidade. Não as nossas preferências, as simpatias que absolvem ou as antipatias que condenam
Os leitores, com razão, manifestam cansaço com o tom sombrio e negativo das nossas coberturas. É possível denunciar mazelas com um olhar propositivo. Em vez de ficarmos reféns do diz que diz, do blablablá inconsistente do teatro político, das intrigas e da espuma que brota nos corredores de Brasília, que não são rigorosamente notícia, mergulhemos de cabeça em pautas que, de fato, ajudem a construir um país que não pode continuar olhando pelo retrovisor.
Não podemos viver de costas para a sociedade real. Isso não significa ficar refém do pensamento da maioria. Mas o jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências.
A internet, o Facebook, o Twitter e todas as ferramentas que as tecnologias digitais despejam a cada momento sobre o universo das comunicações transformaram a política e mudaram o jornalismo. Queiramos ou não. Precisamos fazer a autocrítica sobre o nosso modo de operar. Não bastam medidas paliativas. É hora de dinamitar antigos processos e modelos mentais. A crise é grave. Mas a oportunidade pode ser imensa.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos