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Carlos Alberto Di Franco

Carlos Alberto Di Franco

Comunicação

Jornalismo regional vibrante

(Foto: Dylan Agbagni/Pixabay)

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O belíssimo resort Costão do Santinho, em Florianópolis, foi o cenário de um produtivo encontro de jornalismo. Tive a honra de fazer a palestra de abertura do seminário sobre o futuro do jornalismo promovido pelo Grupo ND, maior conglomerado de mídia de Santa Catarina. Auditório lotado de jornalistas. Muita gente jovem e entusiasmada com o nosso ofício.

O Grupo ND cresceu muito. Sua filosofia editorial pode ser resumida no mantra que seu fundador Mário Petrelli repetia incansavelmente: “Criticar sem destruir; elogiar sem bajular”. Uma síntese sugestiva de linha editorial. Prestar serviço, apostar na reportagem, denunciar os malfeitos, mas não ter vergonha de mostrar o que dá certo: eis uma fórmula que se mostrou vitoriosa.

O que vi e ouvi suscitou a reflexão que compartilho com você, amigo leitor. O cenário do consumo de informação preocupa. Exige reflexão, autocrítica e coragem. Perdemos a hegemonia das audiências. Não falamos mais de cima para baixo. O vertical foi substituído pelo horizontal. Impõe-se conversar com a audiência. Vivemos um momento disruptivo e de desintermediação. Todos, sem exceção, percebemos que chegou para o jornalismo a hora da reinvenção.

O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima

A sociedade está cansada do clima de militância que tomou conta da agenda pública. Sobra opinião e falta informação. Os leitores estão perdidos num cipoal de afirmações categóricas e pouco fundamentadas, declarações de “especialistas” e uma overdose de colunismo. Um denominador comum marca o achismo que invadiu o espaço outrora destinado à informação qualificada: radicalização e politização. Trata-se de um fenômeno generalizado.

O jornalismo reclama alguns valores essenciais: amor pela verdade, paixão pela liberdade e uma imensa capacidade de sonhar e de inovar. Eles resumem boa parte da nossa missão e do fascínio do nosso ofício. Hoje, mais do que nunca, numa sociedade polarizada e intolerante, precisam ser resgatados e promovidos.

O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima. A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia.

Jornalismo independente reclama liberdade. Não temos dono. Nosso compromisso é com a verdade e com o leitor. Mas a reinvenção do jornalismo passa por uma imensa capacidade de sonhar. É preciso vencer comportamentos burocráticos, reconhecer a nossa crise e tratar de virar o jogo. O fenômeno da desintermediação dos meios tradicionais, por exemplo, teve precedentes que poderiam ter sido evitados, não fosse o distanciamento da imprensa dos seus leitores, sua dificuldade de entender o alcance das novas formas de consumo digital da informação e, em alguns casos, sua falta de isenção informativa e certa dose de intolerância.

Em vez de ficarmos reféns do diz que diz, do blablablá inconsistente, das intrigas e da espuma que brota nos corredores da política, que não são rigorosamente notícia, mergulhemos de cabeça em pautas que, de fato, ajudem a construir um país que não pode continuar olhando pelo retrovisor.

Não podemos viver de costas para a sociedade real. Isso não significa ficar refém do pensamento da maioria. Mas o jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais do que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências. A verdade, limpa e pura, é que frequentemente a população tem valores diferentes dos nossos.

A internet, o Facebook, o Twitter e todas as ferramentas que as tecnologias digitais despejam a cada momento sobre o universo das comunicações transformaram a política e mudaram o jornalismo. Queiramos ou não. Precisamos fazer a autocrítica sobre o nosso modo de operar. Não bastam medidas paliativas. É hora de dinamitar antigos processos e modelos mentais. A crise é grave. Mas a oportunidade pode ser imensa.

O jornalismo, observador atento do cotidiano, não pode desconhecer e, mais do que isso, confrontar permanentemente o sentir das suas audiências. A verdade, limpa e pura, é que frequentemente a população tem valores diferentes dos nossos

A violência, a corrupção, a incompetência e a mentira estão aí. E devem ser denunciadas. Não se trata, por óbvio, de esconder a realidade. Mas também é preciso dar o outro lado, o lado do bem. Não devemos ocultar as trevas. Mas temos o dever de mostrar as luzes que brilham no fim do túnel. A boa notícia também é informação. A análise objetiva e profunda, sem viés ideológico, é uma demanda dos leitores. E, além disso, é uma resposta ética e editorial aos que pretendem tornar o jornalismo refém da fácil cultura do negativismo.

A imprensa de qualidade, séria e independente, é essencial para a democracia. E tudo isso, tudo mesmo, depende da nossa coragem e humildade para fazer a urgente e necessária autocrítica. Não bastam medidas paliativas. É hora de dinamitar antigos processos e modelos mentais ideológicos. A crise é grave. Mas a oportunidade pode ser imensa.

Chegou a hora do jornalismo propositivo. Aquele que não se limita a mostrar os problemas, mas vai além: aponta alternativas e soluções. Esta quadra, sem dúvida dura e difícil para o nosso setor, também pode abrir uma avenida de oportunidades. Os pessimistas, os que têm os olhos no retrovisor, vivem de saudade. Chegou o momento de olhar para frente.

Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos

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