Jornais de papel.| Foto: Pixabay
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O jornalismo profissional tem sido muito criticado. Trata-se de algo que está relacionado com dois fenômenos de grande atualidade: a disrupção digital e a polarização da sociedade. O jornalismo precisa recuperar a capacidade de reportar o factual e renovar seu diálogo com os consumidores da informação.

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A força da mídia social é indiscutível. Transmite aos seus usuários uma sensação de protagonismo extremamente sedutora. Mas reforça a polarização na medida em gera bolhas impermeáveis ao diálogo.

Creio que o jornalismo profissional, plenamente inserido no espaço digital, é indispensável. Precisa, por óbvio, fazer autocrítica, recuperar alguns valores e investir em renovação. Mas sua importância é imensa. Não existe um único assunto relevante que não tenha nascido numa pauta do jornalismo profissional. Os temas das nossas conversas são, frequentemente, determinados pelo noticiário e pela opinião dos jornais. O verdadeiro jornalismo não deve ser antinada. Mas também não pode ser neutro. É um espaço de contraponto

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Seu compromisso não está vinculado aos ventos passageiros da política e dos partidarismos. Sua agenda é, ou deveria ser, determinada por valores perenes: liberdade, dignidade humana, respeito às minorias, promoção da livre-iniciativa, abertura ao contraditório. Por isso os jornais são fustigados pelos que, à esquerda e à direita, desenham projetos autoritários de poder. Basta ver o crescente desconforto do atual governo.

O jornalismo sustenta a democracia não com engajamentos espúrios, mas com a força informativa da reportagem e com o farol de uma opinião firme, mas equilibrada e magnânima.

A reportagem é, sem dúvida, o coração da mídia

As redes sociais e o jornalismo cidadão têm contribuído de forma singular para processo comunicativo e propiciado novas formas de participação, de construção da esfera pública, de mobilização do cidadão. Suscitam debates, geram polêmicas, algumas com forte radicalização, exercem pressão. Mas as notícias que realmente importam, isto é, aquelas que são capazes de alterar os rumos de um país, são fruto não de boatos ou meias-verdades disseminadas de forma irresponsável ou ingênua, mas resultam de um trabalho investigativo feito dentro de rígidos padrões de qualidade, algo que está na essência dos bons jornais.

O combate à corrupção e o enquadramento de históricos caciques da política nacional - embora momentaneamente comprometidos por graves e surpreendentes equívocos do Judiciário - só são possíveis graças à força do binômio que sustenta a democracia: imprensa livre e opinião pública informada.

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Poucas coisas podem ter o mesmo impacto que o jornal tem sobre os funcionários públicos corruptos, sobre os políticos que se ligam ao crime, que abusam do seu poder, que traem os valores e os princípios democráticos. Políticos e governantes com desvios de conduta odeiam os jornais. Mas eles são, de longe, os grandes parceiros da sociedade, a alma da democracia.

Navega-se freneticamente no espaço virtual. Uma enxurrada de estímulos dispersa a inteligência. Fica-se refém da superficialidade e do vazio. Perdem-se contexto e sensibilidade crítica. A fragmentação dos conteúdos pode transmitir certa sensação de liberdade. Não dependemos, aparentemente, de ninguém. Somos os editores do nosso diário personalizado. Será? Não creio, sinceramente.

Penso que existe uma crescente demanda de jornalismo puro, de conteúdos editados com rigor, critério e qualidade técnica e ética. Há uma nostalgia de reportagem. É preciso recuperar, num contexto muito mais transparente e interativo, as competências e o fascínio do jornalismo de sempre.

Jornalismo sem brilho e sem alma é uma perigosa doença que pode contaminar redações. O leitor não sente o pulsar da vida. As reportagens não têm cheiro de asfalto. As empresas precisam repensar os seus modelos e investir poderosamente no coração. É preciso dar novo vigor à reportagem e ao conteúdo bem editado, sério, preciso, ético.

É preciso contar boas histórias. E apurar com verdadeiro empenho de isenção. A apuração de mentiras representa uma das mais graves agressões à ética e à qualidade informativa. Matérias previamente decididas em guetos sectários buscam a cumplicidade da imparcialidade aparente. A decisão de ouvir o outro lado não é honesta, não se apoia na busca da verdade, mas num artifício que transmite um simulacro de isenção, uma ficção de imparcialidade. O assalto à verdade culmina com uma estratégia exemplar: repercussão seletiva. O pluralismo de fachada convoca pretensos especialistas para declarar o que o repórter quer ouvir. Mata-se a notícia. Cria-se a versão.

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A precipitação e a falta de rigor são outros vírus que ameaçam a qualidade. A incompetência foge dos bancos de dados. Na falta de perguntas inteligentes, a ditadura das aspas ocupa o lugar da informação. O jornalismo de registro, burocrático e insosso, é o resultado acabado de uma perversa patologia: a falta de planejamento e a obsessão dos editores com o fechamento.

Análise, interpretação e um bom texto, em qualquer plataforma, sempre vai ter interessado. O segredo é a qualidade.