| Foto: Julita/Pixabay
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O Censo Demográfico 2022 foi uma paulada. Revela que o Brasil tem 203,1 milhões de habitantes; são 4,7 milhões a menos do que o previsto. Os dados divulgados contrastam com a prévia feita pelo IBGE em dezembro passado, quando se estimou, com base em informações preliminares, que o país chegaria a 207,8 milhões, já abaixo dos 213,3 milhões projetados em 2021. O Brasil se aproxima do fim do “bônus demográfico” em condições bem complicadas. A parcela da população em idade de trabalhar encolheu, e a de aposentados subiu, com desafios imensos à economia, ao crescimento e à autoestima de um país que vê seu sonho ser corroído pelo populismo, pela ideologia do atraso e pela gritante ausência de estadistas.

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O que preocupa, e muito, é uma experiência recorrente: um país só fica rico antes de envelhecer. Não há caso histórico de um país que antes envelheceu e depois enriqueceu. Temos de aproveitar com inteligência e intensidade a sobrinha do bônus demográfico para poder enriquecer.

Com o título “Os jovens nunca foram tão preciosos”, recente editorial do jornal O Estado de S.Paulo foi certeiro e propositivo: É consensual o diagnóstico de que a população brasileira está envelhecendo mais rápido do que o esperado e algo precisa ser feito já para aumentar as perspectivas de futuro para um segmento da população, as gerações mais jovens, que está em franca diminuição. Esse algo a ser feito “não é mistério nem tampouco requer uma fórmula mágica que haveria de ser concebida de uma hora para a outra por especialistas desesperados com a dimensão do desafio que se posta diante do país. A solução é há muito conhecida: elevar o desenvolvimento da educação pública à condição de prioridade nacional”, sublinha com força o jornal.

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Um país só fica rico antes de envelhecer. Não há caso histórico de um país que antes envelheceu e depois enriqueceu

A crise já está instalada e seus efeitos são devastadores. Não se admite omissões, discursos demagógicos ou populistas. É preciso encarar a educação – pública e privada – como a grande causa nacional. Chegou a hora de fazer do limão uma limonada.

Somos um grande país. Essa é a boa notícia. A queda populacional, acentuada e acelerada, é a má notícia. Impõe-se virar o jogo com rapidez e seriedade.

Nunca a informação foi tão acessível como agora. Mas ainda continua sendo difícil ver além dos dados. Nossa avaliação é sempre bastante frágil. Por que se dá esse fenômeno? A realidade parece se esconder, trapacear. Talvez a dificuldade de realizar uma reflexão mais profunda esteja no excesso de rapidez com que nos chega a informação.

Mas não é apenas a falta de distanciamento da informação. Às vezes nos enganamos por anos, por décadas. Por exemplo, especialmente a partir dos anos 1960 veio à tona com grande força a preocupação demográfica. Consolidou-se a leitura unívoca de que o crescimento populacional era um problema a ser combatido. A pobreza e a miséria no mundo estavam de certa forma mais próximas, tornavam-se mais conhecidas. Imagens televisivas dos países extremamente pobres pareciam gritar: o mundo não comporta mais gente, falta alimento! E parecia urgente a necessidade de uma forte guinada. Acrescentava-se a consciência ecológica. A presença humana gerava – quase como uma lei física – problemas ambientais. O mundo parecia ser uma casa pequena para tanta gente.

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Era a cultura de uma época. Poucas décadas antes, não se via assim. No debate sobre a reconstrução da Europa, no pós-guerra, o crescimento da população não era visto como problema, muito ao contrário. Já nos anos 60, ao avaliar o desenvolvimento dos países latino-americanos, a demografia estava na ordem do dia. Objetivamente, a Europa em 1945 era mais densamente povoada que a América Latina dos anos 60. No entanto, neste lado do planeta, o número de pessoas era encarado como um problema; lá, não.

Essa visão transcendeu os anos 60 e nas décadas seguintes era lugar comum criticar o crescimento populacional. No apagar das luzes da década passada, sem grande estardalhaço, passou-se a falar o contrário. Aparecia na mídia a expressão “janela demográfica”. Ao contrário de todas as visões anteriores, população jovem passou a ser um aspecto positivo, considerada um valioso ativo.

Qual foi a grande mudança? Surgiu uma nova tese acadêmica? Não. Apenas passou a ser evidente demais que os países cuja população ativa (leia-se população jovem) era proporcionalmente maior estavam em crescimento; os outros, não. Na década de 50, nesse quesito a China tinha o tamanho da Europa. Hoje o Velho Continente, limitado na sua capacidade de renovação, está mergulhado numa assombrosa crise. A China, não obstante sua enorme fatura social, é a grande potência do terceiro milênio. Uma população em declínio também poderá afastar investidores internacionais, interessados no potencial do consumo interno.

A previdência social, cuja fatura nos assombra ameaçadoramente, também poderá vir a sofrer dramaticamente com a crise demográfica. Se a força de trabalho não for renovada, não haverá pessoas suficientes para gerar a renda necessária para pagar as pensões de aposentados.

Não podemos matar o futuro. A educação deve ser a grande causa nacional.

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Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]