O som da liberdade desembarcou no Brasil. Cercado de polêmica, marca registrada da cultura da polarização e do cancelamento asfixiante, o longa-metragem da produtora Angel Studios é um sucesso indiscutível. O filme estrelado por Jim Caviezel, ator de A Paixão de Cristo, já ultrapassou a marca dos US$ 200 milhões arrecadados em escala global – uma fortuna, quando se sabe que custou escassos US$ 14 milhões para ser produzido – e conta a história real de Tim Ballard, ex-agente do FBI que investiga uma rede de pedofilia e o criminoso e cruel tráfico internacional de crianças com objetivos de comércio sexual.
A produção provoca emoção e indignação. Falta, talvez, a presença de atores “top de linha”: um Anthony Hopkins, por exemplo, seria definitivo. Mas vale muito a pena assistir. Põe o dedo numa chaga monstruosa e que também está muito presente em nosso país. O longa conta que a pedofilia cresceu mais de 5.000% somente nos últimos cinco anos. Um flagelo moral e humano de proporções assustadoras. E tudo começa no mercado da pornografia infantil que habita nos porões escuros da internet profunda.
Se o filme suscitar na mídia, nas escolas, nos governos e nas famílias uma reflexão séria sobre as consequências da pornografia, já terá cumprido um papel histórico.
Vale muito a pena assistir a O som da liberdade. O filme põe o dedo numa chaga monstruosa e que também está muito presente em nosso país
A pornografia é um negócio poderoso e devastador. Causa dependência, desestrutura a afetividade, desestabiliza a família e passa uma pesada conta no campo da saúde mental. Mas o mais grave, de longe, é a estratégia de “desmitificação” do material pornográfico. Eliminou-se o carimbo de proibido. Deu-se ao conteúdo pornográfico um toque de leveza, de algo sexy e divertido. Na prática, no entanto, a pornografia tem a garra da adicção e as consequências psicológicas, afetivas e sociais da dependência mais cruel. É um veneno. Joga o usuário num abismo sombrio.
Na era da internet, a pornografia invadiu computadores, implodiu relacionamentos e algemou muita gente. A pornografia produz uma imagem cínica do amor e transmite uma visão da sexualidade como puro domínio do outro.
O que acontece no cérebro do consumidor? A repugnância inicial aos conteúdos pornográficos, fruto dos naturais filtros morais, vai cedendo espaço ao acostumamento. O usuário demanda uma dose cada vez maior e mais “sofisticada” para obter os mesmos resultados. É a espiral da dependência. Vício puro e descontrolado. E dele brotam terríveis patologias sociais: violência, abuso sexual, pedofilia.
Frequentes denúncias de pedofilia na internet demostram que a rede se está transformando no principal meio de aliciamento e exploração sexual de crianças. Apesar de proibidas pelas legislações, imagens de crianças em cenas de sexo pipocam constantemente na internet. Abusadores criminosos colocam à disposição do público arquivos com fotos pornográficas. Depois de localizadas, elas passam a circular entre usuários da rede e até em locais que poderiam ser considerados públicos. A crescente presença da pornografia infantil tem chocado a sociedade.
O problema, independentemente da justa indignação da opinião pública, não é de fácil solução. Envolve, de fato, inúmeras dificuldades de caráter político e operacional. Um mundo que não é capaz de estabelecer uma política unitária no combate às drogas dificilmente conseguirá desenhar uma plataforma comum na guerra à pornografia. Algumas medidas, no entanto, podem e devem ser adotadas. A Polícia Federal tem feito um trabalho excelente, responsável e competente. A frequente identificação e prisão de predadores da internet é alentadora. Os responsáveis pela divulgação de pornografia infantil, racismo, publicidade de drogas ou outros crimes devem ser rigorosamente punidos. Denunciar é um dever. Afinal, a rede mundial não pode ser transformada num instrumento da patologia e do crime.
A multiplicação de descobertas de redes de pedofilia não deve surpreender ninguém. Trata-se, na verdade, das consequências criminosas da escalada de erotização infantil promovida por alguns setores do negócio do entretenimento
Mas a raiz do problema, independentemente da irritação que eu possa despertar em certas falanges politicamente corretas, está na onda de baixaria e vulgaridade que tomou conta do ambiente nacional. Hoje, diariamente, na televisão, nos outdoors, nas mensagens publicitárias, o sexo foi guindado à condição de produto de primeira necessidade.
Atualmente, graças ao impacto da internet, qualquer criança sabe mais sobre sexo, violência e aberrações do que qualquer adulto de um passado não tão remoto. Não é preciso ser psicólogo para que se possam prever as distorções afetivas, psíquicas e emocionais dessa perversa iniciação precoce. Com o apoio das próprias mães, fascinadas com a perspectiva de um bom cachê, inúmeras crianças estão sendo prematuramente condenadas a uma vida “adulta” e sórdida. Promovidas a modelos e privadas da infância, elas estão se comportando, vestindo, consumindo e falando como adultos. A inocência infantil está sendo impiedosamente banida. Por isso, a multiplicação de descobertas de redes de pedofilia não deve surpreender ninguém. Trata-se, na verdade, das consequências criminosas da escalada de erotização infantil promovida por alguns setores do negócio do entretenimento.
Chegou para a família a hora do diálogo, da formação e do protagonismo responsável.
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