O discurso de Donald Trump na cerimônia de posse despertou algumas reações fortemente emocionais e carregadas de frustração ideológica. Os qualificativos rolaram com a força das tempestades tropicais: fascista, supremacista, antidemocrático, etc. Mas Trump obteve uma grande vitória. É preciso respeitar o fato de que os eleitores dos EUA elegeram Donald Trump. A imprensa não pode brigar com esse fato. Seu discurso, para bem ou para mal, representa o sentimento profundo da sociedade norte-americana. Houve, por óbvio, retórica de impacto e uma certa dose de teatralidade. Mas, a meu ver, reflete o cansaço com agenda identitária, a fadiga de material de uma ideologia que, lá como cá, em nome da democracia, impõe a interdição de um debate aberto e civilizado. A cultura do cancelamento e as recorrentes tentativas de coibir a liberdade de expressão foram fortemente questionadas.
É preciso aguardar para fazer uma avaliação equilibrada do segundo mandato de Donald Trump. Suas consequências na economia e na geopolítica mundial. A diplomacia brasileira, apoiada na sua tradicional competência, precisa trilhar um caminho prudente e pragmático.
Mas não é disso que quero tratar nesta coluna. Desejo aprofundar no impacto cultural de uma América reformatada. O que está claro é que o mundo está dando uma guinada liberal e conservadora. E é disso que quero conversar com você, amigo leitor.
O conservadorismo, frequentemente maltratado e incompreendido, é um fenômeno em ascensão. E não pode ser jogado na catacumba das nossas coberturas ou tratado de modo caricato. Merece uma análise serena. É o que tentarei fazer neste espaço opinativo, saudavelmente aberto e plural.
O jornalismo não pode ficar de costas para o fenômeno conservador. Caso contrário, corre o risco de perder relevância ao não falar adequadamente de temas e assuntos de interesse dos leitores
Impõe-se analisar o fato. O conservadorismo está presente num contingente expressivo da sociedade brasileira, inclusive entre os jovens. É preciso admitir a realidade e entender a razão dos outros, mesmo quando não coincidam com a nossa.
A imensa maioria da população brasileira não se alinha com a história, a ideologia, as práticas e a agenda identitária. Trata-se de um fato. Boa parte dos brasileiros descobriu e se identificou com valores, pensamentos e práticas que podem ser chamadas de conservadoras. O advento das redes sociais, rompendo a hegemonia da agenda pública e cultural, gerou o fenômeno da desintermediação disruptiva. Novos personagens ocuparam o espaço das discussões e das reflexões, disseminando essa perspectiva que se ancora em valores tradicionais e enaltece a vida, o indivíduo e a liberdade responsável.
Na tentativa de desqualificar os anseios e aspirações conservadoras e liberais, partidários da agenda identitária rotulam de bolsonaristas a todos os que não se alinhem com seu campo, tentando reduzir a ascensão dos conservadores a um personagem controverso e conflitivo. O fenômeno do conservadorismo é maior, ultrapassa e independe de Jair Bolsonaro.
Além disso, também se esforçam para que o conservadorismo não seja devidamente difundido e conhecido em suas propostas basilares, pois percebem que a ocupação do espaço político por uma cultura conservadora é o maior e mais poderoso obstáculo às suas pretensões hegemônicas. No entanto, o conservadorismo, não apenas tem o direito de existir como tem se mostrado muito representativo de boa parcela da sociedade brasileira.
O mundo experimenta esta tendência. Até pouco tempo atrás, a leitura e a repercussão dos acontecimentos estavam sempre, ou quase sempre, moduladas e filtradas por um olhar iluminista e marxista. No entanto, as pessoas estão descobrindo a força e o brilho da liberdade.
A reação dos caudilhos do espaço cultural, agressiva e desproporcionada, indica que se tocou em um ponto sensível. A percepção da mudança do pêndulo da História, cada vez mais clara e patente, gerou a estratégia clássica da desqualificação da opinião alheia, dos cancelamentos e da demonização de quem se atreve a pensar fora dos limites impostos pelo totalitarismo ideológico.
O pensamento conservador e liberal – profundo, sério e bem fundamentado – assusta e desestabiliza os detentores de uma hegemonia que começa experimentar o sabor do ocaso. O conservadorismo busca a primazia da vida, do indivíduo, da liberdade de expressão, da igualdade de condições perante leis e direitos, de uma educação sem doutrinação, da limitação da ingerência abusiva do Estado e da defesa da família.
Vivemos tempos surpreendentes. A pandemia sacudiu o mundo. Rompeu esquemas, derrubou projetos, ceifou vidas, apagou sonhos. Pobres e ricos, governantes democráticos e ditatoriais, poderosos e desvalidos -todos- foram algemados pela impotência. O globalismo foi sacudido. Imagens de praças, ruas e avenidas fantasmas e de um mundo vestido de vazio reforçaram a percepção da fragilidade. A Terra ficou de joelhos diante do imponderável. Prenunciou-se o resgate do transcendente, dos valores e o ocaso da arrogância racionalista. É neste caldo de cultura, imerso em uma profunda nostalgia da valores e de liberdade, que o conservadorismo aflorou com vigor.
O jornalismo não pode ficar de costas para o fenômeno conservador. Caso contrário, corre o risco de perder relevância ao não falar adequadamente de temas e assuntos de interesse dos leitores.
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