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Gosto muito de conversar com a juventude. Saio, sempre, com uma percepção de idealismo, paixão e a faísca da esperança. Recentemente, depois de uma conversa com estudantes, em São Paulo, fui abordado por um universitário. Leitor voraz, inteligente e apaixonado, seus olhos emitiam um sinal de desalento. “Deixei de ler jornais”, disse de supetão. “Não adianta o trabalho da imprensa”, prosseguiu meu jovem interlocutor. “A impunidade venceu.” Confesso, caro leitor, que meu otimismo natural estremeceu. Não se tratava do comentário de alguém situado no lusco-fusco da existência. Não. Era o diagnóstico de quem está nascendo para a vida. Por uns momentos, talvez excessivamente longos, uma pesada cortina toldou o meu espírito. Acabei reagindo, pois acredito na imensa capacidade humana de reconstruir a ordem social. Escrevo, por isso, aos homens de bem. Eles existem. E são mais numerosos do que podem imaginar os voluptuosos detentores do poder.
Escrevo aos políticos que ainda acreditam que a razão de ser do seu mandato é um genuíno serviço à sociedade. Escrevo aos magistrados, aos membros do Ministério Público, aos policiais, aos servidores do Estado. Escrevo aos educadores, aos estudantes, às instituições representativas dos diversos setores da sociedade. Escrevo aos meus colegas da mídia, depositários da esperança de uma sociedade traída por seus representantes. Escrevo aos pais de família. Escrevo, enfim, ao meu jovem interlocutor. Quero justificar as razões do meu otimismo. Faço-o agora. O Brasil está, de fato, passando por uma profunda crise ética. A corrupção, infelizmente, sempre existirá. Ela é a confirmação cotidiana da existência do pecado original. Mas uma coisa é a miséria do homem; outra, totalmente diferente, é a indústria da corrupção. Esta, sem dúvida, deve e pode ser combatida com os instrumentos de uma sociedade democrática.
Os homens de bem existem. E são mais numerosos do que podem imaginar os voluptuosos detentores do poder
A simples leitura dos jornais oferece um quadro assustador do cinismo que se instalou na entranha do poder. Os criminosos, confiados nos precedentes da impunidade, já não se preocupam em apagar as suas impressões digitais. Tudo é feito às escâncaras.
O Brasil, um país continental, potencialmente rico, sem conflitos externos, com um povo bom e trabalhador, ainda está na banguela. Os serviços públicos estão à deriva. Basta pensar na educação. A competitividade global reclama crescentemente gente bem formada. Quando comparamos a revolução educacional sul-coreana com a desqualificação da nossa educação dá vontade de chorar. A assustadora falta de mão de obra com formação mínima é um gritante atestado do descalabro de uma educação algemada há décadas pela ideologia e carente de conhecimento e conteúdo de qualidade.
Políticos sempre exibem números chamativos. E daí? Educação não é prédio. Muito menos galpão. É muito mais. É projeto pedagógico. É exigência. É não ter medo de reprovar. É liberdade. É humanismo. É aposta na formação do cidadão com sensibilidade e senso crítico. As pessoas têm uma clara percepção de que o Estado está na contramão da sociedade. O cidadão paga impostos extorsivos e o retorno dos governos é quase zero. Tudo que depende do Estado funciona mal. Educação, saúde, segurança, transporte são incompatíveis com o tamanho e a importância do Brasil.
Como virar este jogo? Demonizando a política? Buscando salvadores da pátria? Aceitando narrativas falsas e cínicas? Nada disso. A democracia, com seus defeitos, riscos e lentidões, é, de longe, o melhor remédio. Mas ela só funciona se você, amigo leitor, assumir sua responsabilidade de votar conscientemente.
Neste Brasil sacudido por uma brutal crise ética, alimentada pelo cinismo de certos homens públicos e pela mentira dos que deveriam dar exemplo de integridade, há, felizmente, uma ampla classe média sintonizada com valores e princípios que podem fazer a diferença. Nela reside a força e a estabilidade da democracia. As massas desvalidas, reféns do populismo interesseiro e da desinformação, só serão acordadas se a classe média decidir dar um basta à pornopolítica que cresce à sombra de um Judiciário frequentemente leniente e militante. O país do corporativismo, da impunidade do dinheiro e da força do sobrenome pode, aos poucos, abrir espaço para a cultura do trabalho, do mérito, da competência e do talento. A mudança depende do nosso protagonismo cívico.
Não devemos votar em candidatos sob suspeição, em políticos indiciados, em oportunistas ou covardes. É preciso, com lupa, procurar gente competente, preparada, com espírito de serviço e visão grande
As eleições estão aí. E é preciso votar bem. Não basta escolher, com liberdade e consciência, o presidente da República e os governadores. É preciso renovar, profundamente, o Congresso Nacional. A transformação do Brasil passa, necessariamente, pelos corredores do parlamento. Não devemos votar em candidatos sob suspeição, em políticos indiciados, em oportunistas ou covardes. É preciso, com lupa, procurar gente competente, preparada, com espírito de serviço e visão grande. Sobram projetos de poder e faltam projetos de país.
Não se deixe dominar pelo ceticismo. Há muita gente boa, séria, preparada. Escolha bem. Com liberdade e independência.
Verdade, liberdade e cidadania podem fazer do Brasil um grande país. Depende também de cada um de nós.
Conteúdo editado por: Marcio Antonio Campos