Poucas manifestações culturais brasileiras são tão belas quanto os balões não tripulados. Os tripulados e os dirigíveis também são brasileiros em sua origem, mas os balões não-tripulados aqui desenvolveram-se como forma de arte a proporções magníficas. Dos pequenos balões infantis às massas imponentes de papel ou tecido, elevando-se nobres e levadas ao mar pelas correntes aéreas, cheias de cores e luzes, eles têm uma dignidade que beira a mágica.
Infelizmente, como é comum acontecer no Brasil, a manifestação cultural é preterida em favor de um falso utilitarismo conjuminado a um positivismo de segunda categoria, a tal ponto que a impressão que tenho hoje é que querem ensinar às crianças que julho é a época de não soltar balão. Mas há esperança: um grupo de trabalho reuniu representantes da Aeronáutica e de grupos baloeiros do Brasil afora para tentar chegar a maneiras de conjugar a beleza e a cultura dos balões com os potenciais modernos de acidentes.
Um deles, o mais simples, a meu ver, não me parece ter sido ainda solucionado: balões, justamente por serem feitos da maneira mais leve possível para que voem bem, não aparecem no radar. Ora, o controle de tráfego aéreo, ao contrário dos radares militares, não confia apenas na captura do avião pelo radar; usam-se fundamentalmente os transpônderes, que são pequenos rádios transmissores que indicam a posição e uma identificação da aeronave. Os balões poderiam usar aparelhos descartáveis, que indicariam ao controle de tráfego sua localização e os impediriam de chocar-se com outras aeronaves.
Mas isso é uma solução, e soluções, infelizmente, não são de interesse de muita gente por aí. O que mais se procura são maneiras de controlar a sociedade e de sufocar as manifestações culturais mais ricas em prol de uma logorreia que a ninguém convence. O tal grupo de estudos, por exemplo, limitou-se aos balões sem fogo, que voam menos e mais baixo, visando antes afastá-los das rotas aéreas e das residências de onde poderiam ser apreciados, tratando o balonismo como uma espécie de vício negro a ser oculto em vez de virtude e beleza da cultura brasileira.
Tudo que existe tem riscos. O tráfego de um caminhão de combustíveis pelas ruas de uma cidade implica em um risco infinitamente maior que o de um balão a centenas de metros de altura sobre os campos; é apenas o utilitarismo mais crasso que despreza dentre eles o belo em prol do útil e do economicamente ativo.
Balões não dão dinheiro: balões dão beleza ou, mais ainda, devolvem beleza a um mundo cuja beleza roubamos com nossos edifícios, postos de combustíveis, depósitos de gás e demais riscos reais que preferimos ignorar em prol de um crescimento econômico que, sendo operado na feiura, não pode jamais chegar a ser virtuoso.
É urgente e necessário, pelo bem da própria alma do Brasil, que acabem o quanto antes as absurdas restrições legais ao balonismo não tripulado; elas podem e devem ser substituídas por medidas pensadas em conjunto pelos interessados que ajudem a – de modo utilitarista – diminuir os riscos sempre existentes em qualquer empreendimento humano de tão grande importância. O que não se pode fazer é continuar com essa palhaçada de proibir o que faz do Brasil Brasil. A resposta pátria será sempre a desobediência civil, no caso tornada ainda mais bela pela beleza de um balão que se eleva nos céus da madrugada fria de inverno. Que a lei seja acordada à realidade, é tudo o que peço e tudo com que sonho para meu país.
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