Há já alguns anos que vêm vindo à tona escândalo após escândalo de abusos sexuais cometidos por sacerdotes e mesmo bispos da Igreja Católica. Recentemente, o resultado de uma investigação feita pelo governo norte-americano apontou que em uma única diocese, ao longo de décadas, houve cerca de 300 padres abusando de pelo menos mil menores de idade. Seminaristas de Honduras escreveram uma carta denunciando uma claque homossexual que dominava os seminários. E por aí vai. O que agora vem se tornando claro, ainda que disso pouco se falasse no começo do escândalo, mas que eu vinha falando desde que estes horrores inomináveis começaram a vir à luz, é que as vítimas, em sua imensíssima maioria, não eram criancinhas, mas rapazinhos. Em outras palavras, não se trata, nunca se tratou, de um escândalo de pedofilia, sim de efebofilia. Ou, em outras palavras, de homossexualismo.
Cabe notar que não estou falando da condição de quem tem desejo sexual por pessoas do mesmo sexo de modo geral, e sim de uma incompatibilidade real entre este desejo e a vida sacerdotal. É como um gigante que queira ser jóquei ou uma pessoa da minha parca altura que queira jogar basquete: com muita dificuldade ele pode chegar em último, por haver uma incompatibilidade básica entre como ele é e o que se espera que ele faça. Este engano pode em muitos casos ser traçado a um engano de boa vontade, em que uma pessoa realmente religiosa, por ter atração sexual exclusivamente pelo mesmo sexo, não vê na proibição do casamento dos padres um obstáculo e decide dedicar-se à vida religiosa, indo para o seminário como outro iria para o Exército ou para o Banco do Brasil. Mas, como veremos, isso não dá certo. Este texto não é nem poderia jamais ser, assim, uma acusação geral às pessoas que têm atração sexual pelo mesmo sexo – o que, aliás, a doutrina católica ensina não ser pecado –, e sim à mistura indigesta desta peculiaridade pessoal com a vida sacerdotal.
E o sacerdócio católico foi infiltrado, nas últimas décadas, por homossexuais impenitentes, contrariamente às leis da Igreja, que proíbem terminantemente a ordenação de pessoas com desejo sexual por pessoas do mesmo sexo, e à própria lei divina. Na tradição católica, a sodomia é um dos quatro crimes que bradam aos Céus por vingança, comparável ao assassinato de um inocente. E, nestes casos, almas inocentes foram assassinadas.
Tenho experiência pessoal com isso. Fui seminarista décadas atrás, e meu seminário parecia a gaiola das loucas. Um colega uma vez me perguntou, suspirando, o que eu faria se um colega pusesse a mão na minha perna quando estivéssemos estudando lado a lado (eu era bonitinho, por incrível que pareça). Outro colega foi sexualmente atacado por um seminarista mais adiantado no provador de roupas de uma loja (!) e, indignado, saiu levando o sujeito aos bofetões para fora (é no que dá tentar agarrar um ex-paraquedista, como meu bom amigo e colega) e depois o denunciou ao reitor. O tarado foi expulso, mas a máfia cor-de-rosa de que ele fazia parte dedicou-se, então, a tornar a vida de meu amigo impossível. Chegaram ao ponto de dar sumiço no histórico de estudos dele, atrasando sua ordenação em um ano (ele teve de conseguir cartas de cada professor que já havia lhe dado aula, declarando que ele fora aprovado em cada matéria lecionada!). Dois colegas, imediatamente após a ordenação diaconal, foram comemorar em uma boate gay e foram reduzidos ao estado laical. Um colega, muito querido, tornou-se travesti, mandou cortar fora a própria genitália e construir uma vagina artificial, e hoje se dedica a ministrar hormônios a rapazinhos para afeminá-los. Pelo menos este não foi ordenado. Mas muitos foram. Dos cerca de 50 seminaristas do primeiro ano, com certeza pelo menos 40 eram homossexuais. Destes, uns 20 foram ordenados. Num convento com que eu tinha contato, ouvi de um frade que ele sofria tremendo “preconceito” (sic) por ter uma namorada, enquanto todos os demais frades tinham “namorados”(!)…
A subcultura criada por estas pessoas, que não têm absolutamente nada que fazer como padres, é um veneno que corrói e corrompe a instituição eclesial. Afinal, são pessoas que estão vivendo uma mentira, dentro de uma instituição cujo princípio, meio e fim é a adoração d’Aquele que é a Verdade, o Caminho e a Vida. Pessoas que poderiam ser felizes vivendo no mundo colocaram-se, e colocam-se ainda, numa situação insustentável. Primeiro, o próprio seminário. Imagino o que seria para mim viver por sete a dez anos em um ambiente fechado com belas mulheres, dividindo o banheiro e passando todo o meu tempo em contato próximo. Certamente eu ficaria atraído por elas; seria muito mais difícil manter-me casto e fiel aos meus votos que na sociedade em geral. Pois é essa a situação de uma pessoa que tem atração sexual pelo mesmo sexo em um seminário.
Havendo já uma claque corrupta lá dentro, é quase inevitável que ele acabe caindo em tentação. Ao fazê-lo, ele se torna membro da claque, partilhando dos segredos e do frisson da vida dupla, e mesmo que, no início, tivesse a firme intenção de viver castamente, acaba por corromper-se completamente. É comum que as práticas sexuais dentro de um tal meio cheio de segredos e excitações tornem-se compulsivas.
E aí o sujeito é ordenado e vai para uma paróquia. Vê-se livre, com um automóvel à disposição, mas com a alma já corrompida por anos de vida dupla. O ambiente de panela de pressão sexual em que viveu nas sombras do seminário não o preparou para uma vida casta aqui fora. Muito pelo contrário.
São esses que irão atacar sexualmente rapazinhos, pela simples razão de que os rapazinhos estão ao alcance e confiam neles. Mesmo o próprio confessionário acaba se tornando, para estes, local de caça de parceiros. Um rapaz que vá confessar um pecado de natureza homossexual acaba se tornando alvo dos desejos e ataques de alguém colocado em uma posição de autoridade e confiança. E são esses que, por conta da vida dupla que levam, vão acobertar os poucos corruptos cuja sexualidade os leva para outros lugares. A máfia cor-de-rosa acaba servindo também para acobertar padres que vivem maritalmente ou fornicam compulsivamente (um colega meu de seminário foi justamente expulso por ter fornicado com uma mocinha da paróquia onde fazia trabalho pastoral, usando a torre do sino para seus encontros sexuais; se fosse ordenado, provavelmente continuaria com o mesmo comportamento). A proteção de quem já vive uma vida dupla acaba por estender-se – pois uma mão lava a outra – até aos raríssimos verdadeiros pedófilos, os que são atraídos sexualmente por crianças que ainda não chegaram à puberdade. Estes, evidentemente, tampouco têm algo a fazer num seminário ou no clero, ainda que sua depravação seja mais facilmente escondida, ou mesmo sufocada temporariamente, no ambiente do seminário.
O papa Francisco vem falando sobre este tema, reiterando que não se deve aceitar num seminário ninguém sobre quem paire sequer uma sombra de dúvida quanto à orientação sexual (isso a mídia não conta) e, mais importante, apontando a diferença entre o pecado e a corrupção. Uma coisa é a pessoa ter uma tentação, e mesmo cair nela. A tentação – pelo outro ou pelo mesmo sexo – não é pecaminosa. Mas qualquer ato sexual cometido fora do casamento é pecaminoso. A mim, que sou casado, são proibidas todas as outras mulheres do mundo. A todas as pessoas são proibidas todas as demais pessoas que não são seu legítimo cônjuge. Mas digamos que uma pessoa tem atração sexual pelo mesmo sexo. Vê uma outra pessoa que a tenta e cai em tentação, tendo relações sexuais com ela. Ela pecou, e pecou gravemente. Se ela se arrepender, contudo, ela não está fora do reto caminho. Há casos e mais casos de pessoas que pecam, arrependem-se, caem de novo no mesmo pecado, arrependem-se, e por vezes passam décadas assim. Mas o foco delas, o objetivo delas, continua sendo não pecar. Continua sendo fazer a coisa certa.
Já a pessoa que se convence de que o errado é certo, que tem um frisson em fazer a coisa errada às escondidas, levando uma vida dupla, ou mesmo às claras, tornando-se publicitário do Inimigo, esta é uma pessoa que se corrompeu. Ela saiu do caminho. Ela está agindo contra ela mesma e contra seus melhores interesses. E, se sua impenitência a leva a pregar o erro, no confessionário ou no púlpito, o problema fica ainda mais grave. E isto não é raro.
Falharam os mecanismos de controle e discernimento das vocações na Igreja, e vão continuar falhando enquanto houver claques de padres e bispos corruptos aceitando rapazes com atração sexual por pessoas do mesmo sexo nos seminários. Este é o problema com que se deve lidar. Não é a primeira vez que isto ocorre, aliás: no dito Renascimento houve problema semelhante. Na ocasião, livros foram escritos sobre isso, lançando luz sobre o problema e ajudando a combatê-lo. O que realmente resolveu a crise de então, praticamente igual à de hoje, foi o surgimento de ordens e congregações santas, como os jesuítas, que atraíram as boas vocações e fizeram a Igreja se reerguer da lama em que um clero corrupto a havia mergulhado.
Mas lançar luz sobre o problema é um primeiro passo inevitável. Seria recomendável também retirar desses padres corruptos a capacidade de ouvir confissões e, em muitos casos, mesmo a de pregar. Melhor missa sem homilia que missa com homilia moralmente corrupta. Os casos mais graves poderiam ser levados a viver uma vida de penitência e oração em lugares onde não houvesse tentações para seus desejos sexuais. É o que a Santa Sé fez com alguns bispos nesta situação; esta prática poderia se estender aos padres, fazendo um bem a eles, à Igreja e ao mundo.
No fim das contas, sub specie aeternitatis, é bom que estes horrores tenham vindo à luz. É um tumor lancetado, com o pus vazando: feio de ver, mas melhor que se ele ficasse oculto, pulsando e envenenando o resto do corpo. Compete-nos, agora, fazer como orientava Santo Inácio de Loyola – justamente o fundador dos jesuítas –, e trabalhar como se tudo dependesse de nós e confiar como se tudo dependesse de Deus. Assim a Igreja, no seu lado humano, estará menos longe de corresponder plenamente ao seu lado divino.