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Eu me lembro como se fosse hoje do dia em que descobri, professor novato, que um dia de trabalho meu seria arrancado para premiar algum sindicato de que eu jamais ouvira falar e que nunca me fizera bem algum. Eu estava na secretaria da escola, contracheque na mão, tentando entender como aquele dinheiro, já tão pouco no bruto, diminuía tanto até chegar a minhas mãos. E lá estava a rubrica: “contribuição sindical”, com um valor proporcionalmente alto porque eu dava aulas apenas um ou dois dias por semana naquela escola. Eles me tiraram coisa de um quarto do dinheiro do mês, dinheiro contado de professor.

De lá para cá já me inscrevi em sindicatos – passando a pagar bem mais que isso diretamente a eles todo mês –, já me desenganei deles e já estudei seu papel na história e na política brasileiras. E uma característica deles, desde Getúlio, chama a atenção: os sindicatos no Brasil são, no mais das vezes, ninhos de políticos e outras espécies peçonhentas, sempre sugando fundos aparentemente inesgotáveis oriundos de benesses e proteções legais. As centrais sindicais, então, passam tão longe das funções precípuas de um sindicato que poderiam, aliás deveriam, ser chamadas por outro nome.

O fim da contribuição sindical obrigatória é o maior presente que poderia ter sido dado à política brasileira. Seu resultado será eliminar uma fonte de financiamento para forças políticas que não precisam responder a ninguém, que não precisam, paradoxalmente, representar ninguém. Muitos anos atrás existia a figura do juiz sindical: era um sujeito que representava os sindicatos nas negociações trabalhistas, trabalhando em meio-expediente e aposentando-se com coisa de oito anos de serviço. Hoje uma sinecura tão escandalosa não existe mais, mas permanecem as forças ocultas que movimentam as centrais sindicais e muitos dos sindicatos, afastando-os daqueles que deveriam ser representados por eles e fazendo o que na verdade não passa da mais rasa política partidária. O fim da obrigatoriedade da contribuição sindical deve ajudar a secar a fonte de renda dessas forças.

Foram feitas outras reformas, no mais das vezes pela metade, longe ainda do que seria necessário para aumentar os empregos e dinamizar a economia brasileira. Esta, todavia, sobressai dentre todas as outras: é, como disse acima, o maior presente que poderia ter sido dado à política brasileira. Nada mais perigoso que forças políticas com fontes de renda aparentemente inesgotáveis, sem responder a ninguém, agindo e agitando o cenário político e econômico em favor de interesses no mais das vezes inconfessáveis. Para que uma democracia representativa tenha alguma chance de funcionar – e a nossa parece estar querendo pegar no tranco no momento – a representação deve ser livre, aberta ao exame, clara, distinta e sem segredos. Tudo, em suma, que não são as forças que até agora se alimentaram dessa famigerada “contribuição” obrigatória.

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