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Foto: Pedro Serapio/Gazeta do Povo
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No fim do século passado, o Conselho Federal de Psicologia proibiu liminarmente qualquer tentativa de curar psicologicamente a chamada disforia de gênero. Em outras palavras, se o sujeito não se sente à vontade com os desejos sexuais que sente e que o lobby homossexual ora galopante defende, azar o dele. Se o que o incomoda é que sinta atração por pessoas do mesmo sexo, só o que ele pode fazer é bater palmas para isso, ou até, se desejar, mutilar-se cirúrgica e hormonalmente para parecer-se com membro do sexo oposto. As palmas, enquanto isso, esperam-se que nós as providenciemos.

Cerca de dois anos depois dessa triste Resolução 1/99 do CFP, fui debater na televisão, na estreia do programa Altas Horas, com um chefete do já instalado e já fascista movimento “gay” brasileiro. Lá tentei combater o absurdo totalitarismo e dirigismo de um movimento então ainda incipiente – se é que se o poderia chamar de incipiente depois de todo o esforço de apresentação de símbolos sexuais dúbios e andróginos por algumas décadas previamente.

Minha tentativa foi, claro, inútil. O programa deixava claro que tinha lado; antes de sermos apresentados, passaram um filminho com pessoas lindas correndo em câmera lenta com uma enorme bandeira de arco-íris, sendo contrapostas… a nazistas, claro. Seu inimigo é sempre Hitler, mesmo que seja você o candidato a ditador. Ninguém parecia se dar conta de que eram aqueles militantes que queriam proibir coisas – aliás, que já as estavam proibindo. Os fascistas já estavam, e estão ainda, do lado oposto, debaixo da bandeira multicolorida. Na época, a campanha ainda não estava tão bem instalada, o que valeu ao lado conservador do debate de fancaria que se instalou no programa o apoio entusiasmado dos jovens que lotavam as arquibancadas. O som delas teve de ser cortado para que a plateia em casa não percebesse, enquanto no seu desespero a equipe passava a usar técnicas cada vez mais solertes, como ir diminuindo o retorno dos microfones para tentar nos induzir a gritar e assim nos fazer parecer irracionais. Uma farsa, em suma, perpetrada em função de uma campanha altamente bem paga e bem planejada.

De lá para cá, seu poder social só fez crescer, em prejuízo da sociedade brasileira, tornando “normal” um comportamento que nunca o foi nem jamais o poderia ser, e nisso reduzindo nossa participação conjugal no mistério da Criação a mera forma de atividade pornográfica, em que o parceiro faz as vezes da mão direita do fornicador. Hoje em dia, ai de quem ousar suspirar em público menos que uma aceitação completa de uma suposta igualdade entre a relação homossexual e a relação matrimonial, ideia tão absurda que chocaria praticamente qualquer ser humano ao longo da história. Não nos esqueçamos de que mesmo os gregos, com sua efebofilia, não misturavam uma coisa e outra e não tratavam homossexualismo como casamento. São coisas diferentes, e como coisas diferentes devem ser tratadas.

Mas hoje não se pode mais tratar, não se pode mais pensar, não se pode mais agir de acordo com o que sempre foi feito, crido e mantido em praticamente todas as culturas conhecidas. Afinal, faz parte de todo processo de dissolução e decadência final de uma cultura que haja confusão entre o masculino e o feminino, com o subsequente enfraquecimento do matrimônio e aumento da fornicação, especialmente daquela que não é, em si, capaz de gerar nova vida. É o caso do homossexualismo, como o é da zoofilia e da pedofilia. A diferença é de grau, não de gênero. O conhecimento disto que ora descrevo é instintivo; apenas um processo de lavagem cerebral muito bem feito consegue, como é o caso agora, expurgar a reação imediata de desgosto que têm especialmente os que acabam de descobrir a tentação sexual diante de orientações e desejos de natureza sexual desordenados.

Muitas pessoas, ao se perceberem presas desses desejos, procuram – ou querem procurar – ajuda psiquiátrica ou psicológica. Não faz sentido algum que elas possam fantasiar-se cirurgicamente à custa do contribuinte, mas não possam tratar do que é evidentemente um “erro de mira” do aparato mental e do imaginário do aparelho reprodutivo. Não se trata de uma escolha pessoal; o indivíduo que tenha desenvolvido desordenadamente, por qualquer razão, a sua percepção de si mesmo e de sua sexualidade vai tender a comportamentos que não consegue controlar. Daí as repetições de abusos por pessoas sistematicamente abusadas em criança, daí as péssimas escolhas matrimoniais feitas a partir de elementos irracionais da própria história etc. Em qualquer momento deste processo seria de grande valia a intervenção psicológica, o aconselhamento, o auxílio profissional na busca da masculinidade que os elude e que buscam num “amor” narcisista ao espelho, na substituição da completude que viria de uma mulher pela apresentação de si que vem em outro homem. E é esta intervenção que foi proibida pela infame resolução do CFP, de que agora um corajoso juiz encetou a derrubada.

Não se trata de “cura gay” nem, muito menos, de considerar judicialmente que a tentação homossexual seja uma “doença”. Trata-se apenas de eliminar um obstáculo político e puramente fantasioso tanto ao tratamento psicológico quanto à própria pesquisa do masculino e do feminino, tão necessária no momento de confusão atual. Tampouco, por óbvio, seria algo que não seja voltado apenas para quem o deseja. Mas é o reconhecimento de que muita gente boa preferiria sair dessa espiral autodestrutiva o quanto antes. Trata-se, sim, de possibilitar tratamento psicológico a pessoas que o buscam e dele têm necessidade, pessoas que percebem, como a quase totalidade da humanidade sempre percebeu, que não é nem saudável nem aconselhável fazer do sistema reprodutivo mero brinquedo. Mas a campanha de cuja vanguarda a CFP fez parte, quase duas décadas atrás, recusa-se a permitir a liberdade daqueles que ela pretende usar (e usa) como porta-bandeiras involuntários. A pessoa com atração sexual por pessoas do mesmo sexo só tem valor para a militância como massa de manobra, bucha de canhão ou, pior, material de consumo humano. Sua vontade, seus desejos reais, suas questões psicológicas têm de ceder o lugar à política de subversão da família para a qual estão sendo usados.

Não existem “gays”, como não existem “heterossexuais”. Existem seres humanos, cada um diferente do outro, e dentre todos estes indivíduos há todo tipo de problema. A sexualidade, como a violência e o apetite, é um dos campos mais baixos e simples de expressão; qualquer cachorro ou porco do mato tem sexualidade, violência e apetite. São componentes tão básicos que eu arriscaria dizer que são pouquíssimas as pessoas que não apresentam alguma disfunção na operação de cada um deles. É a herança de Adão.

Por sua vez, os desejos sexuais não podem de modo algum ser usados para identificar alguém, pois eles não são a pessoa que se busca identificar. Ser algo é o oposto de desejar algo. Assim, os desejos sexuais são algo que a pessoa busca ter e não tem: quem busca o sexo oposto quer ser completado por ele naquilo de que não dispõe, e quem busca o próprio sexo quer completar-se naquilo de que sente falta. E é aí que a psicologia pode ajudar tremendamente, retirando a pessoa de um ciclo vicioso que só pode fazer-lhe mal.

A situação prática de uma pessoa com desejos sexuais para com pessoas do mesmo sexo é a mesma de uma pessoa abandonada pelo cônjuge, por exemplo: é um chamamento à castidade, por razões que a pessoa não controla nem escolheu. Não é o fim do mundo. Certamente é bem menos agradável, ou parece bem menos agradável, que viver a normalidade da relação matrimonial, mas não só é perfeitamente factível como, em muitos níveis, foi o padrão da existência humana civilizada. Ser civilizado significa conseguir, ao contrário do porco do mato ou da iguana, controlar a própria sexualidade, violência e apetites, inclusive com auxílio psicoterápico profissional. E é isso que o CFP tenta impedir, chegando a cassar o registro de psicólogos corajosos que procuram ajudar seus pacientes aflitos.

Tudo isso faz parte, como já escrevi neste espaço, de um projeto de desconstrução da sociedade, motivado pela superstição de base marxista de que destruindo o que temos inevitavelmente há de levantar-se algo melhor. Não é o que mostra a história; cada fim de civilização, como este em que estamos imersos, foi seguido por longos séculos de trevas. É por isso que se faz tremendamente necessário combater, ao menos no âmbito familiar e pessoal, e preferencialmente no nacional e mesmo global, as campanhas perversas de subversão da sociedade. É a sociedade que temos que ainda nos mantém vivos; sua dissolução, no Brasil, já chegou a um ponto em que nenhuma mulher é mais livre para andar sozinha à noite, e mesmo a polícia tem medo do poder de fogo do crime. Será que queremos que isso piore? É tudo uma coisa só, uma campanha só: o que se deseja é “reiniciar” a sociedade, como se isso fosse possível, como se a humanidade fosse um computador ou celular. Não podemos cair na armadilha da famosa história do sapo que é posto na água fria e morre fervido por não perceber que a água está sendo gradualmente esquentada. Se o pobre bichinho houvesse sido jogado na água quente, teria pulado fora e escapado com queimaduras leves apenas. Nós estamos na situação do sapo da parábola: forçados há já décadas a bater cabeça para os ditames de um politicamente correto absurdo, já é tristemente comum encontrar uma normalização de comportamentos como se fosse realmente possível, por qualquer medida, igualar buscas desordenadas de prazer com o matrimônio. Não podemos perder o dom de ficarmos chocados, a graça de percebermos o erro, pois é a nossa sociedade que está sendo demolida a cada resolução fascista de um conselho disso ou daquilo. Temos, sim, o dever moral de tolerar e suportar pacientemente todos os demais; a tolerância, contudo, não pode jamais se deixar transmutar em aceitação inconteste do mal, menos ainda em sua normalização. O erro continua sendo errado, e ainda que possa ser tolerado ele não pode jamais ser aplaudido ou elevado a foros de normalidade.

Ainda por cima, o mesmo mecanismo que se usou para normalizar a homossexualidade está em pleno curso para fazer o mesmo com outros comportamentos, a começar pela pedofilia; já se está confundindo propositada e persistentemente o sentido original da palavra, e surge o balão de ensaio de que a pedofilia seria um problema mental que não levaria necessariamente seu portador a abusar de crianças, separando a pessoa do ato já descaracterizado, para aumentar a confusão. Em breve veremos o surgimento de campanhas destinadas a envergonhar os pedofilofóbicos, ou sei lá como vão inventar de chamar as pessoas que persistam coerentemente na compreensão biológica e moral de que é necessário que haja dois adultos de sexos opostos para haver matrimônio e, portanto, relações matrimoniais. O mesmo provavelmente deve ser feito para com esses masturbadores compulsivos que parecem ter brotado de debaixo das pedras por essas semanas, especialmente em coletivos, com zoófilos, necrófilos etc. Quando se substitui o amor conjugal por um imaginário pornográfico e se reduz o sexo a uma forma de promover sensações agradáveis, não há mais limite possível. E é isso que temos de combater. Não se trata apenas de uma resolução fascista do CFP, ainda que tal resolução deva, sim, ser derrubada. Trata-se da liberdade mais essencial no homem, de controlar (em vez de ser definido por) aquilo que é dele e está abaixo de sua razão: sua sexualidade, sua violência, seus apetites.

É fundamental que quem tem amor à civilização e à cultura que nos formou não se deixe levar por essas campanhas. O papa Paulo VI, com enorme presciência, denunciou profeticamente tudo o que estamos vendo acontecer na sua encíclica Humanae Vitae; vale a releitura.

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