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Com a possibilidade de prender o maior ladrão que já pisou nestas terras, que Padre Antônio Vieira já avisava estar tão cheias deles, encerra-se mais um ato na tragédia pátria. Esta tragédia, todavia, foi causada desde o início pela incompetência política dos militares. Nem falo da quartelada que derrubou a monarquia e nos colocou no caminho do fracasso ao nos dar um regime inadequado à nossa cultura. Falo de tempos mais recentes: quando, em 1964, ouvindo o clamor das ruas, os militares derrubaram o desgoverno de João Goulart, ninguém esperava e ninguém queria que eles fossem guardar o poder por décadas em suas mãozinhas pegajosas. Menos ainda se imaginava, então, que eles fossem aproveitar o longo período de domínio completo do país para, na prática, garantir que apenas a esquerda, inclusive e especialmente a extrema-esquerda, tivesse representatividade política. Eles agiram como um médico que, chamado para tratar de um resfriado, internasse o paciente por meses enquanto nele injetava bacilos de tuberculose.

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Os líderes de direita existentes em 1964 foram alijados da política pelos sucessivos governos militares. A própria política foi trancada no armário de vassouras por eles, com um governo tecnocrático que fingia serem decisões técnicas todos os atos de governo executivo, e com isso varria para debaixo do tapete todas as tensões políticas reais, preparando um ambiente malsão em que elas só poderiam piorar. Neste ponto, aliás, Plínio Corrêa de Oliveira, que na prática é o pai ou avô espiritual de quase todo o anticomunismo brasileiro, alertou-os inúmeras vezes, tendo eles, contudo, feito ouvidos de mercador a seus argumentos. O povo brasileiro é conservador, lembrava ele. Se se deixa os comunistas falar, dá-se corda para que eles se enforquem. Mas, se se os cala, eles são percebidos como vítimas e ganham a simpatia do povo. Mas era como falar com as paredes. Ou com a ponta errada de um fuzil automático leve. Assim, previsivelmente, a esquerda, furiosa por ter sido apeada do poder quando se via prestes a implantar sua sonhada ditadura do proletariado, persistia em sua fúria, chegando mesmo ao terrorismo armado, enquanto do outro lado do plano político – que não deixa de existir por ser ignorado pelos governantes – a direita foi aos poucos sendo substituída por meros aproveitadores. Quando, no crepúsculo da era militar, os pilantras vulgares Paulo Maluf e José Sarney eram o que fazia as vezes da direita, já era possível perceber o tamanho do estrago provocado pela inépcia militar. Nem falo da hedionda importação de seitas “crentes” americanas para retirar até mesmo da Igreja a capacidade de ação política, o que na prática dividiu e divide o país e incentiva a superstição e o estelionato. Edir Macedo e seus muitos êmulos também são filhos dos militares.

Em vez de preparar políticos anticomunistas ou, melhor ainda, devolver aos já existentes o poder e apenas dedicar-se a impedir a ascensão ao poder de totalitários de qualquer estirpe – fascista ou comunista –, na prática o que os militares fizeram foi garantir que, quando o poder fosse devolvido à disputa civil, só sobrasse no ringue a esquerda. O que conseguiu, incrivelmente, piorar ainda mais a situação no longo prazo foi a ideia de jerico do general Golbery de dar aos comunistas uma “válvula de escape” justamente nas universidades, onde – claro! – eles se dedicaram a perverter as novas gerações de tal forma que hoje História, Sociologia e até mesmo Geografia são no Brasil os feudos encastelados da extrema-esquerda, garantindo que cada geração deformada pelas nossas péssimas escolas saia de lá com uma visão completamente distorcida da realidade passada, presente e futura de nosso país. Basta ver como a caravana ilegal de campanha política do ex-presidente e futuro presidiário foi avançando (debaixo de ovos) de universidade federal em universidade federal, sabendo que apenas nos acampamentos do MST a extrema-esquerda tem representação mais forte. Aliás, o eixo USP-ABC de dominação comunista, que uniu os sindicatos ao professorado de extrema-esquerda sob os olhos benevolentes de generais apatetados, foi a origem de todos os presidentes da Nova República, com a exceção de Collor (que não por acaso foi forçado pela esquerda a pular fora em pleno voo, com direito até a minissérie da Globo, sempre ágil em perceber de que lado o vento sopra). O resultado de tanto despreparo e incompetência da parte dos militares é que, ao voltar com décadas de atraso aos quartéis, eles entregaram o Brasil de bandeja a uma extrema-esquerda que jamais teria representatividade eleitoral mínima de outra forma. A medir apenas por suas plataformas políticas, o PT e o PSDB não seriam eleitoralmente diferentes do PSTU se não fosse pelo apadrinhamento de fato daqueles pelos militares.

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Os representantes mais ferozes da extrema-esquerda, os mesmos que haviam apelado ao terrorismo na tentativa de instalar no Brasil uma ditadura totalitária nos moldes de Cuba ou Coreia do Norte, voltaram festejados do merecido exílio, botando banca de “heróis”. O panorama político em que desembarcaram triunfantes os violentos paus-mandados de Moscou era um deserto. Não havia quem pudesse opor qualquer resistência à extrema-esquerda, senão a esquerda fabiana. Ora, como esta só quer evitar muita bagunça no processo de instalar a mesmíssima ditadura, na prática não havia ninguém. Até hoje simplesmente não há um só estadista anticomunista (com perdão do pleonasmo) no Brasil. Nem pra remédio. Só o que a extrema-esquerda permitiu haver foi o bobo da corte Bolsonaro, que é exatamente tão preparado para governar este país de dimensões continentais quanto qualquer suboficial ou taxista, e só lidera sua farta prole.

No frenesi de alegria da esquerda, tendo recebido de graça dos militares um ambiente político todinho seu, verdadeira tábula rasa para suas distopias, escreveram eles o bestialógico indigno do papel em que está escrito que hoje em dia passa por Constituição. Uma “Constituição” que tenta legislar até mesmo sobre bactérias não pode mesmo ser levada a sério. Convenhamos: se a redação do artigo 196 da famigerada “Constituição Cidadã” rezasse que “tratamentos médicos são direito de todos e dever do Estado”, estaria instaurando uma utopia. Ao rezar, contudo, que “[a] saúde é direito de todos e dever do Estado”, ela penetra firmemente no território do delírio, do desejo de ser deus no lugar de Deus. A saúde pode ter sido direito de Adão e Eva, mas na humanidade decaída de nossos dias basta um viruzinho microscópico para acabar com tão delirante “direito”. Como o impossível não obriga, a Carta torna-se na prática letra morta.

E o mesmo, ou pior, vigora no que diz respeito a como governar o país. Fez-se uma Constituição para um regime parlamentarista, mas, como o plebiscito que escolheria o regime de governo foi criminosamente antecipado quando a esquerda dominante deu-se conta de que acabaria com uma monarquia em mãos, tem-se uma roupa que não serve no manequim. O único meio de governar é  literalmente alugando os votos dos 300 picaretas que, conforme declarou o próprio larápio-em-chefe, perfazem a maioria do Congresso. E é isso que fez o PT, no seu afã de instaurar aqui uma ditadura que reconquistasse na América Latina o que foi perdido pelos comunistas na Europa Oriental, como eles mesmos declararam já com todas as letras no Foro de São Paulo. Sem distribuir benesses no parlamento nada se faz na terra da CF88, nem mesmo a transformação do Brasil numa distopia comunista. É para isso que foram desviados – roubados – bilhões de dólares da Petrobras. É para isso que o BNDES foi posto ao serviço da revolução latino-americana, com as empreiteiras amigas construindo superfaturadamente e a fundo perdido portos em Cuba, refinarias na Bolívia etc. O tríplex e o sítio do Lula são as moedinhas que caíram do bolso; são a declaração de imposto de renda de Al Capone. Os crimes reais continuam impunes, e o gerente-mor deles, o agente confesso do serviço secreto cubano José Dirceu, está vergonhosamente solto e em ação na capital federal. E foram os militares que nos colocaram nesta triste situação. A responsabilidade cabe inteirinha no seu colo verde-oliva.

É por isso que, pessoalmente, achei patéticos os bufos e arrufos de generaizinhos de tuíter na espera ansiosa, junto com toda a população brasileira, pela decisão de um Supremo Tribunal mais que aparelhado. A questão na verdade era outra: graças aos militares, o STF já se transformou em parlamento, com direito inclusive a discursos inflados e tão autorreferentes quanto ridículos. Mas qual seria a política feita por ele? Seriam os ministros agradecidos pessoalmente a quem lá os colocou? Ou – como ocorreu – sacrificariam o Lula, perdendo os anéis para salvar os dedos?

O fato é que toda esta crise está na conta dos militares. Graças aos filhos de Caxias a esquerda chegou ao poder, num país cuja população é estrondosa e majoritariamente conservadora. Graças às incompetências castrenses, Lula conseguiu ser eleito assim que parou de arrotar revolução e fingiu ser um “Lulinha Paz & Amor” para iludir o conservadoríssimo eleitorado brasileiro, que tanto anseia por representantes condignos que chega a engolir Bolsonaro, faute de mieux. Graças aos formados nas Agulhas Negras, temos uma Constituição que parece mais uma plataforma de partido político de esquerda que uma Carta Magna. Graças aos da Pátria amada fiéis soldados por ela amados, temos um Supremo Tribunal completamente aparelhado pela esquerda. E, finalmente, graças a décadas de incompetência institucionalizada em nível de Estado-Maior, não há absolutamente nenhuma liderança política anticomunista num país em que os comunistas de verdade jamais passaram de uma ínfima minoria, por mais barulhentos e perigosos que possam ser.

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Lula, se Deus quiser, vai ser preso em breve. Mas quem o formou e permitiu que chegasse lá e tanto roubasse foram os mesmos generais que ora bufam de machos no tuíter. Generais de tuíter são um triste sucedâneo de Dom Sebastião, mais ainda quando nos damos conta de que quem botou o bode na sala foram eles.