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Foto: Albari Rosa/Gazeta do Povo
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O sistema educacional brasileiro tem tantos problemas que seria mais fácil desmontar tudo e começar de novo do zero. Um dos problemas mais graves, aliás o que é de longe o mais grave, é a absurda inversão das prioridades que o caracteriza. O ensino elementar – ensinar a criança a ler, escrever e fazer contas, o básico para que ela possa conviver em sociedade – é deixado de lado em favor de caríssimas universidades que têm como alunos dos cursos mais concorridos normalmente apenas pessoas de classe média alta. Os outros cursos são normalmente meros repetidores de ideologias de esquerda, em que se entra analfabeto e se sai analfabeto de esquerda, servindo apenas para que a universidade possa dizer que a maior parte de seus alunos é de família pobre. Sem separar os dados por curso é fácil enganar os bobos.

Ora, o que a sociedade precisa do sistema educacional é, primeiro, que todos saibam ler, escrever e fazer contas. Ponto. Isto é o básico. Sem isso não dá nem pra varrer rua direito, que dirá votar. Mas eis que 50% dos universitários (!) são analfabetos funcionais, ou seja, incapazes de compreender um texto escrito. Creio que provavelmente os meus poucos leitores devem já ter tido a experiência de escrever algo numa rede social e ver comentários escritos por pessoas que entenderam exatamente o oposto do escrito. Aqui mesmo há bons exemplos: quando escrevi outro dia que cachorro não vai pro Céu, um monte de gente furiosa me escreveu acusando-me de defender o boçal que matou um vira-latas a pauladas dia desses. Isto é o analfabetismo funcional em ação: a pessoa consegue juntar letrinhas e compor palavras, mas não consegue entender o sentido de um texto. Sem que o sistema educacional elementar brasileiro, tanto o público quanto o engessado pelo Estado (pois são tantas as demandas e regras perfeitamente obscenas contra o ensino particular que não se o pode propriamente dizer “particular”), cumpra o seu papel e solte no mundo apenas pessoas plenamente alfabetizadas, não há como nada de moderno funcionar no Brasil.

A segunda prioridade do sistema educacional há de ser o ensino profissionalizante. Mais uma vez, os desgovernos que arruínam nosso país desde o fim do Império foram tornando cada vez mais difícil que esta função fosse exercida a contento. Até os cursos técnicos de há algumas décadas foram empurrados para a frente e transformados em cursos pseudo-universitários. Hoje, o jovem que queira formar-se técnico em química ou mecânica industrial precisa cumprir a mesma carga horária de Humanas que o rapaz que deseje prosseguir para estudos universitários nesta área. E, para completar a palhaçada, a matéria via de regra é tão mal lecionada que na universidade o segundo rapaz terá que fazer um curso supostamente emergencial para aprender “de novo” aquilo que a escola não foi capaz de ensinar.

E, finalmente, a última prioridade haveria de ser a universidade. E, digo mais, não essa ideia absurda de “universidade para todos”, porque, por definição, estudos superiores não podem ser para todos. O percentual da população com capacidade real para fazer estudos realmente superiores é de menos de 5%. Quando se tenta criar universidades para todos, o que se faz é destruir as universidades, transformando-as, na melhor das hipóteses, em cursos técnicos. E é isso que vem acontecendo. Os cursos de Direito transformaram-se em cursos técnicos de direito positivo, e por aí vai. O nível de aprendizado que se esperaria ao ingressar num curso de graduação de uma universidade acaba não sendo atingido nem no doutorado. Lembro-me sempre de um amigo meu, professor doutor europeu que veio passar um ano estudando no Brasil e foi convidado para lecionar numa universidade brasileira. Qual não foi o susto dele quando, no primeiro dia de aula, constatou que não só nenhum dos alunos havia lido os livros apontados na ementa – pois ele, vindo de um lugar em que o ensino superior é sério, esperava que todos os houvessem lido de cabo a rabo antes da primeira aula, claro – como que provavelmente nenhum deles jamais havia lido um livro na vida. E mais, provavelmente sairiam da faculdade no mesmo estado, tendo lido apenas capítulos xerocados deste ou daquele livro. Isto não é ensino superior nem aqui nem na Cochinchina. Isto é, sim, uma vergonha nacional. Seria muito melhor não ter universidades que chamar “universidade” a semelhante palhaçada.

Pois é este o estado mais que calamitoso da educação no Brasil. As verbas vão quase todas para as nossas pseudo-universidades, esses cursos técnicos mal disfarçados, enquanto o ensino elementar morre à míngua e o ensino técnico é na prática destruído por absurdas imposições legais. Para completar o delírio, é proibido aos pais tirar os filhos dessas fábricas de analfabetos para ensinar-lhes em casa. As crianças precisam ir lá aprender tudo errado, ou não aprender, e os pais que quiserem consertar o problema o têm em dose dupla: além de ensinar, eles têm que desensinar as asneiras proferidas pelos péssimos professores.

E os professores são péssimos porque o sistema é péssimo e premia quem trabalha mal. O bom professor não tem incentivo algum, e o que empurra com a barriga leva vantagem em tudo. A formação pedagógica não ensina absolutamente nenhuma técnica que funcione, dedicando-se a besteiras ideológicas e delírios políticos que em nada ajudam nossas heroínas, as professorinhas do ensino fundamental. Estas, aliás, hoje em dia frequentemente leem e escrevem pior que um aluno do ensino fundamental no tempo de suas bisavós. Mas a culpa não é delas: elas estão tentando fazer o que podem, sem recursos, sem ter quem as ensine, sem ter meios, sem ter técnicas, sem ter nada que não seu amor às crianças e sua boa vontade. É criminoso o abandono em que jazem.

As próprias escolas particulares também são desincentivadas a fazer um bom trabalho. Só para começar, por exemplo, se uma escola particular identifica um menino talentoso de família pobre e lhe dá uma bolsa, ela é forçada a pagar impostos sobre o dinheiro que não recebe daquele menino. E se outro menino tem um pai espertalhão que resolve não pagar as mensalidades, a escola é obrigada a mantê-lo como aluno por dois anos sem reclamar (se mandar uma cartinha é multada em duas vezes o que o pai lhe devia; já vi isso acontecer), e quando o picareta resolver transferir o filho a escola é proibida de avisar aquela para onde ele está indo. Para não falar dos currículos delirantes que o governo impõe a todas as escolas, públicas e particulares, das exigências legais que restringem grotescamente o mercado de professores, e tantas outras coisas más. Dono de escola particular no Brasil também é herói.

É esta a situação calamitosa que o próximo governo receberá. O próximo ministro da Educação parece ser um bom homem, com a cabeça no lugar, a julgar pelas declarações que fez. Mas ele terá diante de si um trabalho de Hércules. As cavalariças de Áugias da educação brasileira não serão limpas com uma vassourinha de piaçava: só mudando o curso de um rio para dentro delas para levar embora todo o estrume que envenena a alma do país. E talvez este rio seja o Aqueronte.

Mas um bom começo seria liberar a educação domiciliar, retirar as amarras das escolas particulares, e fechar 95% das universidades públicas para aplicar sua verba na formação das professorinhas do ensino fundamental: são elas que constroem o Brasil.

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