Segundo Camus, o suicídio é o único problema filosófico sério. Afinal, suicidando-se, não sobra quem filosofe. Esta ideia vem, evidentemente, de uma visão de mundo segundo a qual, a priori, não existe uma ordem de todas as coisas, aquilo que São Tomás de Aquino chamava de ratio divina. Se o mundo é caos e desordem apenas, se nada tem sentido, a única coisa que pode dar ou negar sentido às coisas é o próprio homem que pensa. E, ao matar-se, ele negaria totalmente às coisas uma ordem. A ideia é de uma vaidade e uma arrogância incomensuráveis, que me fazem lembrar um bom amigo que tive, que dizia que ao estudar qualquer autor filosófico moderno em algum momento se descobriria que o sujeito se coloca no lugar de Deus. E é este o caso na afirmação de Camus.
Mas esta ordem de todas as coisas é expressa de várias maneiras diferentes. A mais evidente delas é pelas ditas leis da natureza: posso ter a certeza de que ao acordar amanhã a constante gravitacional não se terá alterado; posso respirar sem medo de que o oxigênio do ar se tenha subitamente transformado em metano; posso ficar tranquilo, sem medo de que de uma vaca prenha em vez de um bezerrinho nasça um dragão voador, soltando fogo pelas ventas.
Em um segundo plano, por ser muito mais dependente do homem – este pobre animal que depende da razão e (por que não?) da graça de Deus para adequar-se a essa ordem de todas as coisas –, vemo-la naquilo que fazemos a partir dessas leis da natureza: construímos casas com cimento que não se transformará do nada em gosma, rasgamos estradas com asfalto que não se fará em areia movediça, aproveitamos as fabulosas propriedades da eletricidade, literalmente domando os raios em que os antigos viam a fúria divina em ação para que eles, os poderosos raios, humildemente lavem nossas roupas, iluminem nossas casas, assem-nos pães e bolos e aspirem as teias de aranha de nossos livros.
A partir desta plataforma secundária, mas já necessariamente humana (abelhas fazem colmeias e joões-de-barro fazem casinhas redondas; eles não seriam capazes de construir outra coisa, mesmo tendo em tese todas as ferramentas necessárias), por sobre esta plataforma, construímos uma sociedade. Ou, antes, mantemos a sociedade que herdamos, pois uma ordem social não é algo que se consiga construir voluntariamente. Para que ela funcione, é necessário que ela se apoie na natureza humana que, a seu modo, é tão intransformável quanto a dos joões-de-barro ou abelhas. Assim como os animais irracionais não conseguem fazer outra coisa que não aquilo que seus instintos lhes dizem que façam, o ser humano não consegue, por conta própria, dobrar seus instintos à razão. Ou seja: se alguém se convence (ou é convencido por outro, tanto faz) de algo que vai contra a sua natureza, os seus instintos e desejos arraigados numa base biológica, ele terá que lutar a cada segundo para dobrar sua natureza àquela noção que ele tem por racional. E na maior parte das vezes, agindo sozinho, ele perderá a guerra e, mais cedo ou mais tarde, esses instintos ganharão batalha após batalha, até que a obediência a eles, não àquela noção mental, se torne a regra.
A sociedade é composta de regras e relações. Se elas estão de acordo com a natureza humana, maravilha. Tudo funciona mais ou menos bem, na medida em que aquilo que a sociedade demanda de seus membros é relativamente simples, relativamente fácil de cumprir. Se elas, todavia, não o estão, a coisa começa a complicar bastante, na medida em que a luta interna de cada membro da sociedade gera tensões extremas, que fatalmente irão extravasar em outros planos de comportamento. Destarte, problemas graves mas aparentemente contidos (pela força, pelo temor do ostracismo, ou por qualquer outro mecanismo social) em uma área vão gerar problemas sistêmicos em outras áreas, muitas vezes de tal forma que fica difícil perceber tanto a origem do problema quanto as suas possíveis soluções.
Este é o caso dos cada vez mais frequentes ataques fatais perpetrados por rapazes contra pessoas de algum modo diferentes deles (no horrendo caso de Susano, contra escolares, especialmente mocinhas em idade núbil; no igualmente medonho caso de Christchurch, contra muçulmanos em oração; nos inúmeros ataques perpetrados por muçulmanos na Europa e alhures, contra passantes inocentes), que muitas vezes se encerram com o suicídio do atacante.
De onde vem isso? Por que os rapazes estão voltando contra parte da mesma sociedade em que vivemos todo o seu potencial de violência? Afinal, em uma sociedade ordenada, ele seria usado para a defesa contra inimigos externos, para a produção ou qualquer outra causa que necessite de uma busca de infinito, acompanhada por enorme capacidade física e mínima capacidade mental, como é o caso dos rapazes na faixa de idade em que são cada vez mais comuns esses ataques aparentemente sem sentido?
Cheguemos lá, por assim dizer, pelo lado. Há sociedades pacíficas e sociedade guerreiras. Estas últimas, geralmente, têm uma diferença crucial em relação àquelas na forma de organização da sua célula primeira, que é e sempre há de ser a família: sociedades guerreiras tendem a admitir, ou mesmo incentivar, a poligamia. Isto se explica facilmente pelo fato de que são os rapazes que vão para a guerra e morrem aos magotes. De cada tantos que vão, voltam uns poucos, cobertos de glórias e cicatrizes, e estes se casam com as moças. Várias moças para cada rapaz. A eles somam-se os mercadores ricos, que mesmo velhos vão aos poucos aumentando o seu harém. Desta forma, essas sociedades mantém um certo equilíbrio, em que não sobram moças solteironas nem homens sem esposa. Afinal, pela natureza nascem umas poucas mulheres a mais que nascem homens, justamente para que a expectativa de mortalidade precoce do sexo masculino, que é maior que a do feminino devido à maior exposição masculina à violência, seja contrabalançada. Se há uma mortalidade maior no sexo masculino, faz-se necessário que cada homem possa ter várias mulheres (ou, vendo de outro modo, que várias mulheres possam dividir um homem), para que se preserve esse equilíbrio. Dado, contudo, o potencial de conflito exponencialmente maior de um lar em que há várias mulheres e um só homem, essas sociedades tendem também a facilitar o divórcio e o recasamento, para que essas configurações poligâmicas tenham a fluidez necessária para impedir conflitos domésticos mais graves. Numa sociedade poligamista e divorcista, contudo, surge um problema grave de lealdades nas novas gerações, na medida em que as crianças mudam de lar várias vezes ao longo da vida, de acordo com o harém a que naquele momento sua mãe pertença até uma certa idade, e de acordo com os desejos do pai no mais tardar a partir da puberdade.
Já nas sociedades pacíficas, tanto o divórcio quanto a poligamia são no mínimo mal vistos. Afinal, uma configuração matrimonial estável é muito mais propícia para a criação de filhos que perpetuem aquela cultura. É socialmente muito melhor que cada geração seja criada em um lar que não muda, por um casal que não apenas a gerou como primeiro se percebe encarregada de sua educação e depois passa, inversamente, ao seu encargo pessoal quando idoso. Irmãos que têm o mesmo pai e a mesma mãe têm mais razões para serem unidos que meios-irmãos, e é-lhes mais fácil cuidar dos pais idosos.
Isto falando de sociedades estáveis, de sociedades em bom estado de funcionamento. Mas tal já não é o caso da nossa, que está em estágio terminal de decadência e degeneração, ao ponto de ter perdido de vista fatos elementares do que constitui um agrupamento social. Coisas que até uma abelha ou um passarinho fazem tornaram-se opacas e desprovidas de sentido para grande parte dos membros de nossa sociedade. E como, ao contrário dos demais animais, o homem soma aos instintos (ou, antes, equaciona com eles) a razão – certa ou errada – e a graça divina, a perda de noção de fatores elementares da manutenção de uma ordem social minimamente adequada à ratio divina leva a perversões tremendas, por introduzir, como escrevi acima, um fator de tensão enorme entre as expectativas que se têm por racionais e a natureza humana, em sua inflexibilidade.
Vi outro dia um exemplo claro disso. Comentei com uma pessoa muito querida sobre como moças arranjam maridos e rapazes arranjam esposas, e ela me respondeu, visivelmente horrorizada, que “ninguém tem que ‘arranjar marido’! As pessoas podem namorar, apaixonar-se, casar e, se quiserem ficar casadas toda a vida, bem; se não quiserem, amém.”. Achei interessante, sociologicamente falando, a resposta, por ser tão emblemática da perda de uma noção crucial para o desenvolvimento e manutenção de uma sociedade. Disseco-a a seguir, aproveitando o espaço ilimitado que esta coluna virtual me dá (lembro-me ainda do tempo em que cada texto tinha que ter até 2700 caracteres!):
O primeiro ponto crucial é a introdução do “apaixonar-se” no roteiro. A paixão é simplesmente o método que, já durante o seu período de decadência, a nossa sociedade passou a preferir para a escolha dos cônjuges. É provavelmente o pior método possível, na medida em que quem está apaixonado, por definição, não está em perfeitas condições mentais. Mas tudo bem. Passa. Note-se, contudo, que para a sociedade atual esse “apaixonar-se” torna-se não apenas condição suficiente para o matrimônio, como toma o lugar dele. Em outras palavras, as pessoas se casam para celebrar o fato de estarem apaixonadas. Ora, o matrimônio é uma aposta no futuro, um compromisso para com a sociedade e as futuras gerações (que devem nascer e crescer naquele lar), não uma celebração do presente. Só aí já se nega o matrimônio e – pelo fato de paixões serem necessariamente passageiras – se coloca a estrutura familiar em risco gravíssimo.
O “namorar” da resposta, ainda, certamente implicaria num convívio sexual pré-matrimonial, que é a prática na sociedade atual, devido a seu alto grau de degeneração. Do namoro sexuado viria a tal paixão, que seria celebrada com uma festa pseudomatrimonial. E o casamento propriamente dito não aconteceria de fato por negação de pelo menos uma de suas características, que é a indissolubilidade. “Casa-se” até que a paixão acabe, até que a falta de paixão os separe. Sem a indissolubilidade matrimonial como valor social e pessoal, é praticamente certo que a mulher seja em algum momento deixada de lado pelo homem. Se ele não estiver assumindo, no ato matrimonial, o compromisso de manter-se ao lado dela e protegê-la pelo resto da vida, não há matrimônio – ela, evidentemente, também precisa assumir esse compromisso, mas em geral é o homem que faz a besteira. Os votos matrimoniais servem para proteger as mulheres, não os homens.
E, finalmente, salta aos olhos a ausência completa de percepção da importância do matrimônio como meio (no sentido tanto de instrumento quanto de ambiente) de criação das futuras gerações, do alívio da concupiscência e do auxílio mútuo de um casal que, como todo mundo, vai sim envelhecer e precisar ter em quem apoiar-se. Em suma, o casamento, o sexo e a reprodução viraram brinquedos, enquanto os instrumentos sociais necessários de manutenção da ordem social, de criação das futuras gerações e de manutenção e suporte de vida dos idosos sequer entram no radar.
Chegamos então, finalmente, no problema social que me levou a batucar estas mal-traçadas: os ataques suicidas. Eles vêm, em primeiro lugar, da desordem do “mercado” matrimonial. Este é um “mercado” em que o vendedor está com a faca e o queijo na mão. Quem “vende”, neste mercado, escolhe comprador. Leiloa. Faz o que quiser. Isto ocorre por ser o bem em leilão simplesmente a coisa mais naturalmente atraente para qualquer ser humano do sexo masculino: a mulher, seu corpo, seu amor, sua companhia, seus cuidados. Qualquer homem é atraído por uma bela mulher. Qualquer homem pode ser levado à loucura por uma bela mulher, se não se cuidar, e se cuidar muito. Lembro aqui do exemplo drástico de alguns santos, que se jogaram na neve, em espinheiros ou em um lago gelado, ou mesmo que mantiveram a mão no fogo para conseguir controlar seus desejos. As mulheres não têm noção, em geral, do quanto podem ser poderosos esses desejos, especialmente em rapazes.
O resultado é que o que uma bela mulher tem “à venda” neste “mercado” matrimonial vale mais que uma tonelada de droga para um viciado, mais que ouro, diamantes ou o que seja. É por isso que é ela quem escolhe, e é por isso que os rapazes se pavoneiam e fazem seu melhor para bem impressioná-la. Se um rapaz salta de paraquedas, é para impressionar as moças. Se ele se lança em batalha, idem. Se ele trabalha muito e ganha dinheiro, é o mesmo. Faz ginástica ou aprende artes marciais. Inventa coisas incríveis. Constrói coisas belíssimas. Planta as mais belas flores ou fabrica os mais perfeitos produtos. A civilização, poderíamos mesmo dizer, é fruto do desejo masculino de bem impressionar as moças. A civilização inteira é o preço que o coletivo feminino cobrou pelo mais valioso bem natural, que é o seu amor.
Mas a nossa sociedade em decadência nega o valor desse amor. Ao contrário, mesmo: ela tenta transformá-lo em algo desprezível, em uma doença a ser evitada – exatamente, aliás, como ocorre com seu fruto, que é o filho; anticoncepcionais são considerados “remédios”, quando na verdade são venenos, que operam impedindo o corpo de funcionar normalmente. Assim, as meninas-moças, tristemente, lamentam ser “BV” (“boca virgem”, ou seja, que não beijaram um rapaz de maneira luxuriosa, jogando aos porcos a mais preciosa pérola que elas possuem, em sua tenra idade). Do mesmo modo, as mocinhas apressam-se em perder a virgindade que, numa sociedade mais sensata, seria o prêmio máximo a ser dado a um marido depois de ele ter-se comprometido a tê-lo como companheira, protegendo-a e aos filhos do casal até o fim de seus dias!
O que essa horrenda situação faz é garantir que a sociedade tenha o pior de ambos os tipos de organização social, poligamista como monogamista, divorcista como indissolubilista. O mercado matrimonial fica completamente desfeito por não se perceber mais como um mercado, sim como uma disputa por pérolas em meio às fezes dos porcos. Os rapazes mais bonitos, espertos, ricos ou o que for, como numa sociedade poligamista, têm a primazia em colher os frutos das moças. Ao contrário do que ocorre entre os poligamistas, contudo, não só os rapazes não assumem qualquer responsabilidade por elas, como continua a haver a mesma disputa que seria normal numa sociedade pacífica e monogamista. Há quase um rapaz por moça, mas os “alfas”, os mais avantajados, arrebatam para si a maior parte das moças, que ficam passando de um para o outro. Muitas vezes elas engravidam de um deles, que fica no máximo obrigado – se trabalhar de carteira assinada – a dar-lhe uma pensão mensal por conta da criança, sem qualquer responsabilidade paterna. Evidentemente, uma moça que carrega o filho de outro homem (e que, portanto, provavelmente terá pelo resto da vida a necessidade de manter algum contato com o pai da criança) dificilmente será a primeira escolha de outro rapaz. Estas, assim, caem, nas mãos dos rapazes um pouco menos avantajados, dos “betas”, que quererão menos ainda assumir a responsabilidade conjugal por elas. Engravidá-la de novo, todavia, não é nada impossível. Assim, as moças acabam por ter vários filhos, cada um de um pai, sem que nenhum deles assuma qualquer responsabilidade para com ela que não uma pensão risível.
E os rapazes mais profundamente desavantajados, seja por problemas físicos, psicológicos, ou o que seja? Os “ômegas” desta disputa? São eles que, na maior parte das vezes, reúnem toda a sua capacidade para a violência e atacam feroz, covarde e selvagemente. Estes são o lumpesinato do mercado amoroso. São aqueles que, ao encontrar-se com outros semelhantes em fóruns de internet, consideram-se “celibatários involuntários” ou “falhos”. E, com a internet, não há como não se encontrarem. Lembro-me de quando voltei ao Brasil, há mais de 20 anos, com a internet em sua infância, e minha alegria então por poder nela participar de um fórum de discussão sobre o judaísmo do Século I. Certamente não havia absolutamente ninguém com este interesse na cidade em que então vivia. Mas a internet me dava, já então, a chance de encontrar gente com o mesmo interesse. E hoje isso vai, claro, muito mais longe. Se eu quiser conversar sobre adaptações de componentes eletrônicos em carros antigos, haverá um fórum. Se eu quiser papear sobre poda de parreiras, haverá outro. Sobre aviões experimentais, cadeiras de rodas ou saxofones antigos, outros. E por aí vai. É claro que, neste ambiente, com esta possibilidade praticamente infinita de interconexão, os “ômegas”, os “falhos”, os “celibatários involuntários”, haveriam de encontrar-se para lamuriar-se de sua infeliz condição e fazer planos.
E qual seria, evidentemente, o assunto de quem se define pelo que não consegue ter? Aquilo que lhes é inatingível: o amor das mulheres. As mulheres. Numa sociedade que tenta fazer com que a identidade de cada um seja definida por seus desejos sexuais (“homossexuais”, “heterossexuais”, essas besteiras, como se o que uma pessoa deseja – logo não tem, e portanto não é – pudesse definir quem ela é!), esses rapazes sentem-se definidos pela frustração dos seus desejos. Daí serem um lumpesinato sexual, alijados da “produção”, do “mercado”, e marginalizados.
Sua visão das mulheres, portanto, na prática negará o que afirmam pensar de si mesmos. Dizem-se “celibatários involuntários”, mas não percebem que na verdade são incapazes de compreender seja o celibato, seja o matrimônio. Veem as mulheres como objetos, robôs de carne pneumaticamente baloiçante, cartesianamente habitados por nada mais que uma vontade macabra de negar aos ômegas o que elas mesmas jogam aos porcos. Eles aprendem da sociedade, e aceitam, a negação do valor da natural pérola de grande preço das mocinhas. Eles as veem jogá-la aos porcos. Eles as veem a lamuriar-se por não conseguirem (mais ou ainda) atrair a atenção deste ou daquele rapaz mais avantajado. E para eles, os fracassados, elas nem olham!
Sua conclusão evidente é que elas o fazem por pura maldade. Que elas são monstros de crueldade, que por razões incompreensíveis, senão inexistentes, negam-se a servir-lhes de “depósitos de esperma” (a asquerosa expressão é usada por eles mesmos). Um desses ômegas, frequentador do mesmo fórum de internet que os covardes de Susano, matou-se após uma palhaçada macabra em que perseguiu uma moça por um camelódromo assediando-a grosseiramente, numa paródia de aproximação amorosa que seria patética se não fosse a violência que se seguiu, quando o covarde deu um tiro na nuca da pobre moça no momento em que ficou claro que – evidentemente – ela não cederia a suas investidas delirantemente absurdas. Os dois covardes de Susano referiram-se num fórum de ômegas a “sete virgens” que os esperariam após o suicídio, numa evidente paródia do discurso de autojustificação dos seus semelhantes muçulmanos. As mulheres, para esse pessoal, são objetos. Isso a sociedade em decadência os ensinou. Eles estão um passo além dos quase tão lamentáveis bobalhões que fazem cursos de sedução instantânea (“pick up artists”). A diferença é só que os supostos sedutores instantâneos não perderam a esperança; ambos, contudo, ignoram completamente, de A a Z, o que seja uma mulher e, mais ainda, o que seja seu amor e o imenso valor que ele tem. Isso a sociedade em decadência, mais uma vez, os ensinou.
E o que lhes resta, então? A curto prazo, a masturbação compulsiva, que obviamente piora o problema ao objetificar mais e mais o sexo oposto e a mecanizar mais e mais o prazer sexual, efetivamente cortando dele sua necessária conexão com o amor e o carinho. Quanto mais um rapaz se masturba menos homem ele é, menos capaz de ter uma relação matrimonial amorosa, de tomar como sua a mulher que o tome como seu.
A médio prazo, os sonhos e delírios. Mas que sonhos são esses? Na medida em que a sua participação nas lamúrias coletivas de bandos de fracassados que se encontram em fóruns especializados na internet serve como um incentivo ainda maior ao fracasso, num ciclo vicioso que dificilmente se tem como quebrar, os sonhos são de infâmia, não de glória. O psicopata que fundou o fórum favorito dos covardes de Susano, atualmente amargando, com razão, cana fechada de mais de 40 anos, divertia-se incentivando bobalhões como os de Susano a atingir inocentes. Seu lugar foi tomado por outro covardezinho lamentável, que incentivou diretamente os fracassados susanenses a buscar a infâmia num ataque covarde.
E é aí que, fechando o círculo, voltamos a Camus. Qual é, qual pode ser o sentido da vida para esses fracassados que (num processo de retroalimentação operado na solidão masturbatória de sua existência confinada à tela brilhante onde encontram, em forma de pixels, objetos sexuais na pornografia e reforço do fracasso em fóruns virtuais) tornam-se a cada segundo mais e mais mal-sucedidos, menos e menos capazes de funcionar em sociedade? Nenhum. A vida não tem para eles sentido algum, fora talvez o prazer sexual solitário (mais ainda na medida em que seus sonhos de copulação real são na verdade fantasias masturbatórias impossíveis, ou que pelo menos não seriam nada agradáveis às parceiras). Veem-se, com razão, como fracassados. Só lhes restaria, no seu niilismo, então, o suicídio. Daí a influência ainda mais macabra e ainda mais covarde dos coleguinhas de fórum de fracassados, que lhes dizem para não apenas cometer um sórdido suicídio. Não, isto não seria infame o bastante. Que façam ainda mais mal, que busquem ativamente a infâmia maior possível, é o conselho dos covardes que tampouco percebem a ordem de todas as coisas, que também estão presos na mesma fantasia masturbatória alucinada que cada vez mais lhes fecha os olhos para a ratio divina. Esta ordem é percebida por eles como uma crueldade que o mundo lhes teria feito, um mundo em que por serem feios e burros eles não teriam direito nem mesmo àquilo que veem a cada dia sendo jogado aos porcos: a possibilidade de participação em fantasiosas copulações frenéticas, que idealizam pelo prisma delirante do masturbador compulsivo. “Amor” para eles é ruído ou mentira.
Sobra-lhes, então, a infâmia. Matar as pobres moças por elas não se conformarem a suas idealizações delirantes; matar as professoras por serem lembranças da ordem da Criação que eles querem negar, apagar, obliterar completamente por seus atos covardes e infames. E, finalmente, matar-se, negando por tal ato qualquer possibilidade de redenção. Não é redenção que eles querem; é infâmia.
O mesmo vale, inclusive, em enorme medida, para os muçulmanos que perpetram ataques semelhantes, na sua imensa maioria ou criados no Ocidente ou pelo menos fortemente influenciados por ele, tendo vivido muitos anos em sociedades ocidentais. É exatamente o mesmo tipo de gente, com exatamente o mesmo tipo de problema, mas revestido por uma capa pseudorreligiosa. Os imãs que aconselham os fracassados muçulmanos buscar ativa, covarde e mortiferamente a infâmia exibem os mesmos traços psicopáticos dos moderadores de fóruns de fracassados ocidentais. Daí até a contaminação cruzada que podemos perceber no delírio das “sete virgens” a aguardar no pós-vida os covardes. O covarde de Christchurch vem também do mesmo molde, tomando todavia uma suposta defesa de uma “raça branca” inexistente como desculpa para assassinar quarenta pessoas desarmadas e em oração.
Não há entre tal tipo de atacante pais de famílias felizes. Dificilmente, mesmo, haverá entre eles filhos de famílias felizes. Um dos covardes de Susano, que teve sua vida familiar noticiada, é filho de uma viciada, criado pelos avós e tendo acabado de perder a avó (provavelmente a única mulher que respeitava). Outros, no mais das vezes, têm histórias semelhantes: filhos de prostitutas, de viciados, de ladrões ou policiais corruptos, de lares que ou bem foram desfeitos ou bem jamais chegaram a existir como tal. O que lhes faltou, o que não pôde segurar os tijolos da edificação mental necessária para a sobrevivência em sociedade, foi essa “cola” que une os seres humanos e que deveria ter no sexo uma sua expressão: o amor.
A ratio divina, a ordem de todas as coisas, é dita divina por justamente ser mantida pelo amor. O amor é o cimento que une os tijolos da Criação. É por amor que dois corpos se atraem na razão direta de suas massas e na inversa da distância, e é por amor que devemos honrar pai e mãe e não devemos roubar, assim como é por amor que a cada dia o sol se levanta a leste e se põe a oeste. O amor não é mensurável – e por isso está fora da alçada da ciência experimental –, mas é perceptível, é vivenciável.
E é só por ele e nele que podemos entender a ordem das coisas, a ordem da vida, da sociedade, e, lá no fundo, de nossos próprios corações. O amor a tudo vence.
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