Fala-se muito por estes dias, e com razão, do horrendo massacre perpetrado por um louco assassino em Las Vegas, nos Estados Unidos. Afinal, em cerca de dez minutos foram assassinadas tantas pessoas quanto as que o são em oito horas no Brasil. A cada dia temos aqui, em média, 170 assassinatos, cerca de três vezes o saldo macabro do massacre americano. Isto não é normal, e isto não é aceitável. É uma situação crítica, em que a cada dia lemos mais e mais notícias de mortes, a cada dia nós mesmos e nossos amigos, familiares e conhecidos defrontam-se com a violência real e cotidiana, perdendo bens ou mesmo a vida para assaltantes, e nada é feito pelas autoridades constituídas.
A população brasileira decidiu em plebiscito, 12 anos atrás, que não concordava com a absurda legislação que retirou do alcance do cidadão as armas de fogo com que poderia, talvez, defender-se. Afinal, ao colocar as armas fora da lei, os políticos brasileiros fizeram com que apenas os fora-da-lei tivessem acesso a elas. Isto só fez aumentar o regime de medo constante e de domínio do crime. Os mesmos políticos, todavia, recusaram-se a aceitar o resultado do plebiscito e vêm se fazendo de mortos desde então, mantendo a legislação absurda que continua garantindo que o Brasil seja o paraíso dos criminosos, em que um revólver enferrujado torna um bandido o rei do mundo, e onde as cadeias parecem ter portas rotatórias de banco, com pelo menos um preso saindo a cada outro que entra. Temos até mesmo a vergonha nacional de vermos estupradores que atacaram centenas de mulheres andando livres, e matricidas saindo da cadeia para comemorar o dia das mães. Assim, senhores, não dá.
Uma situação como a brasileira, em que a criminalidade mata cotidianamente mais que em uma guerra – as estatísticas de mortos por dia do Afeganistão e da Síria são menores que as nossas! –, deveria fazer do combate ao crime a prioridade absoluta daqueles que compõem o governo. O governo, não nos esqueçamos, é feito de pessoas; dois dos poderes (Executivo e Legislativo) são entregues a políticos eleitos, e um a funcionários concursados ou nomeados (Judiciário). Mas todos eles são pessoas, com interesses próprios frequentemente divergentes dos da população como um todo. O combate ao crime não parece interessar aos governantes, eles mesmos protegidos por seguranças armados e com raro contato com a população mais pobre, que é a que mais sofre a criminalidade. Afinal, suas prioridades são outras.
Por exemplo, acaba de ser aprovada uma cláusula de barreira para acesso ao por si já obsceno fundo eleitoral – uma distribuição de dinheiro público diretamente proporcional ao poder dos partidos, criada com o fim evidente de manter no poder quem nele já está e impedir que entre gente nova que não tenha o rabo preso com a corja atualmente dominante. Com a cláusula de barreira, os partidos menores (ou seja, quaisquer partidos que ainda não tenham conseguido, graças aos conchavos e à politicagem da pior espécie que dominam a política brasileira, eleger um número maior de deputados) ficarão de fora da boca livre.
Ora, já não faz sentido algum que, em um momento de crise institucional como este por que ora passamos, os partidos ganhem dinheiro público; faz ainda menos sentido que esse dinheiro seja distribuído de forma a que sirva apenas para manter no poder quem nele já está; finalmente, é obsceno adicionar a este sistema, já votado a impedir a renovação, uma gradual punição dos partidos menores. Se fosse moral dar dinheiro público a partidos, ele deveria ser dado aos que têm menos poder, não aos que têm mais. Parece evidente. Mas o que querem os ratos é simples: não querem largar o queijo. Querem manter-se no poder, e a população, e as vicissitudes por que esta passa, não lhes interessa em nada.
A situação, assim, é de crise institucional: quem está no governo está preocupado, do presidente ao menor dos vereadores, com a própria sobrevida política em primeiro, segundo e terceiro lugar, enquanto a população sofre com a chaga da criminalidade. As próprias Forças Armadas já estão perto de não mais conseguir agir contra a criminalidade quando solicitadas, por simples falta de verbas. Há quartéis que dispensam o soldado sexta de manhã e o recebem novamente na segunda de tarde, para poupar o dinheiro das refeições que lhes teriam de dar.
Os culpados desta crise são aqueles que nos governam desde o fim dos governos militares. Os militares devolveram aos civis (depois de o segurarem muito além do prazo previsto quando de sua intervenção, a pedido do povo, em 1964) um país em relativamente bom estado, com criminalidade baixa, mas com alguma inflação. Os governos civis, contudo, o transformaram no pesadelo em que vivemos agora. Ataram as mãos das polícias militares, retiraram a capacidade investigativa das polícias civis ao ponto de chegarmos hoje a descobrir o autor de apenas 6% dos homicídios – o que é pouquíssimo mais que os homicídios passionais em que o autor é encontrado chorando, arrependido, ao lado do cadáver –, retiraram a capacidade do cidadão de exercer seu direito à autodefesa, desenvolveram uma cultura e prática jurídica garantista em que furto e uso de drogas não dão mais cadeia, o que faz com que o ciclo vicioso de usar droga e furtar para comprá-la não possa mais ser interrompido pela ação policial…
Em suma, foram eles mesmos, os nossos governantes, os membros dos três poderes, que nos colocaram nesta situação. Mas para eles não faltam seguranças armados; a palhaçada que é a “Polícia do Senado”, por exemplo, na verdade nada mais que um pequeno corpo de pouco mais de uma centena de guardinhas de seguranças, dispõe de equipamentos que policiais de verdade apenas sonham em um dia ver, que dirá ter; de salários altíssimos – um novato ganha cerca do dobro do salário de um coronel da PM; e de uma verba mensal da casa dos milhões.
O desarmamentismo delirante que tanto contribuiu para nos colocar nesta situação é fruto de uma campanha internacional, cujo porta-estandarte primeiro é a esquerda americana. Tendo o Brasil uma legislação já muito mais restritiva que a dos EUA, mas ainda aceitável, no fim do período de governos militares, foi a repetição do discurso da esquerda gringa que moveu os legisladores tupiniquins a fazer tanta besteira. Servimos aqui de cobaia para as experiências sociais que eles desejariam fazer lá. Ora, nos EUA a esquerda já está usando o crime de Las Vegas para tentar retirar as armas das mãos dos cidadãos. Como a nossa esquerda segue fielmente a cartilha da esquerda gringa, é certo que repetirá aqui como papagaios as besteiras ditas pelos seus mestres do Hemisfério Norte. É crucial que resistamos. Afinal, ora bolas, já é proibido matar as pessoas, e já eram proibidas as armas usadas pelo assassino. O crime de Las Vegas é uma gota no oceano perto da criminalidade brasileira, e as condições legais e práticas dos dois países simplesmente não têm comparação.
Devemos lembrar sempre que proibições não afetam pessoas que já estão dispostas a violar a lei; se elas já são criminosas, um crime a mais não faz diferença. Quem sai de casa para roubar, estuprar ou matar não se incomoda de usar um instrumento proibido para fazê-lo; vemo-lo claramente a cada dia no Brasil. Já um pai de família, ou uma moça sozinha que volta à noite da faculdade por ruas escuras, não gosta de violar lei alguma e não sairia com uma arma na cintura se isso fizer dele e dela um criminoso ou, pior ainda, puder fazer com que seja conduzido a uma delegacia e talvez até mesmo preso, sem ter cometido crime real algum. É por isso que recomendo sempre a todos que procurem comprar pelo menos uma maquininha de choque ou spray de pimenta para não ser uma vítima totalmente desarmada. Às moças, então, este conselho é ainda mais importante, pois o que o criminoso pode estar buscando ao atacá-las é muito mais valioso que qualquer dinheiro ou joia que pode ser roubado de um homem.
É importante, importantíssimo, que aqui no Brasil não caiamos na armadilha da repetição inane do discurso da esquerda americana, que já nos colocou nesta triste situação. Nosso momento, e nosso movimento, deve ser na direção contrária, buscando fazer valer a voz do povo já manifestada no plebiscito de 2005. Urge que reconquistemos o reconhecimento legal do nosso direito natural de acesso e uso de armas para que possamos fazer a nossa parte na redução da criminalidade e na proteção de nossas famílias. Esta é uma campanha que tem de ser conduzida pelos cidadãos e crescer ao ponto de incomodar os políticos e fazer com que eles percebam que é provável que só aderindo a ela e, por uma vez que seja, servindo à população é que eles poderão manter-se confortavelmente refestelados em suas poltronas, à prova de todo perigo, no ar condicionado, servidos por um garçom e protegidos por seguranças armados. Afinal, da iniciativa dos políticos em prol do povo sabemos que não podemos depender.