Terrorista do Estado Islâmico em vídeo de 2017, exaltando o sucesso de um ataque terrorista na Europa.| Foto: EFE/Reprodução TV
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Eu já afirmava, anos atrás, que seria coisa tão simples quanto materialmente rentável para quem entende de religião comparada criar uma “religião guerreira” usando apenas o Antigo Testamento e vendê-la ao crime organizado brasileiro. Com o crescimento do pentecostalismo importado dos EUA pelos militares no intuito de solapar a crítica católica aos seus atos imorais, acabou acontecendo coisa bastante parecida. Não chegaram a arrancar o Novo Testamento de suas Bíblias, mas quase. Há hoje no Rio de Janeiro, por exemplo, uma vasta área dominada pelo tráfico que se diz o “Complexo de Israel”. O símbolo de seus governantes é a Estrela de Davi, suas cores são as do Estado de Israel, e o discurso guerreiro de seus membros é obviamente muito mais veterotestamentário que evangélico.

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Esse tipo de percalço – ou mesmo perversão da religião – acaba sendo inevitável no seio das infinitas novas religiões criadas a partir da introdução da bibliolatria islâmica no seio da Cristandade por Martinho Lutero no século 16. Afinal, o papel social principal da religião, de toda religião (verdadeira ou falsa, monoteísta, politeísta ou mesmo ateia), é proporcionar a seus membros um quadro de coerência pelo qual orientar a vida. Para isso é evidentemente necessário que haja alguma maneira de aplicar às circunstâncias do fiel quaisquer princípios que sejam considerados basilares. Via de regra, isto é feito pela obediência aos costumes religiosos ancestrais; nas situações em que a mera tradição não dá uma resposta evidente, há recurso a algum tipo de estudioso, sacerdote ou juiz que aplique os princípios à causa em questão.

Notemos que o mecanismo em ação é o mesmo em religiões tão díspares quanto o budismo (religião ateia dotada de sábios estudiosos), o comunismo (religião igualmente ateia em que há um Partido para orientar os membros), as várias modalidades de xamanismo (em que via de regra são muitas as divindades, com apelo direto a elas por intermédio de transes, psicotrópicos e incorporações para aplicação dos princípios às situações práticas do momento), os paganismos clássicos (como os greco-romanos e os indianos, em que as divindades são muitas e seus sacerdotes aplicam os princípios aos casos particulares), os judaísmos (monoteístas, com decisões prudenciais mais complexas a cargo de estudiosos dedicados) e, finalmente, o cristianismo. A revolucionária criação luterana de um tipo de religião em que só vale como fonte imediata de coerência um texto, sem intérpretes autorizados para aplicar os princípios às situações práticas, contudo, pronta e previsivelmente causou o surgimento instantâneo de abundantes religiões mutuamente contraditórias que só tinham em comum o texto da Bíblia produzida pelo heresiarca. Destas sobreviveram as que conseguiram adoção estatal oficial (o luteranismo, o calvinismo e os anglicanismos). Na prática, as autoridades civis assumiram nos países protestantizados o papel de classe sacerdotal, punindo e eliminando da sociedade os indivíduos ou grupos que adotassem leituras diversas da oficial.

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Seria coisa tão simples quanto materialmente rentável para quem entende de religião comparada criar uma “religião guerreira” usando apenas o Antigo Testamento e vendê-la ao crime organizado brasileiro

Esta reunião do Estado e religião fez ressurgir no Norte europeu um modelo clássico que, no Ocidente, havia sido substituído pela convivência (ainda que nem sempre pacífica) entre a autoridade moral da Igreja e a autoridade administrativa e militar civil. Do “a César o que é de César” retornou-se nos países protestantizados, de um certo modo, à religião cívica romana que tantos mártires fez entre os primeiros cristãos. Curiosamente, mesmo tendo muito em comum a novidade luterana da exclusividade da Bíblia protestante como fonte de legislação e a tradição islâmica da primazia máxima do texto do Corão, esta ainda dispunha de uma classe de intérpretes autorizados e de uma tradição paraescritural de recurso a narrativas da vida de Maomé (os haddith) como fontes alternativas de jurisprudência. Na prática, a entrega aos governantes do poder de discernimento doutrinal na nova religião protestante fez com que ao mesmo tempo o poder estatal aumentasse a níveis superiores aos dos despotismos orientais clássicos – gerando o absolutismo e, em decorrência, o Estado moderno – e a multiplicação das crenças se revelasse impossível de conter.

A colonização dos Estados Unidos por levas sucessivas de sectários perseguidos pelo poder religioso estatal inglês é fruto disto. No atual Nordeste dos EUA aglomeraram-se os calvinistas quando o poder no anglicanismo estava nas mãos do mesmo grupo que veio a colonizar o atual Sudeste quando foi a vez de serem os calvinistas a deter as rédeas; na zona intermediária vieram a estabelecer-se os membros de várias outras religiões protestantes que não chegaram a deter o poder estatal. Todo o resto do país acabou sendo povoado pelos descendentes de algum desses grupos, o que explica muitas das diferenças culturais internas naquele vasto território.

No Brasil, do mesmo modo, a introdução do pentecostalismo americano levou ao surgimento de novas religiões autóctones, todas recorrendo à mesma Bíblia erigida por Lutero para legitimação a posteriori de suas crenças e práticas. As seitas da linhagem da dita Igreja Universal, por exemplo, adotam o mesmo panteão da Umbanda acrescido dos “superorixás” ditos Jesus Cristo e Espírito Santo, contrapostos como “do bem” a uma caracterização de todo o resto do panteão como demoníaca. Outras, igualmente partidárias da crowleyana “teologia da prosperidade”, porém voltadas a um público de classe média mais distante da Umbanda, fazem de termos de língua inglesa e de um discurso ferrenhamente individualista e materialista, típico da cultura americana, elementos centrais de sua prática e doutrina (quando a há). E, finalmente, surgiram religiões guerreiras, como a do Complexo de Israel, no meio dos territórios disputados por traficantes e milicianos, tanto no Rio de Janeiro quanto em outras capitais. A própria ausência de qualquer tipo de sistema de aplicação autorizada dos fundamentos às situações práticas faz com que se multipliquem as religiões, usando sempre os desejos seculares dos interessados como base e versículos bíblicos descontextualizados como justificativa.

Mas eis que agora se alevanta problema novo e ainda maior: com farto patrocínio em petrodólares, o islamismo salafista está começando a infiltrar-se nas favelas das capitais brasileiras. De todas as modalidades do maometanismo esta é a mais perigosa, sendo os seus adeptos responsáveis pela quase totalidade dos ataques terroristas que ocorrem regularmente no Primeiro Mundo. Tendo sido o terreno para a sua adoção preparado pelas religiões protestantes, e sendo no Islã a guerra contra os que não se submetam ao Corão percebida como um bem a buscar ativamente, a chance de uma união literalmente infernal entre o pior do Islã e o pior do Brasil cresce exponencialmente a cada instante.

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Na França, já há uma união real entre o salafismo e o tráfico de drogas. Os filhos e netos dos imigrantes oriundos das antigas colônias francesas em territórios de cultura muçulmana substituíram a pouca prática de tradições islâmicas de seus pais e avós pelo rigorismo salafista. As missões salafistas que os petrodólares bancam Europa afora conseguiram fazer de muitos dos conjuntos habitacionais dos subúrbios franceses áreas totalmente dominadas. Há 751 “Zonas Urbanas Sensíveis”, em que a polícia francesa só entra de “caveirão” e a mulher que ouse sair de casa sem véu corre sério risco de estupro ou mesmo morte. Trata-se em grande medida de uma situação semelhante à das zonas dominadas pelas facções de traficantes e milícias que já abrigam a maioria da população carioca, mas com uma imposição religiosa simultânea que no Brasil ainda é embrionária.

Um “Complexo de Israel” já é péssimo, evidentemente. Contudo, ao menos se pretende cristã a religião guerreira protestante inventada pelo chefão da gangue local (que simbolicamente abandonou seu nome de batismo Malaquias – “mensageiro”, o derradeiro dos profetas menores – e o substituiu por “Aarão”, o sumo-sacerdote do Antigo Testamento). Ela não nega o Novo Testamento, e assim permanece no texto que afirma sagrado a negação da lógica interna da religião guerreira. A imposição religiosa que faz tem principalmente forma negativa, perseguindo os adeptos das religiões afro-brasileiras e destruindo as imagens de santos.

Com farto patrocínio em petrodólares, o islamismo salafista está começando a infiltrar-se nas favelas das capitais brasileiras

Com o Islã, no entanto, a coisa é completamente diferente. A institucionalização da guerra e da violência, que no Cristianismo é um contrassenso evidente, é parte integrante de uma religião que se espalhou pela espada. A própria bibliolatria islâmica é mais funcional, pelo simples fato de o Corão ter sido feito para servir de manual de uma religião totalitária. A Bíblia, por outro lado, evidentemente deixa muitíssimo a desejar em tal quesito, como comprova justamente a infinitude de religiões protestantes de doutrinas mutuamente contraditórias surgidas nos últimos 500 anos. Afinal, o texto bíblico não foi feito para servir de manual ou mesmo de base para a criação de alguma religião. Ao contrário, até: trata-se de uma vasta compilação de livros que têm enorme utilidade dentro do quadro de uma religião estabelecida, em que se pode usá-lo para afirmar elementos de sua história e o ponto central de sua doutrina. Fora de tal enquadramento, de tal contexto religioso maior, todavia, o que se tem não faz sentido algum de por si; menos ainda basta, evidentemente, para a definição de doutrinas e práticas.

Mais ainda: tendo surgido em contraposição ao farisaísmo rabínico, que depois veio a gerar como resposta à Igreja nascente os judaísmos talmúdicos atuais, reitera-se em todo o Novo Testamento a negação cristã do totalitarismo farisaico, com suas regrinhas infinitas. No Cristianismo, a intenção de fazer o que é correto é fundamental, e a união interior com o Cristo é o ideal do fiel. Regras arbitrárias para reger cada movimento, cada ato da vida – como no judaísmo farisaico e no Islã –, são anátema para o cristão. Já no Islã, literalmente, “O Credo É A Conduta” (título de um livro de divulgação dessa religião, aliás), e portanto a conduta desempenha para o maometano o papel do credo no Cristianismo.

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Dentre as muitas formas do Islã, a salafista é a mais radical nessa demanda de conduta exterior; até mesmo o comprimento da barra da calça ou da barba do fiel é crucial. E uma religião total como um quartel é uma instituição total, na terminologia foucauldiana. Numa área submetida às regras salafistas (“Islã” significa exatamente “submissão”), como o território do Estado Islâmico ou da Arábia Saudita, as minuciosas regras de conduta são necessariamente impostas a todos os habitantes. Ser pego com um terço ou uma imagem de santo num tal território é causa bastante para a pena capital. A mulher que seja vista sem véu ou sozinha com um homem que não é seu parente ou esposo pode ser estuprada ou morta a pedradas. É frequente que as vítimas de estupro sejam condenadas e o estuprador não sofra punição alguma, porque a palavra do homem vale mais que a da mulher, e ao acusá-lo de estupro ela confessa ter tido relações sexuais fora do casamento.

Para piorar ainda mais a situação, o Islã é territorial, tal como as gangues de traficantes e as milícias brasileiras. A conquista pelas armas de um território onde se vá obrigar a população a seguir as copiosas regrinhas de conduta é uma obrigação religiosa e um ato de culto ao deus maometano. A união da territorialidade do Islã e das facções faria com que passasse a ser visto como glorioso e santo o que hoje é feito independentemente de religião. A própria guerra entre facções tornar-se-ia jihad, “guerra santa”, obrigação religiosa inescapável. Os criminosos mortos na invasão de outra favela seriam cantados em verso e prosa como “mártires”, e seus correligionários acreditariam que tal morte os teria levado diretamente a um paraíso de sexo e maconha.

Uma invasão religiosa muçulmana das favelas das capitais brasileiras, a princípio pacífica, é coisa fácil. As presas já foram amaciadas por diversos elementos do pentecostalismo para aceitar o Islã. Afinal, no Islã reverencia-se Jesus Cristo, tido como o maior dos profetas depois de Maomé. Quem já se acostumou à ideia de ter num texto a base da religião e o manual de instruções da vida precisa apenas adotar o Corão, que foi feito para isso e se presta muito mais facilmente a tal uso; o alívio será como o de alguém que deixa de usar um alicate para bater pregos e passa a fazê-lo com um martelo. A iconoclastia protestante, igualmente, prepara para a iconografia islâmica – que, ao contrário da protestante, faz sentido interno por corresponder à negação da Encarnação do Verbo. O deus maometano é infinitamente distante da criação e jamais se misturaria a ela, que dirá fazer-se homem ou perfilhar seus seguidores. Quem busca riquezas materiais, ainda, coisa condenada na Fé cristã que nos legou a Bíblia, vai encontrar no Corão a santificação de tal busca. Quem já se acostumou a pregações laicas baseadas apenas numa suposta palavra divina e num culto de pura expressão oral e gestual vai continuar a tê-los. Quem cultua um deus que se preocupa com comprimento de cabelos e corte de roupas continuará a fazê-lo. Quem prefere a maconha ao álcool terá seu gosto legitimado pela suposta revelação divina.

O namorico entre o pior do Islã e o pior do Brasil já está começando; já passou da fase dos olhares lânguidos e já se estão dando as mãos aqui e ali, às escondidas

Segundo um amigo meu, sacerdote da Arquidiocese do Rio de Janeiro, uma das muitas formas de propaganda do Islã nas favelas vem pegando carona na importação do racismo americano pela esquerda brasileira. O Islã é apresentado como “religião de preto”, em contraposição a um Cristianismo dito “de branco”. A aparente sobriedade dos pregadores muçulmanos lembra a dos que deram início ao pentecostalismo tupiniquim, que era adotado ao modo de uma irmandade penitencial. A diferença social maior, todavia, é que o deus que prega o pregador muçulmano abençoa pegar em armas em guerra “santa” por território e negar-se a reconhecer as autoridades civis arreligiosas. A misoginia do Islã, mais ainda, numa sociedade de famílias desfeitas em que três gerações de mães solteiras convivendo num barraco é antes a regra que a exceção, é música para os ouvidos dos “soldados” do tráfico. Rapazes criados pela mãe e pela avó, em busca permanente de uma figura paterna, são presa fácil para um pregador que os coloque como superiores a suas familiares pelo simples fato de serem do sexo masculino. A aceitação ou mesmo afirmação da violência e da guerra no maometanismo salafista podem dar-lhes uma forma de ao mesmo tempo terem-se por “santos”, afirmarem a própria virilidade, e perseguirem o ganho material.

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Desgraçadamente, não vejo absolutamente nenhum esforço da parte dos poucos que ainda poderiam ter alguma influência para barrar esta união infernal. Mesmo depois do testemunho e do pedido de auxílio feito por lideranças protestantes (!) ao cardeal-arcebispo do Rio de Janeiro, a Arquidiocese carioca não leva a sério a ameaça salafista. As autoridades civis já perderam o controle de enormes partes da cidade, hoje envolvida em guerra permanente que mais tem de Beirute que de Cidade Maravilhosa. As Forças Armadas parecem ocupadas em preservar apenas o estrito território de seus quartéis e bases, e é extremamente improvável, para não dizer impossível, que entrem em ação contra esta ameaça enquanto há tempo. A Polícia Federal aparentemente perdeu completamente o controle dos laços entre as capitais do Sudeste e a Tríplice Fronteira. É por lá que entram o armamento e grande parte das drogas dos traficantes cariocas e paulistanos. Miseravelmente, trata-se de uma área com concentração suficientemente grande de salafistas para ter servido de base de operações para ataques terroristas à comunidade judaica argentina. O esforço e os meios materiais necessários para levar junto aos fuzis o culto a um deus que os abençoa não são grandes, e o terreno está pronto.

Temo que mais uma vez ocorra o que já tive o desprazer de ver acontecer algumas vezes: o alarme ser dado e ignorado. Uma união infernal está em seu início. O namorico entre o pior do Islã e o pior do Brasil já está começando; já passou da fase dos olhares lânguidos e já se estão dando as mãos aqui e ali, às escondidas. Que Deus nos preserve.

Infográficos Gazeta do Povo[Clique para ampliar]