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O Seu Libório sou eu

Ricardo Pozzo (Foto: )

Filme parado

Acredito piamente: os grandes amores acabam no gesto.

Não é que ele se encerre como num comercial de tevê ou aconteça da imprevisibilidade humana atingir infinito colapso. Refiro-me ao momento da constatação racional do fim do amor.

Uma amiga conta-me que descobriu o fim de seu idílio quando, durante os trâmites do covil, seu namorado, ao retirar a sua blusa, não executou o movimento até o fim, deixando-a como que sufocada.

Outro me relata ter percebido que tudo acabou quando a namorada, muito ciosa de seus hábitos higiênicos, palitou os dentes em sua frente. Ali intuiu que o amor esvaído era o dela – ele, desconfio, ainda o sente em algum recôndito.

Marcou-me também a história do colega de redação que descobriu a trama de traição da companheira a partir da semana em que ela parou de dobrar as próprias roupas.

O meu revogou-se em um comentário negativo sobre o filme Iris.

Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

São Paulo: Aleluia de Mim

Congonhas amanheceu nesta quinta-feira repleto de cartazes de aeroviários. Para todos os gostos: pau na presidenta, pau no governador, pau na administração do aeroporto, até em Ricardo Boechat, considerado um burguês safado por uma das cartolinas.

Gosto de São Paulo. Um fotógrafo disse-me ser esta uma cidade suja e confusa. De fato, para mim, São Paulo tem o tamanho de onze ruas, quatro pessoas e do cobrador da linha de ônibus Jabaquara, com o antebraço tatuado Durvalina.

Também desta canção que conheci numa manhã de domingo de Mercado Municipal:

 

In Utero

Conheci ontem a poesia engajada de Angélica Freitas. Ainda não sei o que pensar, mas senti-me impactado.

Deixo aqui um trecho constituído em Um útero é do tamanho de um punho.

A mulher é uma construção

a mulher é uma construção

deve ser

a mulher basicamente é pra ser

um conjunto habitacional tudo igual tudo rebocado só muda a cor

particularmente sou uma mulher

de tijolos à vista

nas reuniões sociais tendo a ser

a mais mal vestida digo que sou jornalista

(a mulher é uma construção

com buracos demais

 

vaza

a revista nova é o ministério

dos assuntos cloacais

perdão não se fala em merda na revista nova)

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