![Anotações Ricardo Pozzo](https://media.gazetadopovo.com.br/vozes/2013/09/ricardo-pozzo-13-823b1f5e.jpg)
Anotações
Uma frase quase me impede de persistir há uma semana: “Há somente três coisas a serem feitas com uma mulher. Você pode amá-la, você pode sofrer por ela ou pode transformá-la em literatura”, Henry Miller.
Update: Não sei mais se a frase é do Henry Miller. Talvez seja de Lawrence Durrell.
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Comecei a ler O Livro dos Seres Imaginários, de Borges. Transfiro meus amores. Isto é o que sei de convergência midiática.
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Em Manaus, quando se gosta de alguém, se diz gostei, gostei, gostei.
Em Curitiba, eu apenas toco a vida em frente.
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Procuro, mas não encontro uma crônica antiga em que projetava o motivo mais possível de minha morte: as mãos predatórias de um homem a vingar a perda de seu ex-amor. De todos os meus duvidosos talentos, este é o mais pungente: surjo em corações ocupados. É perigoso.
[Mas qual coração não está afogado de passado?]
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Trecho da comovente coluna de Ugo Giorgetti sobre Esquerdinha, o massagista que invadiu o campo para impedir um gol:
É um erro, me parece, pensar que somos todos contemporâneos. Vivemos, a maioria de nós, em épocas mais ou menos distintas que não se revelam muito na pressa do cotidiano.
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“E lascivamos nós”
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Lembro-me agora das aulas de ciências e de um livro didático da biblioteca, detentor do mais incrível nome: Viagem ao interior da matéria.
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Não tive decepções terríveis, já conheci mulheres incríveis, nunca fui traído pelo meu melhor amigo, mas as coisas foram sendo na minha vida e eu fui delicadamente me isolando. Tenho gavetas no coração, posso enumerar até alguns nomes. É como se eu amasse algumas mulheres placidamente e me sentisse feliz depois que elas se desvencilham de meus confusos braços e aportam em margens inteiramente fixas. Talvez minha natureza seja monstruosa.
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Um dia ainda escrevo uma cartilha sobre a arte de colher limões no escuro.
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30 de setembro de 2012. “Santos e Coritiba: como funciona o Muricybol. O Santos perdia a partida, muito complicada, o Coritiba lutando contra o rebaixamento, e aí então surge a jogada de Muricybol, aquela jogada secreta que ninguém sabia que ia acontecer. Toque no Neymar, ele domina, passa por cinco jogadores do Coritiba e faz o gol. Eficiente demais o Muricybol”.
Viva o Muricybol!
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“Como confiar em gente que escreve?”
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Tenho implicância com alguns músicos da dita música popular contemporânea. Eles são miseravelmente uniformes. Até descobrimos uma e outra canção boa, mas o percurso exigido até as migalhas é muito penoso. É evidente que não irei citá-los, minha amiga, porque não sei ser assim. Não tenho espírito de batalha. Minha frequência é baixa.
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Elas querem o sol antes dos planetas, minha querida.
Mas tenho um estranho relógio por dentro.
Que horas são agora? É sempre antes, eu não quero chegar.
“Acho que dentro de mim tem uma bomba-relógio!”
Eu fico branco. Eu sumo. Você conhece Mário Gil?
Respeito muito as mulheres que sabem a hora de ir embora.
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Certa vez briguei aqui com uma amiga, que começou a chorar incessantemente. E eu me irrito com quem argumenta em lágrimas. Disse isso e ela, naquela frequência que somente as pessoas que choram são capazes de atingir, rasgou-me em impropérios: minha casa era triste e eu era triste porque não chorava. Escrevi um poeminha a ela. A moça de olhos doces diz que deveria publicá-lo, mas minhas acanhadas letras sem métrica mal se espaçam na minha pequena sala. Entretanto, não sei dizer não quando estou prestes a ser convidado para entrar na grande casa, maior do que esta que habito. Você sabe do que estou falando.
A casa do homem triste
Se não choro
É porque sufoco as lágrimas
De todos os homens
Cansados
– Às mulheres pertence o alfabeto
Com suas coisas feitas
Do imaginário das estrelas –
Cada vez que meus olhos espiam
A noite e seus contornos secos
– Mais sede tem meu coração –
É um canto desconhecido
A repercutir em cada país
Cercado por fronteiras de aço
E silêncios interiores
Uma canção do rádio me prepara
Antes que os copos se façam de solução
Quando um amor vai e me deixa
Logo outro vem e me embala
E agora resoluto saio de casa
– Um homem feito de suas dores e falhas –
Carregando um sol em cada mão
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