Chego em casa depois de dois dias ao seu lado e logo sinto a sua falta. Sabe a canção que estava tentando lembrar? Era “Não Aprendi Dizer Adeus”. A parte que te tentei rememorar aos trancos foi “Que amores vêm e vão/ São aves de verão/ Se tens que me deixar / Que seja então feliz.” Tenho, aqui, um coração bem dado ao exagero, ainda mais quando o assunto é você. Por isso digo que sinto a sua falta e penso se não estou sendo cruel com as distâncias – porque ambos sabemos das possíveis maldições cotidianas, embora conversemos sempre sobre morar juntos.
No sábado à tarde, uma das adolescentes da oficina de Jornalismo perguntava-me como podia um homem, no caso, eu, aos 29 anos, não estar casado. “Ninguém te quer?” Sorri e quase pude ouvir Antônio Maria cantando “Ninguém me ama/ Ninguém me quer/ Ninguém me chama de meu amor…” Não sei porque não te falei isso no sábado à noite mesmo. Mas aconteceu algo que talvez faça de meu esquecimento uma desnecessidade.
Era quase meia-noite e muita coisa havia acontecido até então, em uma das festas mais transcendentes e alucinadas que já presenciamos. Era como se uma porta do tempo nos tivesse jogado dentro de um pote de LSD e nós, dentro do aquário, a observar a cor dos outros peixes, sendo um pouco eles também – não há ideia de litoral quando se está imerso no contexto, por mais que acreditemos nisso. Eis que você, subitamente, senta ao meu lado e eu te abraço por motivo aleatório. Você diz que fazia tempo que não nos abraçávamos quando bêbados e sentia falta disso.
Naquele momento, pensei: “Eu não posso, nunca, perder essa mulher”. Não sei o que te respondi depois porque desconcertei de mim. Ocorreu-me, alguns instantes depois, menos à superfície, de perceber que nunca tinha pensado isso a respeito alguma outra mulher.
Não digo mais por alguma discrição e ineditismo interior. Até porque, se não aprendi dizer adeus e, sem você, não sei se vou me acostumar, é de bom tom não extrapolar no melodrama chamado meu coração.