No Bar da Iracema, a cerveja de litro custa sete reais e o copo de sopa sai por cinco. Às vezes aparece uma morena que diz ter vindo de Apucarana e joga sinuca sem calçado. Geralmente, ela fica pouco tempo e vai embora acompanhada com um cliente mais velho.
No Bar da Iracema, segunda-feira, depois das 23 horas, é sempre cedo. Eu e o amigo nos sentamos para especular a semana que se abre e discutir essas coisas de jornal. Aliás, a capa da edição de hoje do jornal da cidade está infame, não?
No Bar da Iracema, contamos das dores que nos afligem, que andam poucas, é bom se dizer, e inventamos negócios para que possamos beber mais vezes na segunda-feira, depois das 23 horas. Damos preferência a negócios que não nos façam trabalhar muito. Somos bons em pensar nisso. Em executar, nem tanto.
No Bar da Iracema, penduramos a conta quando exageramos nas doses, que também custam cinco reais, mas avisamos a proprietária que pagaremos no dia seguinte, pois sempre honraremos as contas do bar. Afinal, é o único tipo de crédito indispensável ao ser humano.
No Bar da Iracema, observamos a avenida principal despovoada e os motoristas que não enxergam a lombada localizada bem na descida. Os pneus respondem e sempre nos assustam.
No Bar da Iracema, contamos do que se passou no fim de semana e planejamos outros bares, inclusive o próprio Bar da Iracema. Em certo momento da noite, geralmente 1h43, desce uma nuvem vermelha que nos envolve calmamente e nos preenche de uma paz indecifrável. O fenômeno demora uns sete minutos e, depois, eu e o amigo lamentamos por nossos amigos que não podem presenciar o que acontece com a gente geralmente a 1h43, no Bar da Iracema. Então, sorvemos o último copo, conferimos nossos gastos e nos planejamos para a manhã de trabalho do dia seguinte.
Tchau, Bar da Iracema. Até breve!