No bar, pra lá de meia-noite. O vendedor de bombons alega que o seu produto não é bombom: é excelente-excelente. Ele nos vende um kit com seis unidades – passa até cartão, se precisar – e, depois de dizer que o seu produto é também afrodisíaco – “de fazer assim, no umbigo” –, parte pra outra mesa. Na outra mesa, três rapazes se divertem com os chistes do vendedor, mas um deles define a não-compra. “São três as coisas que não gosto muito: banho gelado, chocolate e mulher.”
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Sempre que durmo na casa dela, me debato um pouco com a coberta, que é bem quente. Mas hoje não: troveja e começa uma chuva de derrotar o deserto. E venta de desespalhar silêncios. Ela dorme pesadamente e me ocorre um pensamento leve, sem espetáculo: bom estar aqui. De manhã, acordamos sempre atrasados e me apresso no banho. Uso o xampu e o condicionador do Transformers.
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Joguei futebol no domingo cedo, numa água mental digna de 25 anos de dados secretos, e consegui a façanha de cair em cima do anelar esquerdo, que virou num gancho. O médico disse que não quebrou, mas precisarei usar tala por dez dias. Não gostei da resolução e acabei esquecendo estranhamente de usar o material hoje. Ela bronqueia, pois preciso usar tala, senão o dedo ficará torto, ora. “Não vai conseguir nem comer o chocolate”.
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Voltando pra casa, ônibus vazio, ouço o motorista reclamando com o cobrador: a mulher. Parece que ela anda estranha ultimamente, querendo sair sozinha com as amigas. “Ontem mesmo veio com umas histórias de conhecer uns lugares diferentes e tal”. Dou um gostoso sorriso interno. Vamos deixar o pessoal conhecer os lugares diferentes, meu caro. Atrás de mim, uma mulher com absurdas sacolas de frutas – mas não é nem 9 horas, minha gente – também reclama, e é da filha, que anda dormindo na casa do namorado, e o namorado não trabalha, e ele tem um jeito de que sai com outras mulheres, já peguei ele olhando a vizinha, mas é bonito o rapaz, isso é verdade.
Uma amiga diz que eu devia beber menos para o meu corpo não entrar em processo inflamatório.
