A festa é numa mansão da Avenida Eduardo Sprada. Calculo umas cem pessoas. Há um set list de DJ’s numa tenda-churrasqueira, uma jacuzzi com água bem morninha e uma espécie de espaço místico ao lado, onde me parece que pessoas fumam coisas e jogam runas. Muita área verde & escuridão, além do frio de deteriorar a alma. Em frente à tenda, há uma profusão infinita de destilados + um isopor gigante com bebidas que os convidados seguem trazendo em profusão – nosso agregado está entre a ostentação e a fuleiragem. Sentimo-nos honestos.
Somos em três: eu, o amigo e essa mulher interessantíssima, que ri fácil e também guarda memórias ternas de um grande amigo que morreu – eita, coração. Ela comprou duas garrafas de vinho como contribuição ao eleitorado da hard party. Estamos conversando com a namorada de um dos DJ’s, uma escritora talentosíssima – depois mostro um conto dela pra você –, e aparece, em anexo, uma moça aleatória a dizer que escreve para si – perdi a vontade de lê-la nesse exato momento –, mas entendo: aos 20 anos, bonita, se pode tudo.
O dono da festa nos explica que mora no casarão, mas também em Ibaiti, onde cria uns boizinhos. Pede para que não joguemos bituca de cigarro no chão. Está vestido com uma calça justa, colorida, e um casaco de pele com quase dois metros de envergadura. Conversamos com travestis, pensamos se seríamos capazes de roubar a prataria da casa maior – acredito que estamos começando a ficar bêbados –, uma ruiva nos menospreza, outra está com seus seios à mostra, e vejo uma mulher se engalfinhando com outra embaixo de um pinheiro – nessas condições climáticas, moças?
Há ainda muito mais por beber e tomo a liberdade de abraçar essa mulher que veio com o amigo e bebe o continente, se julgar necessário – tudo nosso, nada deles, minha querida! Ela diz que não podemos nos beijar porque o nosso amigo, tem essa questão… Nos encaminhamos para uma região erma, atrás do limoeiro, onde Deus é carente de jurisdição. Ela diz que estamos fazendo tudo errado. Nem. Voltamos ao fluxo, com nossas culpas cristãs a tiracolo. Abro o jogo com o amigo. Está tudo mais do que bem.
Surpresa! Encontramos uma cama elástica – te darei um spoiler, o amigo foi parar no hospital no dia seguinte por conta desse fenômeno lúdico. Outro spoiler: pessoas ficarão nuas na jacuzzi, mas não estaremos lá –. Pulamos muito, pessoas desconhecidas também pulam com a gente, literalmente rolam cervejas, que estouram por ocasião de: chacoalho. O amigo e essa mulher interessantíssima estão abraçados, ouço declarações, se beijam.
Resolvemos ser boa hora de ir embora, mesmo existindo mais duas ruas para beber, mesmo sendo possível fazer patinhos de sombra no projetor gigante da festa. Vamos todos para a casa da nossa companheira – estou empolgado, como pode se ver.
Há vinhos, uma casa inteira, mais uma caixa de cerveja, o amigo parece estar com sono. Que horas agora, minha querida? Oh! O amigo se dirige ao quarto vazio e diz que irá dormir somente por uns dez minutos. Está parcialmente acabado. A companheira está na sala comigo, um pouco agitada. Diz que precisa ir falar com o amigo, que foi deitar e dormir. Tomo o vinho dela. Passam-se dez minutos. Ela volta:
– Veja bem, meu amor. Eu quero você. Mas também quero ele. Não sei o que fazer.
*
São nove horas da manhã. Acordo com um pouco de frio e com o nariz carregado. Acaricio seus cabelos. Ela se mexe levemente, com um sorriso indisfarçado. O amigo também levanta para fumar um cigarro. Aproveita para vestir as calças. Ela pede para que não tenhamos pressa. Irá fazer um café. Apesar da fome, resolvo tomar mais uma taça de vinho. Lembramos que o carro está no estacionamento e ainda devemos dois reais.
Descemos as escadas do apartamento. Antes que saiamos, ela pergunta se realmente irá nos beijar – logo o rumo de casa será inevitável. Digo que não sei, sei lá, você que sabe, querida. Ela primeiramente me beija, depois beija o amigo.
10h. Ouço no rádio que Felipe Massa está na ponta do GP de Silverstone. Uma ligeira dor de cabeça.
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