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Crônicas Amazonenses – Para os lindos olhos de Anita

Ricardo Pozzo (Foto: )

Para os lindos olhos de Anita

Manaus não tem flor.

Mas tem Anitta e seu Show das Poderosas na noite desta quarta-feira, véspera de feriado local, Studio 5, Zona Sul. Fico sabendo que a chegada da cantora gerou uma intensa confusão vespertina no precário aeroporto da capital, em obras ninguém sabe dizer até quando.

A Galeria do Largo recebe a emocionante exposição Linhas do Tempo, de Hadna Abreu, jovem artista plástica manauara, com suas paredes oníricas flanando entre Bicicletas de Belleville e Juan Miró. A moça que me acompanha e faz(-me) de Manaus um continente cercado de estrelas por todos os lados – o céu local é desestrelado, cor de fita isolante – mostra-me em seu celular Esta é a cor de meus sonhos, do surrealista catalão.

Tenho vontade de cobri-la de flores.

No segundo andar da Galeria, mas, até lá, tenha cuidado com as escadarias de madeira muito perigosas, tome cuidado com escadarias de madeira, sempre digo isso, pois respeito meu medo de altura, está a cidade em miniatura de Santa Anita, do historiador amazonense Mário Ypiranga Monteiro. A cidadezinha demorou 45 anos para ser finalizada e relata, assim, de modo cândido, o amor entre Mário e sua esposa Anita. Uma das cartas do acervo começa assim:

Para os lindos olhos de Anita

Aos amantes, o direito universal de erigir sonhos, quartos, casas, ruas e cidades amorosas.

Oferecerei pérolas de chuva vindas de países onde nunca chove

Pupunha é a frutinha da pupunheira, um tipo de palmeira muito comum na Amazônia. Tem sabor de batata-doce com figo. Não sei se gostei porque ganhei um pacotinho com dez e comi seis com casca, o que não deveria ter feito. Calhei também de esquecer o pacotinho aberto em cima da mochila e tudo amanhecer com aproximadamente três milhões de formigas, que aparentemente gostam muito de pupunha.

Dani Vieira é a Mulher Pupunha. Também é conhecida como a Peladona do Posto. Ela estampa uma das edições do pitoresco e imperdível diário manauara News Maskate. Algumas das chamadas da edição 2355:

– Pelicano é adotado e vira animal de estimação da família;

– Ator de ‘True Blood” aparece sem barba em evento;

– Pandas ganham bolo-buquê de aniversário em zoo;

Tucumã é muito bom com pão e ovo. Vende-se aos borbotões nas ruas e feiras de Manaus. A capa de A Crítica deste domingo repercute as investigações da Fundação de Vigilância em Saúde (FVS) e da Embrapa sobre a morte de uma adolescente de 17 anos, vítima de intoxicação alimentar. A falta de higiene na manipulação de tucumã é suspeita de levar ao Hospital Padre Colombo mais 15 pessoas nas últimas duas semanas.

O açaí local é mais doce do que o paraense e a antologia poética de Jacques Brel pode ser adquirida no encantador sebo Alienígena, no Centro, por dez reais. O prefácio é do anarquista Georges Brassens, comovente, fulgurante – e como estou em adjetivo por estes dias, deus meu:

Jacques Brel mudou muito desde os primeiros tempos. Era um tipo muito virado para dentro. Como, nessa época, pouca gente parecia interessada pelas suas canções, era irritadiço e tinha uma sensibilidade agressiva. […] Um tipo que fala das mulheres com tanta cólera é porque lhes pertence inteiramente. Talvez ele tenha necessidade, um à margem de sua própria felicidade, de inventar historietas tristes.

Não te disse, mas se você beijar uma grande mulher nas águas de algum rio amazônico fará chover países em corações secos.

Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

 

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