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Fim de domingo

Ricardo Pozzo (Foto: )

Conversa no carro entre a irmã e a sua cunhada:

– E como estava a festa na Rosângela?

– Ah, não fiquei muito, não. Tomei uma cerveja e conversei um pouco. Aí chegou a polícia.

*

Numa chácara em Colônia Cristina, o amigo e a irmã conversando sobre as belezas da vida no campo. Apenas relembro Max Jacob e sua pergunta: “O campo, esse lugar onde os frangos passeiam crus?”

*

Minha avó de 78 anos pergunta quando vence a assinatura do jornal e me dá um poema que ela escreveu, o que me entristece. Não sou um bom neto.

*

Mando ao meu amor de domingo – e de outros domingos, se você quiser, minha querida – Canto de Nanã, de Dorival Caymmi.

De noite até de manhã

Ouvir cantar pra Nanã

É uma canção tão simples e deslumbrante que até fico um pouco constrangido de escolher adjetivos.

*

O São Paulo perdeu, Roger Federer venceu, Felipe Massa errou na estratégia, o vôlei feminino ficou em terceiro lugar, um brasileiro ficou sem o cinturão no Bellator, teve amistoso da NBA no Brasil, um domingo como qualquer outro – e eu continuo aqui, carregando meus anacronismos, encerrando-me em mais uma solidão.

Um dia aprenderei a solarizar a melancolia e farei meu próprio solar-self-portrait.

Durma bem.

A noite não é um intervalo entre uma tristeza e outra.

Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

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