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Não sabendo o Brasil

Ricardo Pozzo (Foto: )

Where art thou, gráfica?

Pergunto ao senhor da barraquinha de cachorro-quente onde fica a rua que preciso ir. Ele pede para que eu repita o nome. Tento não me fazer de desorientado completo.

– Sei que é perto desse viaduto aí.

– Olha… Nunca ouvi falar dessa rua, não. Tem certeza que é aqui?

– Tenho.

– Olha… O que você está procurando?

– Uma gráfica.

– Gráfica?

– É.

– Nem sabia que tinha gráfica aqui…

O menino – veja só você, tem um menino na cena –, que presumo ser neto do senhor da barraquinha de cachorro-quente, uns 17 anos, quem sabe, retorna à Terra, me fita meio atravessado e pergunta ao avô:

– Mas o que é uma gráfica?

Agradeço a atenção e saio.

Logo encontro o endereço almejado. É a continuação da rua da barraquinha. Ela apenas muda de nome após o viaduto.

Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

Não sabendo o Brasil

Não sei nada de Brasil. Apenas este ano conheci o Rio de Janeiro. Não conheço Fortaleza, Belo Horizonte, Maceió, mal sei dos estados que fazem divisa com o Paraná. Pior quando conheço um pouco da cidade e ela continua sendo estrangeira. Exemplo: Chapecó. Fiquei por três dias em Chapecó no ano passado. Não posso negar que foi uma estadia mítica e que me fiz acompanhado de uma das moças mais bonitas da vida – e das passadas, se elas, de fato, existirem. Mas não sinto conhecer Chapecó, a terra da grandiosa banda Repolho.

Dei-me conta disso de um modo comum, o futebol. Reparo que a Chapecoense, que deve subir à Série A, anda causando alguns transtornos aos adversários por conta de seu aeroporto, algo assim. Parece que as condições climáticas perturbam o planejamento das equipes de fora e forçam o cancelamento dos jogos. Ao ler a notícia do segundo jogo adiado, lembro-me de ter abstraído a cidade para um plano patagônico.

Entretanto, conheço Chapecó, andei por suas ruas, bebi em seus bares, amei mulheres por uma noite – ou duas –, mas sempre que ouço gol no Estádio Índio Condá, a cidade se esfumaça em minha memória. Chapecó é longe, incrivelmente longe.

Estou indo daqui a pouco para Manaus. Ficarei cinco dias por lá. Perdoem-me (ou agradeçam-me) se aparecer pouco por estas paragens – eis uma palavra que gosto: paragem. Também gosto de perpendicular, paradoxo e clampe –. Vou apresentar um artigo que escrevi sobre os Diários Secretos no Intercom. Cogito também ver o Rio Negro encontrar o Solimões, o Teatro Amazonas, os impressos da cidade, o Mercado Municipal.

Agora são três da manhã e estou varrendo o chão de minha casa, esta cidade de único habitante, onde faz sol de vez em quando e me condecoro rei de minhas misérias. Aqui as águas escuras sempre encontram as águas barrentas. De sua mistura, produzo as minhas crônicas. Mas não pense que sou triste, não.

É diante do silêncio de suas paredes sujas que redescubro o meu coração.

Até logo, meu irmão, minha irmã.

 

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