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Ricardo Pozzo
Ricardo Pozzo| Foto:

Resolvo ir ao bar de sempre, tomar um conhaque de três reais e ler a nova edição de O Gralha. Logo na entrada, estranho o movimento. É quinta-feira e era para ter três mesas vazias, há apenas uma. No balcão, um candidato a deputado estadual é desafiado por meia dúzia de bêbados a pagar uma rodada de cerveja. O candidato titubeia, diz que não é bem assim, os bêbados se inflamam. Está estabelecida a algazarra. Descem seis cervejas, uma é destinada à minha mesa. Nego porque não estou pra bebida gelada hoje, a garganta não está boa.

O candidato sai e os bêbados comemoram, gritam, esperneiam, alegam voto a deus e o diabo. Um mais pernóstico diz que, se um dia sair para algum cargo, também vai pagar cerveja pra todo mundo. Retorno à minha leitura de canto, mas não dá nem dois minutos e chega mais um candidato, este não sei qual cargo pleiteia. Novamente os bêbados se alvoroçam, batendo nas mesas: “Cerveja! Cerveja!”. Depois de muita luta e obstinação, o candidato assente e topa pagar duas, o que gera um certo desgosto generalizado, mas não suficientemente forte para negação da oferta. Em troca, o fotógrafo oficial faz registros dos eleitores. É pra página do candidato. Uma moça de certos atributos se preocupa porque faltando serviço, está de atestado.

Depois de 45 minutos, o candidato das duas cervejas vai embora. É quase meia-noite e acredito que não aparecerão mais políticos. De fato, não aparecem, mas chega um conhecido que sempre que me vê diz coisas constrangedoras acerca do que escrevo. Certa vez cravou que meu estilo lembrava muito o de Tolkien, o que concordei sem pestanejar, afinal, meu conhecimento de elfos é profundo e notório. Tomo o último gole de conhaque numa só talagada e resolvo ir embora.

Tchau, Dona Ana!

Ricardo Pozzo

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