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Não contei pra você a confusão que deu no fim da palestra de Mário Magalhães e Audálio Dantas sobre biografias. Após os dois arrebentarem com os argumentos pró-censura, um louco de palestra arguiu sobre o que ele considerou uma reprimenda: não poder fotografar ou gravar, no dia anterior, a palestra de Eduardo Faustini e Anas Aremeyaw Anas, dois jornalistas que operam perigosamente em suas matérias como infiltrados.

Montem o cenário: uma sala para quinze computadores e seus respectivos locatários, apinhada de gente, calor, muito calor, nervos sobressaltados, na plateia uns dez grandes jornalistas que, somados, deveriam ter uns cem prêmios de jornalismo investigativo juntos, e um sujeito atacando Eduardo Faustini.

Após o discurso inflamado do louco de palestra, um homem que se disse da organização pede a palavra, num tom bem agressivo, gesticulando por todos os flancos. Afirma que tal sujeito a reclamar da censura dos jornalistas é um doido notório, a circular polemizando pelo Congresso. Alega também que Faustini & Cia realizam um trabalho de interesse público e que aqueles que os criticam estão do lado errado da trincheira.

As pessoas começam a sair porque a palestra é dada como encerrada, para a integridade de todos, mas o clima está pesado. A discussão entre o louco de palestra e o defensor exaltado parece que acabou, porém, surge um estudante na discussão, a reclamar desta segunda intervenção e por muito, muito pouco, não dá uma briga gigante na saída, igual aos tempos de escola, quando eu apanhava dos meninos mais velhos que não gostavam das minhas cartinhas de amor direcionadas às suas irmãs. Como não lido bem com estas lembranças, resolvo me evadir do lugar sem saber como terminou a contenda.

Um dos painéis desta segunda-feira conta com Bruno Torturra, do Mídia Ninja, João Wainer, da TV Folha, e Bruno Paes, do Estadão. A mediação é de Paulo Oliveira, de A Tarde. Eles estão a falar de suas coberturas das manifestações. Como ando implicando com a autorreferencialidade excessiva do jornalismo atual, vou contar pra você o que estou lendo novamente: Pássaro Ruim, de Rodrigo Madeira. Veja se não é ótimo este trecho de Você, o oitavo poema do livro:

eu que guardo uma gaivota na traqueia

que tenho cabelos no coração

e rins de diamante

 

que saio pelas ruas, charanga de calúnias

que vadio as estrelas e o amor

que desconfio dos poderes sobrenaturais

da linguagem

e ainda assim digo, grito desesperadamente as coisas

como arrastado por um desacampamento

de ciganos, como se uma guerra

começasse por minha causa

como se um mágico tirasse moedas

de minha boca e as esferográficas guardassem

a velha herança das navalhas ruins

como se houvesse fios de alta-tensão

entre nossos corpos

Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

 

É último dia do Congresso e logo teremos que pegar estrada. 11h e o tema olímpico é Rio 2016. Fila gigante para prestigiar a mesa, que conta com Mario Andrada, José Luiz Portella, Jorge Luiz Rodrigues e Gilmar Ferreira.  Esperava-se também Juca Kfouri, mas ele não pode vir.

Mario Andrada, diretor de Comunicação do Projeto Rio 2016, está a se virar com os diversos questionamentos sobre a falta de estrutura da cidade e a preocupação cada vez maior com uma farra do boi semelhante aos Jogos Panamericanos de 2007. De novidade, a afirmação contundente e quase surreal de que não teremos um centavo de dinheiro público nas Olimpíadas locais. Alguém gravou isso?

Infelizmente, não consegui autografar meu exemplar de Holocausto Brasileiro porque uma colega pegou para ver no dia em que comprei e se aproveitou do fato de eu ter exagerado um pouco no coquetel de abertura e não lembrar direito o que fiz. Quando o redescobri, já era tarde e não havia mais Daniela Arbex por perto.

Eu queria mesmo era dizer pra ela o quanto seu livro tinha me marcado. Como não pude fazer isso pessoalmente, digo agora:

Daniela,

Escrevo para te dizer em palavras precárias o impacto que seu trabalho causou em mim, como se eu tivesse sido atropelado por todas as almas injustamente condenadas ao Hospício Colônia e sentisse meu coração redesenhado. Não posso medir o tamanho das lágrimas que me choveram enquanto vi em suas páginas o aparato de loucura que o Estado exerceu sobre estas 60 mil pessoas – tudo embaixo de nossas vísceras.

Seu trabalho é fundamental, apesar de tantos painéis a especular sobre o fim do Jornalismo ao modo como conhecemos hoje. Precisamos velar dignamente nossos mortos, avisar aos vivos que a iniquidade não pode continuar hedionda assim e demonstrar o quanto o jornalista é importante para uma sociedade mais esclarecida – o Jornalismo nunca irá acabar enquanto houver olhos como os teus, a apontar e a reluzir.

Muito obrigado por ser escritora.

Daniel Zanella

 

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