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Ricardo Pozzo
Ricardo Pozzo| Foto:

O segredo de seus olhos

São Paulo. Organizadora da festa de sábado, 2h43. Desolada.

– Olha… Eu não consigo entender como as coisas chegaram a esse ponto. Têm duas pessoas vomitadas lá na frente, outro está com a mão sangrando, uma brigou com a ex porque parece que sei lá o que aconteceu… Gente, todo mundo tem mais de vinte anos. Não dá pra admitir fazer fiasco desse jeito… Não dá… E outra coisa: eu tô com conjuntivite!

 

E nunca mais voltou

Não sei se já aconteceu contigo, mas tenho certo mal estar quando ouço uma música específica, bem específica. É do Tim Maia: Ela partiu. Também tenho isso com toda a obra de Gonçalo Tavares, que me liga a uma paixão ruim.

A amiga ao lado pergunta-me se estou bem, tem alguém querendo saber algo de Curitiba e não estou respondendo.

Não, não estou bem.

Mas já passa. Um instante só.

 

Ricardo Pozzo

Ricardo Pozzo

Tajapanema se pôs a chorar

A moça mais incrível que conheci biblicamente frequentava terreiros de umbanda. Inclusive, afirmava ter se curado de uma doença rara através de uma cirurgia espiritual. Nossos encontros eram memoráveis. Eu passava a semana inteira preparando a casa para recebê-la. Ouvíamos os Afro-sambas de Vinicius de Moraes, eu lhe mostrava alguns livros aleatórios – que a interessavam geralmente pela capa –, tomávamos algum vinho barato.

Certa vez ela se chateou comigo por conta de uma estranha visita de amigos num domingo cedo em que dormíamos o descanso de todos os deuses. Era usual por esta época eu não atender os amigos no domingo cedo. Mas eles sempre batiam insistentemente na porta para me acordar. Neste dia, um mais animado bateu na janela de meu quarto, gritando:

– Eu sei que você está aí. Acorda!

Obviamente, não me manifestei, nem eu, nem a moça.

Mas, antes de ir embora, comentou num volume talvez inadequado:

– Deve estar com uma vagabunda qualquer.

Na volta de São Paulo para Curitiba/Araucária conheci no ônibus rumo ao aeroporto um senhor chamado Wilson, morador da cidade há 27 anos. Nasceu em Ponta Porã, Mato Grosso do Sul, quase Paraguai. Digo que um dia morarei em São Paulo, que tenho um pacto carnal com São Paulo, mas, sabe, tenho uma casa no frio e gosto muito dela. Estrangeiro, menos em minha casa.

Wilson me pergunta o que quero ser. Ainda não sei.

Pergunto, depois de tanta São Paulo, o que gostaria de ver. A Amazônia.

Despeço-me de Wilson, que desce na Avenida Paulista, em frente a uma barraca de artigos religiosos. Neste momento, lembro-me de Mônica Salmaso e sua cantiga amazonense.

Até breve, São Paulo.

Estava com saudades de minha casa.

Pode bater na janela. Estou novamente infinito.

 

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