Vitrola

1. Chegamos ao bar. Segundo tempo de Argentina x Paraguai. Duas moças nos esperam, uma mais do que a outra. Na mesa em que elas bebem cerveja e uísque, também há um político da cidade, um desses senhores com ares interioranos. Pagando tudo.

2. Resolvemos, antes de iniciar a turnê etílica, jantar. Enquanto isso, Messi dá uma caneta humilhante no zagueiro paraguaio, tão humilhante que o zagueiro se embola com o volante. Fim do jantar. Sentamos-nos na mesa da moças. Começa a faltar espaço para as garrafas. Aproveitamos para celebrar uma nova rodada de doses de uísque.

3. Descobrimos que o político já teve relação sexual com um funcionário chamado Jorge, “mas era eu que comia”. Hora de partir para um Verdade ou Desafio. Estou feliz com a goleada da Argentina.

4. Sou desafiado a pedir cerveja de outra mesa. Uma das moças é testada a beijar o político. Beija-o na testa. O político, por sua vez, é intimado a urinar no poste em frente ao bar. Ele levanta, abre a braguilha, meio cambaleante, e cruza com  uma cozinheira indo embora depois do expediente, um tanto irritada. “Ai que horror, tio. Tá perdido?”

5. Pagamos um valor irrisório na divisão de custos e consideramos ainda mais sensato comprar mais duas caixas de cerveja. Vamos todos lá pra casa!

6. Chego em casa um pouco antes da caravana do bar, dou um sumiço nuns flagrantes espalhados pelos cantos e me presenteio com uma dose de conhaque. Toca Antônio Maria na vitrola.

7. Uma caixa de cerveja acima e o político, segunda dose de gin na mão, me pergunta quanto quero na vitrola e nos discos. Digo que não vendo. “E dois mil reais?” Hum… Passo a negociação para o amigo, aparentemente mais cônscio do que eu. Aproveito o ensejo para melhor estabelecer os laços entre a casa 283 e a morena de Rio Abaixinho.

8. “Ele tá querendo 1500 reais por tudo. Paga agora”. Negócio fechado. “Então, pode carregar tudo no porta-mala do carro”, diz o político. Fico sabendo que ele irá doar tudo pra Secretaria de Cultura, pois quer fomentar o setor. Fome-fome-en-tarrr… Sem querer, acabo desviando o The Wall, do Pink Floyd, e o Thriller, do Michael Jackson.

9. O político vai embora, ziguezagueando um pouco. Agora estamos em dois casais. Observo, da porta, a noite sem estrelas. A morena quer colocar silicone e diz que irá esfriar ainda mais amanhã. Apalpo um de seus seios para demonstrar o meu interesse profundo em seus projetos de vida. Ela sorri. Devolvo o sorriso, pois tenho bom coração.

10. Dizem-me agora que o político, logo após o almoço, colocou para vender os discos e a vitrola nos seus grupos do whatsapp.