

Matt Damon é um médium atormentado por seu dom de ver e ouvir os mortos.
Gosto muito do cinema do diretor e ator Clint Eastwood. Embora o considere um conservador na forma (e também, por vezes, em sua agenda política), por seguir à risca a cartilha da Hollywood clássica, ele o faz com elegância, sutileza e profundidade, sempre buscando novos ângulos em sua temática predileta: a vida americana em seus mais diversos aspectos.
Talvez por acompanhar bastante de perto a produção de Clint, é que tenha ficado um tanto perplexo diante de seu mais recente longa-metragem, o decepcionante Além da Vida.
Não é um filme ruim. Tem lá suas qualidades, como´o ótimo elenco e algumas boas sacadas do roteiro, assinado por Peter Morgan, de A Rainha. Mas confesso que me incomdou a superficialidade com que o diretor trata de um tema delicado como a possibilidade da existência de vida após a morte.
São interessantes as histórias dos três personagens centrais: uma jornalista francesa (Cécile de France), que quase morre no tsunami que atingiu o Oceano Índico em 2004; um garoto inglês que perde o irmão gêmeo num atropelamento; e um médium (Matt Damon), que considera seu dom uma maldição. Todos muito instigantes em suas fragilidades e obsessões.
O roteiro de Morgan, contudo, não dá conta de, pelo menos na minha visão, mergulhar mais fundo no tormento vivenciado pela trinca de protagonistas.
Embora a mão delicada de Clint esteja lá, faltou problematizar a profunda angústia que parece afligir os personagens, todos em busca de respostas para as dúvidas que os atormentam ou de algo que aplaque a dor que sentem. E, por lidar com um tema esotérico, o desfecho me pareceu forçado demais, quase capaz de apagar o impacto da fantástica sequência do tsunami do início da trama.
Clint ficou devendo desta vez.
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