Joan Fontaine, em 1940, e Charlotte Gainsbourg, 56 anos mais tarde, foram duas das muitas atrizes que já viveram o papel de Jane Eyre, um dos personagens mais importantes e emblemáticos da literatura inglesa do século 19, protagonista do romance que leva seu nome, escrito por Charlotte Brontë. A mais recente adaptação do livro, e uma das melhores, é estrelada pela talentosa australiana Mia Wasikowska (de Alice no País das Maravilhas) e acaba de chegar às locadoras.
A trama é, basicamente, a mesma do romance publicado em 1847. Jane, que no romance conta a própria história, é órfã de pai e mãe e vive na casa de uma tia (Sally Hawkins, de Simplesmente Feliz) que, por alguma razão, a hostiliza e humilha o tempo todo. Quando o relacionamento entre as duas se torna intolerável, Jane é expulsa de casa e enviada a uma escola, onde descobre o prazer da leitura e, aos poucos, conquista um pouco de autoestima. Depois de se formar e trabalhar por dois anos como professora, ela decide, enfim, retornar ao mundo.
Acaba sendo contratada como preceptora da jovem Adèle, a pupila de Edward Rochester (Michael Fassbender, de Shame), proprietário de uma grande residência rural no interior da Inglaterra, chamada Thornfield Hall. Arredio e misterioso, Rochester parece, em princípio, refratário à presença de Jane, mas acaba se rendendo à sua beleza tímida e a sua personalidade capaz de se impor ainda que com serenidade.
Um segredo no passado de Rochester impede que ele e Jane se unam e ela resolve fugir, se expondo a todo tipo de dificuldades, como o frio e a fome, até encontrar refúgio na casa de St John Rivers (Jamie Bell, o garoto, agora crescido, de Billy Elliot), de quem descobrirá ser aparentada e que se apaixonará por ela.
Heroína arquetípica da literatura da época, mais assertiva e potente que Catherine Earnshaw, protagonista de O Morro dos Ventos Uivantes, outro clássico do período, assinado por Emily Brontë, irmã de Charlotte, Jane se alinha mais às personagens femininas de Jane Austen, mais do início do século 19, ainda que essas sejam menos dramáticas. Mas também é uma jovem que busca escrever o próprio destino.
O que diferencia este Jane Eyre, dirigido pelo norte-americano Cary Fukunaga (do ótimo Sin Nombre), é o ótimo roteiro de Moira Buffine (de O Retorno de Tamara), que rompe a linearidade cronológica da história original, o que lhe acrescenta uma dose generosa de suspense, ainda que seja uma trama célebre, de domínio público. Outros trunfos são a bela direção de fotografia do brasileiro Adriano Goldman (de Xingu, que estreia na sexta-feira, e 360, novo filme de Fernando Meirelles), que reconstitui o clima de bruma e sombras do romance, e os figurinos de Michael O’Connor (de A Duquesa), indicados ao Oscar deste ano.
Além disso, Mia e Fassbender têm química perfeita, dando a Jane Eyre uma certa (e bem-vinda) dose de erotismo, ausente na maioria das versões anteriores.
Bolsonaro e mais 36 indiciados por suposto golpe de Estado: quais são os próximos passos do caso
Bolsonaro e aliados criticam indiciamento pela PF; esquerda pede punição por “ataques à democracia”
Deputados da base governista pressionam Lira a arquivar anistia após indiciamento de Bolsonaro
A gestão pública, um pouco menos engessada