Quem gosta de cinema de invenção, pouco acomodado com as convenções narrativas mais tradicionais, não pode perder o belíssimo Viajo Porque Preciso, Volto Porque Te amo, em cartaz desde a última sexta-feira em Curitiba.
No longa de Karim Aïnouz (Madame Satã) e Marcelo Gomes (Cinema, Aspirina e Urubus), o narrador é um geólogo recém-separado da mulher que viaja pelo interior do Nordeste para fazer um estudo encomendado pelo governo com o objetivo de levantar as condições de fazer a transposição das águas do único grande rio da região (supõe-se que seja o São Francisco).
A viagem percorre as regiões mais inóspitas do sertão, mas também alguns centros regionais. E, ao mesmo tempo em que é documental, já que muito do retratado é real, a narrativa, contada em primeira pessoa pelo geólogo, é um mergulho em sua subjetividade. Revela um homem triste, abalado pelo fracasso do casamento, carente e forçado pelo trabalho a mergulhar num solidão que o leva a uma profunda crise existencial, materializada nas imagens, ricas em significados, e na inspirada trilha sonora.
Nunca se vê o rosto do protagonista, apenas o que ele enxerga, através da lente sensível da diretora de fotografia curitibana Heloísa Passos, que revela um Brasil remoto, vivo e fascinante. Viajamos, nesse caso, porque amamos o bom cinema.
# Siga o jornalista Paulo Camargo no Twitter e fique por dentro das novidades no mundo do cinema e da cultura.
Deixe sua opinião