Nunca foi tão bom ser cinéfilo no Brasil. Se o circuito exibidor de Curitiba continua lamentável, levando meses, quando não anos, para exibir alguns títulos mais alternativos e menos comerciais, quem gosta de bons filmes pode deitar e rolar nos corredores das melhores locadoras. E não venham me dizer que por aqui só tem público para blockbusters hollywoodianos.
A nova geração pode até não dar muita bola para o fato de tantos longas-metragens importantes estarem chegando ao mercado nacional, mas, acreditem, isso é algo libertador, quase miraculoso, para alguém da minha geração.
Nos meus 20 anos, lá pela metade da década de 80, vivia-se a angústia de ler sobre a nouvelle vague, o expressionismo alemão, o realismo poético francês (de Jean Renoir), o film noir, o cinema marginal norte-americano dos anos 70, entre outros movimentos e gêneros, sem poder assistir aos filmes. Tínhamos de nos contentar com livros e artigos em revistas especializadas, nacionais e estrangeiras. Além de rezar aos céus para que a Cinemateca do Museu Guido Viaro conseguisse alguma mostra que nos tirasse das trevas,o que, felizmente, acontecia com certa regularidade.
Hoje em dia muito do melhor já produzido pelo cinema mundial está, pouco a pouco, sendo lançado no mercado nacional por corajosas empresas que ainda acreditam na produção autoral. A distribuidora Versátil merece um prêmio pelo que vem fazendo pela “nossa” causa, a dos amantes da sétima arte. Está resgatando as obras de Bergman a Visconti, passando por Truffaut, Antonioni e outros diretores importantes, sobretudo europeus. Podia agora partir para cinematografias mais periféricas, como a latino-americana.
Também vale um Oscar, uma Palma de Ouro, o trabalho da Europa Filmes, responsável pelo lançamento de coleções de cineastas essenciais ao entendimento do cinema feito na segunda metade do século 20, como Wim Wenders, Eric Rohmer e Carlos Saura. Sem falar no forte investimento no cinema asiático contemporâneo.
Diante desse cenário, até dá para ser feliz. É bem verdade que é sempre melhor ver cinema na tela grande, mas diante do deserto árido e desolador que é o nosso circuito curitibano, trata-se de uma bóia salva-vidas e tanto. O negócio é aproveitar.