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O abismo entre Cidade dos Homens e Paranóia

É quase impossível não comparar o impactante drama urbano brasileiro Cidade dos Homens ao thriller hitchcockiano Paranóia. Os dois longas-metragens, que entraram em cartaz na última sexta-feira, lidam, cada um a sua maneira, com as dores de adentrar a vida adulta. E com as conseqüências dos erros cometidos.

Curiosamente, tanto um quanto o outro falam de paternidade. Enquanto no filme nacional Laranjinha (Darlan Cunha) procura o pai que nunca conheceu e Acerola (Douglas Silva) tenta assumir o filho que aconteceu na sua vida como um acidente, o protagonista de Paranóia, Hale (Shia LaBeouf), entra em crise depois que o pai morre em acidente automobilístico. O garoto estava dirigindo o carro e se sente culpado. Com a perda, sai do rumo e perde o interesse por tudo.

A dupla de Cidade dos Homens, pobre e favelada, vive cercada de crime, morte e violência por todos os lados. Os personagens, embora ligeiramente safos, tentam se manter limpos, idôneos. Mantêm distância do tráfico e de seus tentáculos, que a todo momento invadem suas vidas, como que tentando arrastá-los para a marginalidade.

Kale, em Paranóia, vira “criminoso” por causa de um soco na cara do professor de Espanhol, que o tira do sério quando lhe pergunta o que seu pai pensaria se soubesse que está indo mal na escola. Por causa da agressão, o rapaz é julgado e condenado à prisão domiciliar, monitorado por um dispositivo preso a sua perna, que dispara e aciona a polícia se der um passo além de um limite de 20 metros ao redor de sua casa.

Como não pode sair, Kale tem de se contentar como um arsenal eletroeletrônico de última geração: TV de plasma conectada a mil e um canais, DVD digital, internet turbo, celulares, MP3 e o escambau.

Laranjinha e Acerola não têm nada disso, talvez um celular de cartão. E a polícia, quando aparece, é para atirar – ou cobrar propina. Nunca para garantir a segurança da comunidade.

Embora Cidade dos Homens seja um drama realista e Paranóia uma obra de entretenimento, é inevitável constatar como o Estado se comporta nos dois filmes.

No Brasil, deixa milhões de crianças e adolescentes ao Deus dará, sujeitos ao próprio destino, mergulhados no buraco de indigência onde estão sepultados vivos. Nos EUA, um pequeno delito de proporções quase domésticas conduz a uma punição exemplar, quase exagerada.

Dois mundos muito distantes.

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