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Todos os anos um ou mais filmes de baixo orçamento, despretensiosos e aparentemente saídos do nada, transformam-se em acontecimentos cinematográficos mundiais. Distrito 9, que estreia hoje no Brasil, é um desses casos: custou US$ 30 milhões e já arrecadou seis vezes esse valor. Com produção de Peter Jackson (da trilogia O Senhor dos Anéis), o filme é uma ficção científica que tem tudo a ver com tempos inseguros de terrorismo, aquecimento global e gripe suína.

O longa marca a impressionante estreia na direção de Neill Blomkamp, que transforma sua terra natal, a África do Sul, sede da próxima Copa do Mundo, no país escolhido como exílio por refugiados “climáticos e biológicos” de outro planeta. A razão que os traz à Terra (ou ao continente africano) nunca é bem explicada, mas isso pouco importa: o filme fala muito mais dos humanos do que dos alienígenas.

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Comparado por críticos norte-americanos a clássicos da ficção científica, como Alien: O Oitavo Passageiro e Vampiros de Almas, Distrito 9 tem diversos méritos. Entre seus trunfos formais, a narrativa tensa e surpreendente, em tom documental, com câmera na mão e fotografia granulada, digital, reforça o tom urgente da trama. E o elenco, formado por atores desconhecidos, também reforça a sensação de estarmos assistindo a uma versão século 21 do episódio Guerra dos Mundos, no qual um jovem Orson Welles leu o clássico de H. G. Wells no rádio com se fosse fato, causando histeria nos EUA. Só que mais gráfica e violenta.

Distrito 9 também acerta no conteúdo. A história tem início quando, depois de quase 30 anos de presença na Terra, o governo da África do Sul resolve transferir, para o interior do país, os extraterrestres, hoje confinados num gueto na periferia de Johannesburgo. Quer varrê-los para baixo do tapete, já que, a partir de sua instalação, proliferou a violência e o tráfico de comida e de armas. E há a suspeita de que esteja fermentando uma insurreição entre os alienígenas, chamados de “camarões” por sua aparência semelhante à dos crustáceos.

Muito similar às regiões mais pobres de Soweto, subúrbio habitado pela população negra em Johannesburgo, o Distrito 9 do filme faz dos ETs as vítimas de uma nova versão de apartheid. São os pretos pobres e sem direitos da vez. Nada mais contemporâneo.