A grande estréia do último fim de semana nos cinemas foi o charmoso, porém algo repetitivo e já formulaico Treze Homens e Um Novo Segredo. Quem gostou dos dois primeiros episódios da série dirigida por Steven Soderbergh, vai até se divertir com esta terceira aventura, sobretudo se estiver apenas em busca de diversão. Mas, ao pisar fora do cinema, já vai ter esquecido sua trama mirabolante, que funciona bem na telas, ao longo da projeção, mas não tem qualquer ressonância na cabeça do espectador.
A melhor novidade no circuito é mesmo O Despertar de uma Paixão, ótima adaptação do romance O Véu Pintado, do autor britânico Somerset Maughan. Dirigido pelo australiano John Curran, que já havia surpreendido com o drama Tentação, o filme tem como personagem central Kitty (Naomi Watts, excelente), uma jovem da alta burguesia londrina dos anos 20 que, sob a ameaça de ver sua irmã mais nova se casar antes dela e sucumbindo à pressão dos pais para que tome um rumo na vida, casa-se sem amor com Walter (Edward Norton, também brilhante), um médico bacteriologista radicado em Xangai, na China, às vésperas do levante nacionalista contra a presença inglesa no país.
Apesar de Walter estar apaixonado por Kitty, ela vê o matrimônio como uma união de conveniência e logo arranja um amante, o vice-cônsul britânico na cidade chinesa (Liev Schreiber). Quando o médico descobre a traição, resolve vingar-se em grande estilo: força a mulher a acompanhá-lo a um vilarejo inóspito no interior do país, onde o cólera está dizimando a população. Nada garante que os dois sairão de lá vivos.
Dirigido com extrema elegância por Curran, O Despertar de uma Paixão mostra como uma relação que nasce da impessoalidade pode transformar-se quando experiências viscerais são partilhadas pelos envolvidos. No caso de Kitty, o confronto com questões alheias à sua existência de frivolidades a faz repensar a razão de sua própria existência – e descobrir em Walter um homem que não havia percebido até então.
Vale ressaltar, ainda, a belíssima trilha sonora, premiada com o Globo de Ouro, do francês Alexandre Desplat, que conta como solos do pianista chinês Lang Lang, um dos astros da música erudita da atualidade. Quem gosta de bom cinema, não pode perder o filme.
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