Direito de Amar, filme de estreia do estilista de moda norte-americano Tom Ford, é visualmente impecável. E isso nem sempre é uma qualidade, um trunfo. Ao buscar “o belo” nos enquadramentos e movimentos de câmera, no casamento entre imagens e trilha sonora, nos figurinos e na direção de arte, o neodiretor por vezes desvia a atenção do espectador da enorme intensidade dramática da história que conta. Felizmente, esse excesso de estetização é minimizado frente a outros (e grandes) méritos da produção.
O ator britânico Colin Firth (de Simplesmente Amor), em desempenho indicado ao Oscar e premiado pelo Bafta e pelo Festival de Veneza, arrasa em um papel muito difícil. Ele é George, um professor universitário inglês, radicado na Los Angeles do início da década de 60, que perde seu companheiro, o arquiteto Jim (Mathew Goode, de Match Point), com quem estava há 16 anos, num acidente de carro. A tragédia lhe tira o chão: acordar e levantar-se da cama todos os dias vira uma tortura; o simples ato de respirar é doloroso.
Diante do imenso vazio deixado pela morte de Jim, George decide se matar.
Perfeccionista e meticuloso, ele planeja tudo nos mínimos detalhes, mas a vida insiste, por meio de intervenções externas e simbólicas, em dissuadi-lo. Charlie (Julianne Moore), a melhor amiga e ex-namorada de adolescência, tenta, sem muito êxito, tirá-lo da depressão. Um aluno, o inquieto e arrebatado Kenny (Nicholas Hoult), parece lhe devotar um inesperado afeto que pode representar uma boia salva-vidas. O poço de tristeza em que George está mergulhado, entretanto, é profundo e escuro.
Por vezes hipnótico e sempre lindo de olhar, Direito de Amar anuncia o surgimento de um diretor talentoso. Disso não há dúvidas. Menos por seu relativo maneirismo formal, provavelmente resultado da exposição do estilista a referências que vão de Pedro Almodóvar (Tudo sobre Minha Mãe) e Wong Kar Wai (Amor à Flor da Pele), passando por Terence Davies (Vozes Distantes). E bem mais em decorrência de suas habilidades de dirigir atores (as atuações de Firth e Julianne são brilhantes) e transpor com grande impacto emocional a história do escritor britânico Christopher Isherwood, também autor da obra que originou o musical Cabaré..
Quando se libertar da obrigação de buscar a beleza em cada frame e permitir que a imperfeição também encontre seu lugar na tela, Ford dará um passo importante para se tornar um grande diretor. Mas já fez de Direito de Amar uma estreia memorável.
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