O Procurado, que estréia hoje nos cinemas, tem uma trama que beira o absurdo e, se você for aquele tipo de espectador que busca realismo e coerência em absolutamente tudo que vê, nem se arrisque a conferir o filme. Vai se revoltar e regurgitar a pipoca. Dito isso, vamos ao que interessa: o espetáculo audiovisual incomum proporcionado pelo longa-metragem.
Tente imaginar uma trama na qual é possível enxergar a trajetória de um projétil a olho nu, na qual existam atiradores tão fantásticos e talentosos que possam disparar um tiro em curva. Ou perseguições de carros que parecem saídas de uma produção de ficção científica à la Blade Runner e não de um filme de ação. Pois, isso é O Procurado. Gostou? Então, corra para o cinema e divirta-se.
Retirado do universo imaginário das histórias em quadrinhos, o longa é assinado pelo russo Timur Bekmambetov, revelado por Guardiões da Noite, campeão de bilheterias no país de Tolstói, assim como sua seqüência. O enredo em torno do qual O Procurado é construído não passa de uma grande bobagem: existiria no mundo uma confraria de assassinos que remonta à Idade Média. Elimina pessoas em nome da manutenção de um certo equilíbrio social. Trata-se de um “privilégio” hereditário, como nas antigas corporações de ofício, no caso, de tecelões oriundos da Europa Oriental. Por conta desse fardo, digamos, genético, o tímido Wesley Gibson (o excelente James McAvoy, de Desejo e Reparação), funcionário de uma empresa burocrática e genérica, vê sua vida se transformar da noite para o dia. Um perdedor por vocação, ele descobre ser “o cara” ao ser informado que é filho de um desses superassassinos, morto por uma dissidência da confraria.
Para se preparar para sua “nova vida”, contudo, ele precisa receber treinamento de uma poderosa matadora (Angelina Jolie, perfeita no papel), comandada pelo todo-poderoso Sloan (Morgan Freeman, em mais um papel de “ser superior”). Wesley recebe uma missão, mas, no meio do caminho, percebe que pode estar sendo manipulado. Ou não.
McAvoy encarna com desenvoltura um herói dentro da tendência inaugurada pela Trilogia Bourne, estrelada por Matt Damon: é frágil, inseguro, pouco atlético, mas, no fundo, dotado de coragem e considerável senso ético. Mas está longe de ser perfeito. O desempenho do ator escocês empresta alguma dignidade a um filme-pipoca acima da média, apesar da banalidade de seu enredo.
O Procurado, é preciso admitir, tem senso visual apurado, humor e nunca se torna cansativo. Bekmambetov acerta a mão, e dentro do que se propõe, oferece inovação na sua proposta de estetização da violência. Não é pouco.