O velho slogan do Circuito Luiz Severiano Ribeiro, dos mais tradicionais no mercado de exibição brasileiro, dizia: o cinema é a melhor diversão. Uma afirmação tendenciosa, não há como negar, mas não de todo distante da realidade. Há filmes, contudo, que fazem com que o espectador reveja seus conceitos e passe a pensar duas, três vezes, antes de comprar um ingresso. Esse é o caso de Par Perfeito.
A premissa, se não é original, intriga. Katherine Heigl (da série Grey’s Anatomy), atual rainha das comédias românticas, é Jen, uma mulher que apesar de bem crescidinha, alimenta sonhos românticos de encontrar um príncipe encantado. E sempre sob o olhar atento e vigilante do pai, um ex-fuzileiro naval vivido por Tom Selleck, o eterno Magnum, que é uma fera.
Depois de amargar uma desilusão amorosa, Jen viaja à França com os pais e, em Nice, na ensolarada Côte d’Azur, conhece Spencer (Ashton Kutcher, de That 70s Show). Ele tem cara e porte de homem perfeito, mas esconde um segredo cabeludo: é um assassino profissional a serviço de uma agência governamental. O rapaz vê na moça – linda, loira e cheia de virtudes – a possibilidade de recomeçar sua vida, abandonando de vez o ofício de matador.
Depois de três anos de felicidade conjugal, no entanto, o passado obscuro de Spencer ressurge para assombrá-lo. Sua cabeça está a prêmio e literalmente qualquer um pode querer assassiná-lo em troca da recompensa.
A comédia romântica é um gênero fundamental da cinematografia norte-americana, responsável por clássicos que vão de Aconteceu Naquela Noite (1934), de Frank Capra, a Noivo Neurótico, Noiva Nervosa (1977), dirigido por Woody Allen. Talvez por isso Par Perfeito seja tão insultante. Em momento algum faz justiça ao legado de sutileza e inteligência que essa linhagem fílmica traz no seu DNA.
O longa de Robert Luketic (de Legalmente Loira), embora tenha uma premissa interessante, que o aproxima de Mr. & Mrs. Smith, é infinitamente inferior à história de terror conjugal entre os espiões vividos por Brad Pitt e Angelina Jolie. E, como comédia romântica, não consegue sair jamais do lugar. O roteiro frouxo, as situações inverossímeis, o romantismo formulaico e o humor negro que nunca chega lá fazem de Par Perfeito um sério candidato ao prêmio de bomba do ano.
Se Katherine Heigl quiser mesmo se tornar uma sucessora de Meg Ryan, Julia Roberts e Jennifer Aniston como a nova namoradinha da América, precisa começar a escolher melhor os filmes que faz. Ou pedir de volta seu emprego em Grey’s Anatomy, que ela está deixando na sétima temporada.
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