Tropa de Elite 2 é um filme político. Lançado a três semanas do segundo turno da eleição presidencial, o longa-metragem de José Padilha veio bem a calhar. Talvez coloque o tema segurança (e corrupção) na agenda dos candidatos. Afinal, atraiu 1,25 milhão de espectadores aos cinemas brasileiros no primeiro fim de semana de exibição, recorde da Retomada.
Vi o filme em uma sessão lotada no Unibanco Arteplex Crystal. Ao término da projeção, o público aplaudiu. Se houve quem tenha tachado de facista o primeiro episódio, confundindo o discurso violento e moralizante do capitão Nascimento com o do próprio filme, crítica que tem algum fundamento, agora são outros 500.
O ótimo roteiro de Bráulio Mantovani e de Padilha deixa claro que a violência no Rio de Janeiro, supostamente emanada das favelas, também tem suas raízes fora dos limites das comunidades. Não é tudo culpa do tráfico.
A Polícia Militar, segundo o filme, é corrupta e muitos dos seus integrantes gerenciam as milícias que tomam conta dos morros enquanto a ação dos traficantes é reprimida pelo Bope, esquadrão de elite da PM.
Em troca de proteção, as comunidades pagam caro aos policiais que controlam tudo: gato de tevê a cabo, venda de botijões de gás, empréstimos a aposentados. E essas milícias, também numa negociação revoltante, garantem aos políticos os valiosos votos em cadeia na comunidade. Uma mão vai lavando a outra numa engrenagem corrupta que chega ao Congresso Nacional. Na origem do processo, entretanto, está a ignorância, a miséria, a ausência do estado onde interessa: educação, saúde e habitação.
Sob a direção vigorosa de Padilha, o roteiro, que por vezes se torna talvez um pouco didático demais, flui na tela como os melhores dramas policiais de Martin Scorsese. E a eles deixa pouco a dever. O cineasta brasileiro, assim como Fernando Meirelles, é um hábil contador de histórias com muito talento para construir narrativas por meio de imagens.
Nem sempre gosto da narração em off de Nascimento, que acaba direcionando a recepção do espectador num direção apenas, mas isso não chega a ser um defeito.
Em relação ao Tropa de Elite original, há vários avanços. A história é mais bem contada, os personagens são mais complexos e a violência, atenuada, surge de forma menos gráfica e sempre pertinente.
Gostei muito da inserção do personagem Fraga (Irandhir Santos,ótimo), historiador e militante dos direitos humanos que se torna deputado e é uma espécie de antítese de Nascimento (Wagner Moura, excelente), de quem se torna aparente rival. Sem ceder à tentação do maniqueísmo, o roteiro problematiza essa relação e o resultado surpreende. Filmão.