Adaptar um grande best seller para o cinema pode ser um negócio arriscado. E é sempre uma faca de dois gumes. Se, por um lado, os leitores da obra compõem um público potencial quase certo, essas mesmas pessoas podem ser as primeiras a disseminar a ideia de que o filme não faz justiça ao material que lhe deu origem. Esse, com certeza, não será o caso de Os Homens Que Não Amavam as Mulheres, transposição do primeiro volune da trilogia Millenium, do escritor sueco Stieg Larsson (1954-2004), em cartaz desde sexta-feira em Curitiba
A trama desse primeiro filme, que poderá ganhar versão em Hollywood pelas mãos de David Fincher (de O Curioso Caso de Benjamin Button), gira em torno de um enigma. Em 1966, Harriet Vanger, jovem herdeira de um império industrial, some sem deixar vestígios numa cidadezinha insular na Suécia. No dia de seu sumiço, fechara-se o acesso à ilha onde ela e diversos integrantes de sua extensa família se encontravam. Desde então, a cada ano, Henrik Vanger, o velho patriarca do clã, recebe uma flor emoldurada – o mesmo presente que Harriet lhe dava até desaparecer. Henrik está convencido de que ela foi assassinada por um dos seus parentes.
O grande acerto tanto do livro quanto do filme é, apesar do intrigante e extremamente bem armado enredo que os mantém de pé, essa história, esse mistério, não ser o eixo principal da trilogia. É apenas um das histórias envolvendo dois personagens fascinantes: Mikael Blomkvist, um jornalista investigativo e cofundador da revista Millenium, dedicada principalmente a desmascarar escândalos nas altas finanças suecas; e Lisbeth Salander, uma jovem hacker com a vida cheia de mistérios e o rosto coberto de piercings. Eles são vivivos, respectivamente, pelos ótimos Michael Nyqvist e Noomi Rapace, que já rodaram as outras duas partes da trilogia, A Menina Que Brincava com Fogo e A Rainha do Castelo de Ar.
Dirigido com vigor pelo dinamarquês Niels Arden Oplev, que opta por ser fiel ao livro sem abrir mão de fazer cinema de qualidade, Os Homens Que Não Gostavam das Mulheres é uma surpresa. Faz justiça ao romance, injeta uma bem-vinda dose de realismo europeu a um gênero muito explorado pelo cinema americano, por vezes cheio de pudores, e cria expectativa para os outros dois capítulos da trilogia.
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